Técnica com hemoderivados ajuda na recuperação de cirurgia dentária

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Na minha saga para reverter os efeitos da displicência com minha saúde bucal durante a pandemia, fiz uma cirurgia onde foi usada uma técnica com hemoderivados do meu sangue para ajudar na cicatrização

Telma Elorza

O LONDRINENSE

Na última quarta-feira (15) fui ao consultório do José Norberto Garcia Nesello, da Inplancare, com a certeza que iria estragar meu feriado de Corpus Christi. A gente havia marcado a cirurgia de extração das raízes de um dos dentes quebrados (que de dente não tinha sobrado quase nada) para a segunda (13), mas com a forte reação que tive das vacinas contra covid e gripe, o Norberto preferiu esperar melhorar para que não caísse ainda mais minha imunidade. Pensei cá com meus botões: “vou passar o feriado com dor e gosto de sangue na boca, que delícia (sqn)!”. Mas o Norberto tinha umas surpresinhas para mim na manga.

A extração foi a primeira grande intervenção na minha boca. As primeiras consultas foram dedicadas a profilaxia (leia aqui) e diagnóstico (leia aqui, aqui e aqui). Mas a hora de botar a mão na massa chegou mais rápido porque as raízes do dente estavam infeccionadas, o que vinha me causando um certo desconforto e o Norberto não quis esperar mais. A infecção tinha que ser tratada rapidamente. Ele já havia me passado antibióticos, mas a solução definitiva era tirar essas raízes, pois eram a causa do problema. E, para isso, ele quis tirar meu sangue. Opa, pera lá? O que? Como assim, tirar sangue do meu braço para usar na cirurgia?

Todos paramentados para a cirurgia. Detalhe para a fita crepe no rosto do Norberto para evitar que os óculos escorreguem – Foto: Inplancare

 Sim, o dentista chamou uma enfermeira (enfermeira terceirizada, que foi especialmente ao consultório só para isso) para colher seis tubetes de sangue do meu braço (a quantidade de tubetes depende da necessidade terapêutica). Esse sangue passou por um processamento em uma centrífuga com tempo e velocidade que obedecem a um protocolo específico, sedimentando as hemácias (parte vermelha) e separando o plasma e as células de defesa e coagulação, leucócitos e plaquetas, entre elas. Deu origem então, a um hemoderivado chamado L-PRF, uma sigla em inglês para fibrina rica em leucócitos e plaquetas. Uma gosminha (veja a foto, não parece uma larvinha?) que, depois, ele colocaria no buraco deixado pelas raízes extraídas. Ele me explicou o porquê do uso desse hemoderivado.

O hemoderivado chamado L-PRF, produzido a partir do meu sangue – Foto: Inplancare

Segundo Norberto, o sangue tem células de defesa e promove um processo de aceleração de cicatrização através de formação precoce do coágulo. “Essa coagulação acelerada minimiza os danos nocivos que as bactérias, que a gente tem na boca e no próprio local da extração, podem causar. Caso as bactérias encontrem uma facilidade no local onde se extraiu o dente, por exemplo, pode iniciar ou complicar uma infecção. Tomando medicação preventiva ou terapêutica, como foi o caso, podemos deixá-la mais limitada ao local e prevenimos o aumento da bacteremia para que, quando se realize a cirurgia, não se espalhe para outras áreas do corpo, como coração ou outros locais. A mais grave dessas possibilidades é a endocardite bacteriana, que causa até infarto. Por este motivo, realizamos o processo preventivo”, explica.

Como minhas raízes já estavam com infecção com características avançadas, já levando parte da estrutura dentária e com comprometimento gengival e ósseo, meu corpo entendia isso como algo que já não fazia parte dele e estava agredindo minha boca. “Com o protocolo de Choukroun, no qual baseamos a técnica, a gente consegue separar aquele material que é interessante para cicatrização. Ali tem um monte de célula de defesa e tem a potencialização da coagulação”, explica. O procedimento é especialmente indicado para pacientes com o risco aumentado, como o imunodeprimido, hipertenso, diabético (meu caso) e, principalmente os não compensados (pacientes com essas doenças, mas que não estão medicados e nem fazem o controle). “Todo cuidado a mais que se emprega num procedimento é atenção, respeito. Se a gente tem a capacidade e material para isso, passou a ser mais que respeito e atenção, passou a ser obrigatório. A partir do momento que cuida antes, não precisa ficar justificando depois”, diz. Quando se usa um hemoderivado na cirurgia, ele diz que fecha mais rápido e “todo processo cicatricial é mais protegido e ágil num período mais crítico”.

O custo não é alto pelo benefício que traz. Norberto e seus sócios trabalham com a técnica, chamada Preservação Alveolar com Hemoderivados, há cinco anos e com uma frequência razoável, pensando na preservação máxima da estrutura que vai ficar. “Não é um processo novo, mas no meio odontológico é um pouco mais recente. Os dentistas normalmente não usam porque, primeiro, desconhecem a técnica e a sua efetividade e, segundo por se tratar de um investimento a mais, pois o custo tem que ser repassado. Além disso, tem gente que pensa que não faz diferença em resultado. O nosso feedback tem sido muito bom. Os tecidos moles cicatrizam de uma forma mais protegida”, diz.

Bom, sobre a cirurgia em si, foi dentro do esperado. O que eu não esperava era não sentir dor nem na picada da agulha do anestésico. Isso me surpreendeu, porque nunca havia deixado de sentir dor quando a anestesia era no palato, mais conhecido como céu da boca. Ali dói pra caramba, menos desta vez. Isso se deve à técnica que o Norberto usa: ele “vibra” a região da gengiva, massageando o local, na hora de aplicar a agulha, o que diminui o impacto da dor. E leva cerca de 10 minutos para aplicar o anestésico num sistema de gotejamento. O resultado? Zero dor. Veja um videozinho aqui.

Também não tive meus costumeiros sangramentos anteriores, em outros consultórios dentários. Ele me disse que isso se deve à escolha do anestésico, com componentes vasoconstritores temporários e um método de cirurgia menos invasiva, que trabalha especificamente no local, reduzindo a agressão e o sangramento. “Preservei ao máximo os tecidos, para evitar os sangramentos desnecessários”, explica. E, depois de introduzida a fibrina, ele ainda fez pontos caprichados, uma espécie de “chuleado” (quem já remendou um tecido sabe o que é isso), para proteger mais, deixando a finalização voltada para o lado da gengiva. “Isso evita que a língua, que é uma xereta, vá constantemente ao local”, diz.

Escrevi essa matéria cerca de 48 horas depois da cirurgia. E, tirando uma dor forte quando passou o efeito da anestesia, controlada com dipirona, não tive mais nenhum problema. Nem o gosto de sangue na boca, tão comum depois de um procedimento desse porte. Houve uma dorzinha discreta, mais parecida com um latejamento nos dois primeiros dias, e só. Agora é voltar, 10 dias depois da cirurgia, para tirar os pontos e ver quais serão os próximos passos.

Foto: Inplancare

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