Vaticano: o perigo do retorno ao conservadorismo

VATICAN-NEWS

Por Telma Elorza

O mundo católico está à beira de uma encruzilhada com a iminente sucessão do Papa Francisco. Um pontífice que se destacou por sua postura progressista, Francisco não apenas desafiou as tradições arraigadas e conservadorismo da Igreja, mas também se posicionou como um defensor incansável dos marginalizados e oprimidos. Sua abordagem compassiva e inclusiva, contrastando com a rigidez conservadora do passado, trouxe esperança para muitos que ansiavam por uma liderança religiosa mais alinhada com os tempos modernos, que construiu pontes em vez de muros. Inclusive com outras religiões. “Deus escolhe pessoas boas em todas as religiões”, disse uma vez. Eu, que nem sou católica, sempre aplaudi Francisco de pé.

Francisco, desde o início de seu pontificado, foi um farol de mudança. Ele não apenas proclamou uma Igreja dos pobres, mas também agiu, desafiando as estruturas de poder que perpetuam a desigualdade econômica e social. Sua mensagem de misericórdia e compreensão para com os homossexuais, tão longamente marginalizados pela hierarquia eclesiástica, foi um alento para aqueles que buscavam reconciliar sua fé com sua identidade.

No entanto, à medida que nos aproximamos do conclave que elegerá seu sucessor, paira sobre nós uma sombra de preocupação. O legado de Francisco, construído com base na justiça social e na inclusão, está agora ameaçado pela possibilidade real de um retorno ao conservadorismo inflexível. Os conservadores, que muitas vezes viram suas ideias desafiadas e suas prerrogativas contestadas sob Francisco, veem agora uma oportunidade de reverter o curso.

É inegável que o Papa Francisco enfrentou resistência significativa de dentro da própria Igreja. Seus esforços para reformar as estruturas antiquadas e promover um diálogo mais aberto sobre questões morais e sociais foram recebidos com hostilidade por uma facção ultraconservadora. Esses mesmos que expressaram abertamente desdém pelo amor de Francisco aos marginalizados – que o chamaram de comunista e que, alguns, desejeram sua morte – , agora vislumbram a chance de retomar o controle do Vaticano.

Há um risco real de retrocesso na Igreja Católica com a sucessão do Papa Francisco, que foi um líder progressista, defensor dos pobres e inclusivo com os LGBTQ+, o que gerou forte oposição do conservadorismo mundial. Agora, com a possibilidade de eleição de um Papa conservador, teme-se a reversão dessas conquistas.
Fotos: Vatican News

Conservadorismo com repercussões globais

Em um mundo cada vez mais polarizado pelo conservadorismo e pela ascensão da extrema direita, uma mudança de liderança no Vaticano poderia ter repercussões globais. A influência moral da Santa Sé transcende os limites da fé católica, impactando debates importantíssimos sobre direitos humanos, justiça social, ecologia e moralidade global. Um retorno a uma liderança mais conservadora no Vaticano não apenas representaria um retrocesso para os progressos alcançados sob Francisco, mas também poderia legitimar agendas que marginalizam ainda mais os vulneráveis.

A eleição de um Papa conservador não se limitaria a uma questão de doutrina interna. Ela teria implicações profundas e tangíveis para milhões de pessoas ao redor do mundo que olham para o Vaticano em busca de orientação moral e espiritual. Em um momento em que os direitos LGBTQ+ são frequentemente atacados e os movimentos populistas de direita ganham terreno, a escolha do próximo Papa pode moldar o curso dos próximos anos.

Portanto, é fundamental que os cardeais eleitores considerem não apenas a continuidade institucional, mas também o impacto global de sua escolha. A sucessão do Papa Francisco não é apenas uma questão interna da Igreja Católica; é um teste de sua capacidade de se adaptar aos desafios contemporâneos com compaixão e sabedoria. O mundo está observando, e a escolha do próximo pontífice não pode ser subestimada em seu significado e consequências.

Enquanto esperamos o conclave, devemos lembrar que as decisões tomadas no Vaticano reverberam muito além das muralhas do Vaticano. O legado de Francisco está em jogo, assim como o futuro de uma Igreja que pode ser uma força positiva para a justiça e a paz mundial. Retroceder agora seria não apenas um golpe para o progresso, mas também um desafio para a promessa de um mundo mais justo e inclusivo que Francisco tão apaixonadamente defendeu.

LEIA TAMBÉM – Papa Francisco: legado de humildade, defesa dos pobres, promoção da paz e cuidado com a Casa Comum

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