Por Vander Cardoso
Já ouvi algumas vezes a expressão “não faço seguro porque os preços são altos!”. Também já li que os preços dos seguros são altos porque há muita gente sem seguro entre aqueles que poderiam contratar uma apólice. Dito assim, essa conversa parece a história do biscoito: “vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”. Na verdade, as duas formas são verdadeiras, ou seja, tanto os preços dos seguros poderiam ser mais baixos como mais pessoas poderiam e, talvez, deveriam contratar seguros.
Vamos lá. O principal precificador das apólices de seguro é o risco. Risco, em seguros, é um evento futuro e incerto, cuja ocorrência não depende exclusivamente da vontade das partes. Assim, quanto maior a probabilidade da ocorrência daquilo que se teme, maior será o preço do seguro. E aqui temos duas coisas importantíssimas: no Brasil, infelizmente, vivemos a cultura da violência. Roubos, furtos, assassinatos, fraudes são exemplos de palavras que ouvimos diariamente nos nossos telejornais. Se comparamos com outros países mais desenvolvidos, vemos que nossos índices de criminalidade são maiores. Lá, os seguros são mais baratos. O crime atrapalha o mercado segurador, elevando seus preços. É ruim para as seguradoras que pagam mais sinistros, reduzindo seus lucros, e é ruim para quem precisa contratar um seguro e encontra preços elevados.
O outro ponto importante é que, enquanto a massa segurada é pequena quando comparada ao universo de potenciais segurados, o cálculo das taxas dos seguros (preço) precisa embutir uma margem de segurança, explicada pela lei dos grandes números. A lei dos grandes números pertence à teoria da probabilidade e diz que, se repetirmos muitas vezes o mesmo experimento, a frequência de um determinado evento acontecer tende a ser uma constante. Resumindo, quanto maior o grupo de segurados entre todos os possíveis, mais preciso será o número de ocorrências de sinistro ante o cálculo probabilístico e, portanto, menor a margem de segurança embutida nas taxas, refletindo em preços menores nos seguros.
Ainda na esteira da justiça dos preços das apólices, temos a ação das seguradoras em alguns de seus produtos. Como exemplo, nos seguros de automóvel, temos a aplicação de taxas diferentes entre segurados, de acordo com o risco pessoal que cada um representa. Aqui, o perfil de cada um, determinado por questões simples como idade, estado civil ou forma como usa o veículo, individualizam taxas que ajustam os preços. Esta é uma forma inteligente de cobrar mais de quem mais prejudica o grupo e de cobrar menos de quem mais colabora financeiramente com o grupo. Portanto, trata-se de uma estratégia que, por premiar os bons, tende a conquistar e reter os que sustentam o mercado. Entretanto, é necessário destacar outro importante benefício para todos, contratantes e não contratantes, a preservação do patrimônio. É importante porque garante a manutenção daquilo já conquistado, caso determinadas fatalidades aconteçam. Não descer degraus no volume patrimonial significa, nestes casos, maior disponibilidade de renda para novos investimentos, que, por consequência, alimentam o círculo virtuoso da economia.
Como visto, é importante trabalharmos naquilo que reflete em benefício de todos. Assim, fomentando o mercado de seguros, ainda que com comportamentos racionais egoístas, que temos sempre que olhamos para nossos próprios bens e buscamos preservá-los ao comprarmos uma apólice, estaremos contribuindo para o bem comum. E aí, você já fez seu seguro?
Vander Cardoso


Formado em Administração pela UEL e em Economia e Contabilidade pela Unopar. Pós graduado em Marketing, tem MBA em Estratégia Empresarial pela USP. Atua no ramo de seguros desde 1990, tendo sido gerente comercial em várias seguradoras, nacionais e multinacionais. Atualmente é professor universitário e sócio-administrador da Max Line Corretora de Seguros. Fone (43) 3027-2707, cel (43) 999573708. Site: www.maxlineseguros.com.br. Instagram @maxlineseguros