Na semana passada, rolaram os desfiles da temporada de alta costura. Entre as grifes tradicionais, alguns nomes novos desfilaram suas coleções pela primeira vez – e apesar de serem “iniciantes”, eles já são apontados por muitos como o futuro da alta costura, como estilistas realmente relevantes para o segmento.

Um deles é Charles de Vilmorin, lembram desse nome? Pois é, e por aqui ele não apareceu. Quanto postei uma seleção com os desfiles mais marcantes da temporada, não acrescentei o dele – nem de nenhum outro novato. Vocês veem? Acontece. Pra mim, foi bem bacana, não chegou a passar despercebido, mas também não me disse muita coisa. E muitas vezes é assim.

Quando um estilista novato (no caso de Charles, ele apresentou sua primeira coleção assim que saiu da escola de Moda, em julho de 2020) é considerado estrelado de cara e chama atenção por ter algo a mais, uma “voz própria”, é comum ele ser “adotado” por um veterano e ganhar muitos holofotes. No caso de Vilmorin, ele foi apadrinhado por ninguém menos que Jean Paul Gaultier, que patrocinou sua participação no calendário de alta costura de Paris.

Antes disso, o estilista chamou atenção em dezembro, quando o rapper Tierra Whack apareceu no comercial de Natal da Apple usando uma calça de sua criação, com os padrões psicodélicos que caracterizam seu estilo. Na França, ele já vem sendo chamado de “o novo pequeno príncipe da Moda”.
Na apresentação da semana passada, Charles divulgou um vídeo no qual aparece com uma pistola de tinta, dessas que são utilizadas na criação de efeitos artísticos – uma referência ao trabalho de Niki de Saint Phalle, conhecida nos anos 60 por uma performance na qual colocava baldes de tinta com algumas pistolas dessas e pedia para que as pessoas atirassem em seus quadros, criando novos efeitos quando a tinta escorria pela tela.

Foto: Divulgação
Eu diria que suas criações são bonitas, são vistosas, serão vistas pelos mais conservadores como um tanto excêntricas. É digno do círculo da alta costura, o designer é extremamente talentoso. Só não sei dizer que é do tipo que vinga, que permanece no sentido de ser lembrado – até porque é diferente, mas não chega a ser novo, não é vanguarda. Nesse sentido, sua maior qualidade é ser um artista, no sentido literal do termo. Suas criações são telas nas quais ele pinta, se expressa e transforma em roupas divertidas e icônicas. E, justamente por serem tão exuberantes, quanto tempo leva até não serem mais uma novidade?

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Para Jean-Charles de Castelbajac, o prognóstico é outro e o moço vai muito longe, justamente por tudo isso que eu disse. “Charles projeta seus sonhos, pinta suas criações na pele como no papel – e essas silhuetas transformam suas musas em conquistadores psicodélicos … Seu futuro é apaixonado.” Bom, acompanhemos!
E você, o que achou da coleção apresentada por Charles de Vilmorin na Semana de Alta Costura?
Ana Paula Barcellos

Escritora, mocinha do medalhão persa, marketeira e pesquisadora de tendências. Trabalha com as marcas Madame B., Maria Jujuba Rock e Pinacola.
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