Por Ana Paula Barcellos
Cá estamos, 2022, beirando o primeiro verão realmente pós-pandemia, todo mundo doido pra curtir com mais liberdade, soltar a franga, vestir menos roupa ou ficar quase sem roupa (Que o calor aqui faz a gente ter problema de pressão, né? Quem nunca zonzeou quando bate 30 e tantos graus?). As tendências de Moda, todinhas, apontam para um verão leve, fresco, cheio de recortes e transparências, de liberdades e anseios de quem passou mais de dois anos trancafiada em casa…. pra ter que ler em rede social que “a Moda banaliza o corpo da mulher” ou que mulheres seminuas na passarela representam um “atentado ao pudor”.
Isso porque algumas grifes, esse ano, apresentaram suas coleções com modelos seminuas nas passarelas. E? “Ah, Ana, mas você viu que algumas delas tavam usando só roupa de telinha e calcinha?” E?
A Vogue Brasil trouxe de volta essa polêmica, que bombou principalmente no primeiro semestre, pra debater alguns dados assustadores sobre a forma como as mulheres se vestem e como isso define o julgamento das pessoas sobre vítimas de estupro e outro tipos de abuso.
Um corpo nu é apenas um corpo nu, ou deveria ser. Um corpo nu passa a ser algo mais quando alguém lança seu olhar sobre ele e define esse corpo por esse olhar. Não é o corpo nu que é sexualizado, o olhar que se lança sobre ele o é. Sim, o ditado que sua vó repetia, “a maldade está nos olhos de quem vê”, é sobre isso mesmo!
Cheio de homem na praia com aquelas tetas imensas, mamilos gigantes e protuberantes, ninguém tchum. Vai uma mulher, mesmo quase sem peito, tirar a parte de cima do biquíni pra ver só! Topless, atentado ao pudor. Mas isso só porque quem olha os peitos da mulher olha como quem vê ou quer sexo. É sobre isso.
“Ah, mas o peito da mulher é zona erógena”. O do homem também. E boca, pescoço, orelha, até canela pode ser zona erógena pra alguém! O corpo nu, por si só, não é sinônimo de sexo.
Por outro lado, também não vejo a nudez, por si só, como “empoderadora”. Do outro lado dos ataques às modelos e aos designers, há quem defenda a nudez como símbolo de “empoderamento”, de “resistência”. Mas a nudez também não faz isso sozinha. Empoderamento e resistência se fazem com um conjunto de símbolos que vão muito além de estar com roupa ou sem.
Até entendo o ponto de vista de quem afirma que, ao desfilar nuas, as mulheres impõem seu direito à nudez em espaços públicos, resistindo apesar do aumento de casos de violência e abuso. Mas a passarela não é a rua, a passarela é um palco. Então ok, mas não é isso também.
Essa é uma questão que deveria surgir mais simples, partir da premissa mais básica: a sociedade precisa, urgentemente, parar de sexualizar o corpo de meninas e mulheres. Isso porque esses corpos não existem com a função de gerar prazer para os homens. As mulheres existem em si e para si próprias. E seu corpo nu é apenas um corpo nu, apenas um corpo nu!
Ana Paula Barcellos
Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate.
Foto principal: Printerest
1 comentário
Está coberta de razão, a maldade sempre está nos olhos, mudar isso leva tempo, MUITO TEMPO. A questão se torna complexa pois um homem nu certamente poderá se defender de um ataque feminino, o que contribui para que quase nunca ocorram, mas o contrário provavelmente não. Esse risco deve ser sopesado pois além da “maldade” nos olhos a sociedade também é composta por pessoas incapazes de distinguir bem e mal, ou não se importar por isso, psicopatias difíceis de se identificar mas que se afloram em determinadas situações. No âmbito pessoal, uma mulher pode ficar excitada num ambiente nudista sem maiores problemas, o oposto nem tanto