A quarentena começou no Brasil depois do caos já ter se instalado em lugares como China, Itália e França. Alguns estados acabam de decretar lockdown, ou quarentena total, e em Londrina ainda não podemos dizer que já sentimos os reais efeitos da pandemia, da quarentena e suas consequências. De acordo com os médicos, para muitos de nós, a parte pior ainda está por vir.
Mas com o afrouxamento do isolamento em diversas partes do mundo, alguns dos principais estilistas e designers de moda já palpitam sobre como serão os looks pós quarentena e quais devem ser algumas das principais tendências desse novo momento, fase em que a indústria da moda ainda tateia e se move lentamente tentando descobrir novos rumos e novas formas de atuar. A principal pergunta é: como nos vestiremos para esse novo mundo pós (ou ainda com) Covid-19?
“A moda é uma interpretação do momento e isso é um grande desafio agora. Ninguém vai querer ir a uma loja que se parece com uma sala de descontaminação, com vendedores usando máscaras, luvas e macacões. Ao mesmo tempo, existe uma linha tênue entre itens essenciais e supérfluos. Estilistas terão que ser sensíveis durante esse período e oferecer aos seus consumidores proteção, conforto e alegria”, declarou Benjamin Simmenauer, professor do renomado Institute Français de la Mode (IFM), para a Vogue.
De acordo com pesquisa recente feita pela própria Vogue, as opiniões dos estilistas divergem bastante e apontam caminhos muito diversos. Alguns investem em uma pegada mais apocalíptica, pensando em novos tecidos (como tecidos antibacterianos) e incorporando máscaras e luvas aos looks de forma permanente e definitiva. Outros, por sua vez, apostarão na positividade e apresentarão a moda como uma forma de “escape”, uma fuga do mundo real e da situação que vivemos.

Essa deve ser a proposta da Kenzo. O diretor criativo da marca acredita que as novas coleções devem inspirar otimismo e confiança, assim como o futuro. Há quem entenda posturas, como a da grife, como “negacionismo”.
“Não faço moda como uma mentira para o que está acontecendo no mundo”: batendo na tecla de não negar a realidade, a estilista Marine Serre já havia incorporado as máscaras às suas coleções muito antes do Coronavírus chegar. Há dois anos e meio, desde que lançou sua marca, ela apresenta máscaras que ela mesma já usava diariamente por conta da poluição. Sabendo que haveria desaprovação por parte do público em relação ao acessório, ela decidiu usar alfaiataria e volume de formas estratégicas para neutralizar o impacto do protetor nos desfiles.

Partindo da realidade ou da negação da mesma, uma coisa é certa: não existe uma resposta fácil para a pergunta feita lá em cima, no começo dessa coluna. Seremos mais básicos, menos supérfluos, mais sustentáveis, mais otimistas, mais sonhadores? Haverá mesmo uma nova forma de se pensar e se vestir, se apresentar para o mundo?
No momento, lutamos contra uma inimigo invisível e somos abandonados à própria sorte por nossos dirigentes, muitos de nós estão em casa vestindo pijamas; o mantra descolado do momento é: reinvente-se – repense sua vida, sua visão de mundo, seja a melhor versão de si mesmo. Mas sairemos realmente renovados disso tudo?

A Vogue Brasil polemizou na capa do mês de maio ao colocar Gisele Bündchen vestindo roupas de grife com a legenda “o novo normal” e apostando num pós pandemia básico, “celebrando a simplicidade” com a supermodelo sem maquiagem. Simplicidade de luxo? Pra quem?
A moda, as roupas, o vestir-se, são faces de um pacto que fazemos enquanto sociedade. Quem nós seremos quando isso tudo “acabar”?
Ana Paula Barcellos

Formada em História pela UEL, trabalhou 10 anos como escritora para blogs e sites sobre cultura e lazer. Atualmente, trabalha com marketing digital e pesquisa de tendências e, junto com Angela Diana, é proprietária da Rosita, marca de acessórios.
Foto Principal: Divulgação/Marine Serre