Por Ana Paula Barcellos
Não é novidade que existe todo um estudo sobre como as cores afetam nosso humor. Tem, inclusive, a chamada psicologia das cores, um estudo que busca entender como o ser humano se comporta em relação às cores, quais os efeitos que cada cor gera nos indivíduos: mudanças nos sentimentos, nas emoções, na criação ou “esfriamento” de desejos, etc. Esses estudos são, inclusive, muito utilizados por publicitários na criação de campanhas e por marqueteiros em geral.

E as cores das roupas, será que elas realmente são capazes de influenciar o humor de quem as veste?
No ano passado esse foi um tema que pintou algumas vezes aqui na coluna. Já era esperado que, com a diminuição do isolamento e a retomada gradual das atividades, junto com o avanço da vacinação, as pessoas diminuíssem o uso de roupas confortáveis e pijamas e passassem a sentir mais vontade de se arrumar para sair – e que as roupas de sair fossem mais chamativas, mais coloridas e vibrantes que o usual. Esse é um movimento conhecido e vale pra tudo: depois de tanta restrição, o desejo costuma ser o de se soltar, se jogar mesmo, numa busca de alívio, saciedade e alegria.

E desde o ano passado, as principais tendências de moda estão girando nesse sentido: muita cor, muito brilho, fendas e recortes, tudo muito, junto com muita vontade de viver e se jogar no mundo. Depois de tanto recolhimento, as pessoas querem se sentir felizes outra vez e isso se reflete também na maneira de se vestir.
Batizaram essa tendência de dopamine dressing – vestir-se de dopamina, em tradução livre. A dopamina é um dos três hormônios do bem-estar. Logo, a aposta é: usar roupas coloridas, que façam com que a gente se sinta bem, vai estimular a produção desse hormônio e, consequentemente, a gente vai ficar feliz.

Mas essa tendência não é só sobre cor, como alguns textos por aí têm feito parecer. Até porque, é claro, nem toda cor funciona pra gente. Vermelho simboliza amor pra muitas pessoas, mas nem todo mundo vai se sentir bem de vermelho ou sair exalando paixão só porque está vestindo uma roupa dessa cor. Existem as associações básicas, mas para cada pessoa vai funcionar de um jeito. Eu mesma tenho dias em que uso amarelo e me sinto miserável, em outros uso preto e fico feliz da vida.

Então a tendência da dopamina tem mesmo a ver com vestir aquilo que mais te faz se sentir bem. O que me lembra o episódio 8 do revival de Sex And The City, And just like that: a Carrie mostra uma das peças mais maravilhosas que ela tem no closet, o vestido de baile Atelier Versace Mille Feuille que ela usou em Paris no episódio final da série. Um Versace glorioso! Para matar as saudades do vestido e se sentir feliz ela faz o quê? Veste a roupa para comer pipoca sentada na janela, por diversão! Essa, pra mim, é a melhor definição da dopamine dressing.

Ana Paula Barcellos

Escritora, designer de joias artesanais, marketeira e pesquisadora de tendências. Trabalha com as marcas Pinacola e Ana Diana.
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