Passados os primeiros meses da pandemia e da quarentena, algumas coisas vão voltando a um tipo de normal, vamos dizer assim. Porque não é exatamente um novo normal, na verdade é bem parecido com o que a gente já conhece, mas também não dá pra chamar da vida de sempre, né?
Me lembro que um mês depois do começo de tudo por aqui, em abril, as pesquisas sobre consumo já anunciavam uma queda enorme nas vendas e no consumo, principalmente de itens considerados supérfluos. Embora roupa também seja item de primeira necessidade, a aquisição de novas peças diminuiu muito nesse período – e seguiu em queda nos 2 meses seguintes.
Mas em julho, a coisa começou a mudar, ao menos de forma mais drástica e visível. Mês passado, as pesquisas mais recentes davam conta de que o consumo voltava a subir, exponencialmente, e aumentava mais ainda no caso dos itens considerados… supérfluos.
As pessoas voltaram a comprar pela internet, ou começaram. E a comprar cada vez mais. Talvez numa nova necessidade de preencher um vazio, de reconquistar essa sensação de normalidade, de se distrair – os motivos são variados.
E a mais recente pesquisa publicada agora, no comecinho do mês de agosto, aponta a manutenção dessa tendência. Artigos de luxo voltaram ao topo das listas de desejo e algumas marcas estão tendo seu melhor momento de vendas justamente agora!
Esse é o caso da label nova-iorquina LoveShackFancy, que teve suas colaborações lançadas durante a quarentena nos EUA esgotadas em poucos dias.
Considerada uma marca de pegada contemporânea, seus produtos não são baratinhos, mas não custam tanto quanto as peças das grifes de luxo. Além do preço médio, seus produtos são encontrados facilmente na internet, e a LSF se comunica diretamente com o cliente, do início ao fim, sem intermediários. O resultado disso, é que boa parte da receita da empresa é gerada por seu e-commerce.
Aqui no Brasil, não é diferente. Uma pesquisa publicada no jornal O Globo, diz que nesse momento, pelo menos uma loja virtual é aberta por minuto! E o segmento que mais abre lojas virtuais é justamente o de moda.
O grupo Calzedonia, dono da marca Intimissimi, viu as vendas quadruplicarem no nosso país durante a pandemia – lembrando que a loja é especializada em meias, lingeries e pijamas.
E mesmo com o aumento das vendas digitais, a marca italiana deve apostar nas lojas físicas no país, por acreditar que o atendimento presencial ainda oferece um forte diferencial na venda de produtos de luxo – como os confeccionados em seda pura, por exemplo.
Seja para retomar uma sensação de realidade, seja para preencher um vazio, o fato é que a moda volta a estar presente de forma contundente no dia a dia das pessoas e isso está bem expresso pelos números – vamos combinar que se houve uma certa ausência dela no cotidiano, não durou muito.
E a gente entende. Eu mesma reclamei da falta de atmosfera de sonho e divagação nas tendências e novidades divulgadas durantes os primeiros meses de quarentena. Chega uma hora que a realidade esgota, se esgota, e a gente precisa ter motivos pra continuar sonhando e pensando num futuro melhor, é também uma forma de resistir.
Por outro lado, seguimos preenchendo vazios? Se fala tanto em novas formas de pensar o consumo e consumir, mas realmente estamos caminhando para isso, ou estamos apenas pensando novas formas de comprar? Coisas pra gente ir pensando enquanto coloca as novas peças no armário…
Ana Paula Barcellos
Escritora, mocinha do medalhão persa, marketeira e pesquisadora de tendências. Trabalha com as marcas Madame B., Maria Jujuba Rock e Pinacola.
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