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O Paraná na ponta dos transplantes de órgãos

Por Márcia Huçulak

A Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) divulgou recentemente os dados do setor este ano. Deles, se extraem o ótimo exemplo do Paraná e uma preocupação no Brasil.

O tema é dos mais relevantes tanto pelo impacto na saúde pública atual quanto pelo exemplo de como a ciência, a pesquisa científica contínua e a boa gestão diária de saúde fazem uma sociedade evoluir no rumo de salvar vidas.

Desde 1954, quando foi realizado nos Estados Unidos o primeiro transplante de um órgão vital (de rim) bem-sucedido do mundo, o avanço foi constante. Com setenta anos de experiência mundial, é gratificante ver o Paraná ser um grande destaque atual no Brasil, que por sua vez criou, por meio do Sistema Único de Saúde, o maior sistema público de transplantes do mundo.

O volume de doadores é fundamental para a eficiência do programa. O Paraná lidera em número de doadores por milhão de população (ppm): 42,3. As diferenças nacionais são muito grandes. Para se ter uma ideia, o desempenho do estado é quase dez vez maior do que o pior desempenho no Brasil, que é do Pará, com apenas 4,9 doações ppm. A média nacional fica em 19,5, de acordo com a ABTO.

Um fator determinante para que a doação ocorra é a autorização da família de pessoas com morte encefálica (que é irreversível). O Paraná tem um desempenho bem melhor do que a média. Aqui, as recusas ficam em 25% dos pacientes elegíveis para doação, ao passo que no Brasil a recusa média é de 45%.

Viabilização dos transplantes

Esse número embute um processo importantíssimo para viabilizar o transplante: a abordagem da família num momento muito difícil, de perda de um ente próximo e querido, muitas vezes de forma inesperada. A qualificação dessa abordagem faz toda a diferença, na medida em que, além da sensibilidade do momento, o tema é desconhecido para a maioria das pessoas. Portanto, é natural que se tenha muitas dúvidas e inseguranças. (Clique aqui e acesse um tira-dúvidas da ABTO.)

Vem daí a necessidade de maior conscientização por parte das pessoas. O ideal é que quem quer vir a ser doador, informe seus parentes, em vida.

A etapa do convencimento é apenas uma da complexa engrenagem acionada para que o órgão chegue ao receptor. Ponto importante, já que o órgão se mantém apto a ser transplantado por um curto período. Para um coração, por exemplo, são quatro horas entre a retirada do doador e o transplante para o receptor.

Em muitos casos, o transplante é a única saída para os pacientes. Um doador com morte encefálica pode beneficiar até oito vidas, doando coração, válvula cardíaca, pulmão, fígado, córnea, pâncreas, rins, intestino, ossos e pele.

Ao longo dos anos, os avanços nesses procedimentos foram muito significativos, envolvendo desde a criação de imunossupressores mais eficazes (o que diminui a rejeição) até melhorias na preservação dos órgãos, na análise de compatibilidade genética e no aprimoramento dos cuidados multiprofissionais de todo o processo. Mais recentemente, o uso de inteligência artificial vem colaborando na otimização dos cuidados.

O Brasil tem 64.365 adultos e 1.284 crianças à espera de um órgão. Os especialistas em transplante preferem chamar de “lista de espera” e não de “fila de espera”, já que há inúmeras variáveis que definem, sob critérios médicos, a ordem da doação: urgência e quadro atual do receptor, compatibilidade do órgão e tipo sanguíneo, idade (crianças têm preferência) e  distância geográfica entre o doador e o receptor (em decorrência do tempo de transporte), por exemplo.

A lista de espera extensa traz à tona a preocupação atual com o número de doações, que este ano, no Brasil, caiu 2,1% no primeiro semestre do ano em relação ao mesmo período do ano passado. A ABTO espera que este segundo semestre compense a queda e que o crescimento contínuo de transplantes seja mantido – o que depende fundamentalmente de maior conscientização. A reversão é importante. Cerca de 3.000 pessoas morrem por ano à espera da cirurgia no Brasil.

É um esforço que vale a pena. A taxa de sobrevida de transplantados de rim, após cinco anos, é de 80%; de coração, 75%; de fígado, 70%; de pulmão, 50%.

Num momento em que as condições de algum órgão vital colocam muitos pacientes numa situação irreversível, os transplantes vêm mostrar a força da ciência e da gestão pública em prol da vida.

Assim como o ocorrido com as vacinas ao longo dos tempos, é esse tipo de evolução que faz a saúde avançar e melhora a qualidade de vida de todos.

Márcia Huçulak

O Paraná lidera em número de doadores de órgãos para transplantes e isso é muito importante!
Divulgação/Alep

Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
www.marciahuculak.com.br; Instagram: @marciahuculak; Facebook: Márcia Huculak. Telefone gabinete: (41) 3350-4223.

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(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.

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