Preocupação com falta de transparência e com usuários foi pontuado por representantes de entidades civis
O LONDRINENSE com assessoria
A Comissão de Seguridade Social da Câmara de Londrina (CML) realizou no fim da tarde desta sexta-feira (12) reunião pública remota para discutir os impactos no atendimento da saúde em Londrina com a transferência da gestão dos hospitais Zona Norte (HZN) e Zona Sul (HZS) da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) para a Fundação Estatal de Atenção em Saúde do Estado do Paraná (Funeas), uma fundação pública de direito privado. O vídeo do evento está disponível nos canais do Legislativo no Youtube e no Facebook.
A mudança foi anunciada em setembro pela Sesa e a gestão está em processo de transição. Os hospitais Zona Norte e Zona Sul são considerados de média complexidade e atendem à demanda de 21 municípios da região de Londrina. O secretário municipal de Saúde, Felippe Machado, destacou que ambos os hospitais atendiam a população diretamente no pronto-socorro, e que, durante a pandemia, o HZN, por exemplo, tornou-se unidade exclusiva para atendimentos de pacientes com suspeita de covid-19 encaminhados por outros serviços de saúde. “A proposta da Funeas […] é que, a partir desta transição, os hospitais Zona Norte e Zona Sul fechem o pronto-socorro para atendimento da população e passem a receber somente os casos regulados pelo Samu e pelo Siate. Este é um outro ponto que nós achamos um pouco nevrálgico para fazer uma transição tão abrupta, sem possibilidade de reestruturação da rede, sem abrir novas possibilidades assistenciais”, revelou.
A vereadora Lenir de Assis (PT), presidente da Comissão de Seguridade Social, afirmou que acompanha com atenção os desdobramentos destas mudanças no atendimento aos pacientes. “Nós estamos desde o mês de setembro, quando tivemos essa informação de que haveria essa transição da gestão destes dois hospitais da Sesa para a Funeas. De lá pra cá a gente tem feito várias conversas, especialmente com o secretário de [Saúde de] Londrina a respeito dessa situação, mas a população já começa a perceber, já começa a notar a diferença. Temos preocupação dos servidores destes dois hospitais, de outros hospitais, das UPAs, dos postos de saúde e de serviços que estão hoje sob a gestão do Cismepar”, disse.
A efetivação da mudança ainda depende da formalização de contrato entre o município de Londrina e a Funeas. Diretor-geral do Hospital Zona Norte, Reilly Lopes disse que o início da gestão da Funeas, em outubro, levou agilidade à compra de materiais e equipamentos médicos, além de ter permitido contratação emergencial de funcionários, como psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas, serviços até então não ofertados, segundo Lopes. Ainda conforme o diretor, foi criado ambulatório para oferecer, em média, mil consultas pré e pós-operatórias, por mês.
Geraldo Júnior Guilherme, diretor-geral do Hospital Zona Sul, também defendeu o novo modelo de gestão e disse que, desde que a Funeas assumiu o HZS, foram criados dez leitos de psiquiatria na instituição e contratados 35 funcionários, parte deles para suprir a saída dos empregados do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paranapanema (Cismepar). “O hospital continua a ser 100% público, prestando 100% de atendimento para o SUS. A fundação é estatal, não é privatização como dizem, apesar de ser uma fundação de direito privado. Isso facilita algumas contratações. […] Tivemos um aporte de equipe assistencial, em que havia uma defasagem, repondo servidores do Cismepar que saíram e mais uma outra quantidade”, afirmou.
Laurito Porto de Lira Filho, presidente do Conselho Municipal de Saúde, e Elaine Rodella, representante da Associação de Saúde Mental, afirmaram que a Funeas “privatiza” a gestão dos hospitais estaduais sem ouvir a demanda dos pacientes e de órgãos de controle social. “Nós estamos cobrindo a cabeça e descobrindo o pé. A população vai ficar sem atendimento. (..) A gente vê com preocupação a falta de transparência, a falta de diálogo dentro do Conselho Estadual de Saúde, do Conselho Municipal de Saúde, e tampouco foi feito com a gestão municipal, porque essa vinda da Funeas está sendo debatida desde janeiro deste ano e só em outubro que começou a conversa [pública]. Então falta transparência, falta diálogo”, asseverou Lira Filho.
“O que não estava bom no Zona Sul e Zona Norte? A Sesa não poderia melhorar, investir mais, dar maior atenção? Essa é minha pergunta. A Sesa pode fazer e não precisa da Funeas para fazer o que a Saúde Pública vem fazendo nos últimos 30 anos com a implementação do SUS”, defendeu Rodella.
Foto: Arquivo/Sesa