Projeto analisa potabilidade da água em mais de 20 municípios da região

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Em funcionamento há 14 anos, projeto já fez mais de 45 mil análises em amostras de 21 cidades no âmbito da 17ª Regional de Saúde do Paraná

Agência UEL

Muita gente ainda segue o mito: a água consumida na área rural é mais limpa e pura do que aquela da zona urbana. Não é. Quem confirma são as mais de 45 mil análises já feitas em 14 anos pelo projeto “Análise de água tratada e in natura para consumo humano”, coordenado pelo professor Sérgio Paulo Dejato da Rocha, do Departamento de Microbiologia (CCB) da Universidade Estadual de Londrina (UEL).

Ele relata que o projeto nasceu em 2008, a partir de um convênio, assinado em 2004, entre a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa-PR) e a Superintendência Geral de Ciência, Tecnologia e Ensino (Seti-PR), por meio das universidades estaduais. Elas passaram a realizar análises de água nos aspectos microbiológico e físico-químico, a fim de atender o Programa Nacional de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Vigiagua), que envolve todas as instâncias administrativas: federal, estadual e municipal, com o objetivo de garantir a todos acesso a água potável, nos termos da legislação vigente. Quem define são as portarias e instruções normativas do Ministério da Saúde (MS).

Dinâmica

É a Vigilância Municipal que dá início ao processo, ao realizar coletas em áreas urbanas e rurais de 21 cidades no âmbito da 17ª Regional de Saúde do Paraná, que tem cerca de 1 milhão de habitantes. Na zona urbana, são coletadas amostras em lugares de grande movimento de pessoas, como escolas, prédios públicos e igrejas. Nas cidades menores, são feitas de oito a dezesseis coletas mensais. Já em Londrina, a maior da região, são 46 coletas por mês.

Na UEL, as amostras vão para o Laboratório de Bacteriologia (LABAC/CCB), onde atua o professor Sérgio da Rocha; Laboratório de Saneamento (CTU), sob responsabilidade da professora Emilia Kiyomi Kuroda (Departamento de Construção Civil); e Laboratório de Físico-Química Ambiental (CCE), para o professor João Carlos Alves (Departamento de Química). No primeiro, é feito um exame microbiológico, à procura de coliformes totais e da Escherichia coli (E. coli), bactérias comuns da microbiota intestinal de humanos e de alguns animais. No CTU, é feito um exame de turbidez, que pode detectar elementos suspensos (orgânicos ou não) na água e inviabilizá-la para consumo. E no CCE, a análise química detecta o nível de flúor. Em excesso, pode causar fluorose.

Ao final, o LABAC conclui se os limites máximos tolerados dos parâmetros microbiológicos e físico-químicos são ou não satisfatórios, de acordo com a legislação, como a Portaria GM/MS nº 888, de 4 de maio de 2021. Se insatisfatório, a Vigilância retorna ao local, notifica o responsável, dá um prazo de 30 dias para a solução de um eventual problema, e depois realiza nova coleta.

Caixas d’água

Nos 14 anos de atuação, o projeto tem mostrado que a água tratada, na área urbana, é boa para consumo. Quando não, geralmente é por falta de limpeza das caixas d’água. Elas devem ficar muito bem tampadas, porque aves e pequenos mamíferos podem defecar sobre ou dentro delas e contaminar a água. O professor Sérgio lembra que algumas caixas podem estar danificadas (rachadas) e a água da chuva pode levar os coliformes para dentro.

Já na zona rural, a maioria tem contaminação microbiológica, em boa parte porque é mais fácil o acesso de animais à água. Muitas vezes, porém, o problema surge da perfuração de poços de forma ilegal, sem acompanhamento técnico adequado. Também acontece de um proprietário perfurar um poço em nível abaixo de uma granja, por exemplo, o que facilita a contaminação.

A presença de coliformes significa que a água entrou em contato com fezes e, dependendo de quais – totais e/ou E. coli – indica o período de exposição: dias ou semanas antes. Este resultado pode indicar a presença de patógenos bacterianos, virais e parasitos; os quais podem provocar gastroenterites e Hepatite A, por exemplo.

Produção

Embora seja um projeto de extensão, ele produz conhecimento e realiza expressiva disseminação. O projeto já fez mais de 100 apresentações em eventos de extensão e científicas. Além disso, é multicêntrico e reúne os cursos de graduação de Ciências Biológicas e Biomedicina (CCB), Química (CCE), Farmácia, Medicina e Enfermagem (CCS), e Engenharia Civil (CTU). Já rendeu oito Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), mas também envolve cursos de pós-graduação lato e stricto sensu. Conta atualmente com sete docentes, mas 15 já passaram pelo projeto. Também já participaram, nesta década e meia, 85 estudantes de graduação e 18 de pós-graduação.

O coordenador lembra ainda que o projeto se encaixa em dois objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização Mundial da Saúde: ODS 03 – Saúde e Bem-Estar e ODS 06 – Água Potável e Saneamento.

Foto: Pixabay

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