Além da demora, usuária relata grosseria com pacientes que procuraram o pronto atendimento
Telma Elorza
O LONDRINENSE
A terapeuta ocupacional Ilka Elorza, usuária do Sistema Único de Saúde (SUS), relatou, em suas redes sociais, o “inferno” que viveu, nesta terça-feira (24) ao procurar o Pronto Atendimento do Jardim Leonor, por conta de fortes sintomas gripais, o que levantou a suspeita de covid. Segundo ela, passou cerca de 12 horas no local, sendo seis delas esperando ser atendida e quando o foi, passou mais cinco horas para conseguir tomar soro na veia e ainda teve que esperar outras duas horas para ser reavaliada, até ser liberada.
“Estava superlotado, sem estrutura para acomodar todos e com servidores grosseiros e mal humorados, tornando pior o tormento de quem já estava doente”, disse Ilka. Ela chegou ao atendimento às 10h43 e só foi sair do PA por volta das 22h30. Havia antes passado na UBS do Jardim Tóquio e foi orientada a ir ao PA para “maior agilidade” no atendimento. Leia o relato dela:
“Eu estive, literalmente, no inferno ontem, por exatas doze horas. E, por incrível que pareça, não havia nenhuma besta avermelhada, com chifres e rabo longos, nem tinha um garfo de três dentes enorme na mão. O inferno foi a recepção de um P.A. de serviço público de saúde, lotada de gente tossindo, gemendo, vomitando, desmaiando, com crise de hipoglicemia e chegando em cadeiras de rodas, com cinco hérnias e um tumor na coluna, com funcionários cansados, mal remunerados, mal humorados e grosseiros, onde não tinha ventilação, além das pequenas janelas e, a fonte de água estava tão gelada que doía os dentes e as gargantas já doloridas.
O inferno foi chegar nesse local, levar uma hora fazer uma “triagem” e aguardar por cinco horas, sem que mais nada acontecesse. O inferno foi te chamarem para consulta, faltando quinze minutos para troca de plantão e, durante esses quinze minutos, não acontecer mais nada de socorro a quem foi lá buscá-lo. O inferno foi ser colocada numa sala para medicação intravenosa e ter mais dezoito pessoas nessa sala e só uma funcionária para “espetar” todo mundo. Em certa paciente, observei que ela tremia e estava a ponto de chorar, o que eu não consegui evitar.
O inferno é ficar nesse lugar dez horas, exausta, com fome, e, ainda dores, mas lúcida o suficiente para nega-las, achar que seria liberada e ouvir: vai ter que ser reavaliada! E, ao, perguntar se demoraria, ouvir que SIM! AGUARDE! Mais duas horas, chorando de nervoso, com vontade de vomitar e beirando um surto psicótico. Sorte, que vez ou outra, aparecia um anjo de luz que procurava amenizar minha pena naquele lugar. Fui muito bem tratada por Ariadne “muito sagrada”, que pacientemente e delicadamente, enfiou o swab do meu nariz até quase o cérebro e pela doutora da reavaliação, que esqueci o nome, mas que se mostrou indignada pelo tanto de horas que permaneci naquele lugar.
Eu defendo o SUS, defendo a grande maioria dos funcionários de saúde, eu sou uma delas e me dói ver propostas de serviços maravilhosos, estarem do jeito que estava ontem. Sucateado (só tinha duas cadeiras de rodas, uma quebrada), com pessoas mal preparadas, mal humoradas, grosseiras até, para atender quem está em sofrimento. Sejam bons, amiguinhos, continuem cuidando de vocês, dos seus. Vocês não iriam gostar nenhum um pouco de precisar passar por ali.”

Segundo a usuária, no quadro de médicos dando atendimento, estavam três registrados por período de seis horas. “Mas, pela demora, parecia que tinha um só”, disse.
A reforma de 90% da estrutura do PA do Leonor foi entregue em maio do ano passado, pela Secretaria de Saúde. Inaugurado na década de 1970, que funcionava antes no mesmo imóvel da UBS Leonor, não recebia melhorias efetivas há 15 anos, segundo dados da Prefeitura, que investiu cerca de R$ 1 milhão, aproximadamente, para realizar a reconstrução do equipamento público, com capacidade de atendimento quase duplicada, para 400 pacientes-dia. Portanto, não deveria ter equipamentos quebrados e dar mais comodidade aos pacientes em espera. No entanto, não foi isso que aconteceu.
O LONDRINENSE procurou o secretário municipal de Saúde, Felippe Machado, para saber o que houve e se é uma situação pontual. Mas, até o momento, não obteve resposta, nem do próprio secretário nem da assessoria de imprensa da Prefeitura.
Foto: Acervo pessoal