Por Maurício Chiesa Carvalho
No dia 20 de março é comemorado o Dia Internacional da Felicidade. E você? É feliz no trabalho?Felicidade deixou de ser um “simples” sentimento e virou uma ciência, que reúne pesquisas e dados. Ela vem sendo analisada pela Psicologia Positiva, pela Neurociência, a Filosofia e por tantos outros campos científicos que compõem a Ciência da Felicidade. A preocupação com o estado emocional dos funcionários acelerou para um ano o que iria levar algumas décadas para ocorrer e não deixará de ser prioridade dos líderes empresariais quando a pandemia acabar.
A felicidade, o bem-estar, o conforto e o reconhecimento passaram de meras definições teóricas ou utópicas para pilares centrais de permanência de colaboradores competentes e engajados na organização. E ano a ano, aumenta mais.
Entender que a felicidade no trabalho não está ligada apenas ao bem-estar psicológico, mental, físico e intelectual, mas também ausência de sofrimento e insegurança psicológica por meio de práticas que mitiguem, blindem e evitem a ocorrência deste lado negativo. Entender que as pessoas serão felizes se sentirem-se engajadas e convidadas a exercer seu potencial, não serem subutilizadas.
Butão, que é considerado o país MAIS FELIZ DO MUNDO, que também tem no Ranking a Dinamarca e a Finlândia, traz em seu Código Legal (digamos Constituição Federal do Butão, de 1729), que “Se o governo não pode criar felicidade para seu povo não há razões para ele existir”. O Butão utiliza o conceito de FIB (Felicidade Interna Bruta) e não apenas o PIB (produto interno bruto). A Felicidade Interna Bruta (FIB) foi dividida em nove categorias: uma delas é o bem-estar psicológico, que mede o otimismo que cada cidadão tem em relação a sua vida. É feita uma análise da autoestima, nível de stress e espiritualidade.
Outra curiosidade: já tentamos isso por aqui. Sim, a PEC da Felicidade, do ex-senador Cristovam Buarque, através da Proposta de Emenda n° 19, que ficou conhecida como PEC da Felicidade (Brasil, 2010), buscou incluir na Constituição o direito à busca da felicidade por cada indivíduo e pela sociedade. Infelizmente, foi arquivada em 2014.
Não adianta um onboarding (acolhimento e recepção de novo colaborador) com computador, brindes e kit da organização, um kit com máscara com logo da empresa e álcool gel se ninguém recebe essa pessoa como um padrinho ou mentor para proporcionar esse contato inicial com cultura da empresa. Mais do que receber, a pessoa precisa e quer se sentir acolhida e pertencendo. Ser convidada a um ambiente que ela se sinta bem.
Não vou entrar em exemplos de benefícios e práticas materiais ou situacionais existentes, que já são conhecidas. Umas mais, outras menos criativas. A grande questão está em alinhar essas práticas as necessidades das pessoas. Por exemplo: não adianta oferecer idioma estrangeiro ou bolsa auxílio educação se grande parte da empresa sequer tem o ensino médio.
Os profissionais têm buscado qualidade de vida e um trabalho com propósito. Além de reconhecimento financeiro, os colaboradores querem se sentir valorizados e saber que seu trabalho faz a diferença na sociedade e não apenas aos resultados da empresa. Eis a importância do IKIGAI (razão de viver).
A felicidade no trabalho está mais ligada ao que as pessoas sentem do que elas ganham. Em outras palavras: sair das práticas de dar algo material ou tangível para fazer os colaboradores sentirem, deixando que sejam quem são, pensar como pensar, sentirem-se psicologicamente seguros. Aqui, novamente a importância da compatibilidade do fit cultural entre pessoas e organizações. Trabalho do recrutamento e seleção.
O adoecimento, insatisfação, estresse e até mesmo burnout não vem necessariamente de trabalhar muito, mas de se sentir mal enquanto desempenha suas atividades, seja pelo trabalho, estrutura, ambiente, equipe, colegas ou a chefia com quem trabalha.
Felicidade Corporativa é ter um trabalho significativo, com propósito, relacionamentos saudáveis, oportunidades de crescimento, bem-estar, respeito, transparência, franqueza, QVT (qualidade de vida no trabalho) entre outros. Não é necessariamente coisas. Felicidade tem certa ligação com sentimentos e emoções.
Vale ressaltar que, cada indivíduo precisa entender o que lhe faz feliz. E essa é uma jornada sobre autoconhecimento. Precisamos dividir em partes a definição de felicidade, sendo a junção de bem-estar relacional, intelectual, físico, emocional e espiritual. Também, os relacionamentos positivos influenciam diretamente no bem-estar. Já os ambientes e relacionamentos tóxicos podem trazer sentimentos ruins com consequente adoecimento ao longo de nossas vidas.
O que mais lhe faz feliz no ambiente de trabalho? Essa pergunta foi feita para 23.000 pessoas em 45 países pelo Institute Globoforce Work Human. E sabe qual a resposta número 1? Sentir-se parte de um time, grupo ou organização. Isso é o que a pesquisa afirma: sentir-se parte é o que mais gera felicidade entre os profissionais. Estamos falando em outras palavras do sentimento de pertencimento. Pertencer apresenta dois significados no dicionário: “ser propriedade de” (no sentido permanente), e “fazer parte de” (no sentido temporário). Ou seja, quando alguém trabalha em uma empresa, seja empresário ou executivo, não se torna propriedade dela, mas pode pertencer a ela no sentido de “fazer parte”.
Pertencimento é uma necessidade humana confirmada por tantos estudos e teorias. Todos nós temos o desejo de fazer parte, de sermos úteis, de cumprirmos com o nosso papel e deixarmos nossa contribuição. Não transfira para outras pessoas a responsabilidade de lhe inserir no mundo. Pertencimento é uma trajetória individual e intransferível que requer humildade, iniciativa, esforço e conquista diária. O meio interfere, de fato pode ajudar ou dificultar o sentimento de pertencimento, mas não define. Para fazer parte é preciso fazer a sua parte, que por sinal, é quase todo o processo. Pertencimento é o movimento contínuo de se inspirar, inserir-se, integrar e interferir… hoje, por toda a vida e para sempre!
Quando nos sentimos pertencentes a um lugar e ao mesmo tempo sentimos que o lugar nos pertence, acreditamos que podemos interferir nas rotinas e rumos desse tal lugar
E ainda mais após a pandemia, as perguntas vieram à tona: o que eu estou fazendo aqui? Qual meu propósito? O que quero deixar de legado?
E como consequência? Menor absenteísmo, menor sofrimento e adoecimento psíquico.
maior produtividade. Falo que não é nem vestir a camisa, pois esta você pode trocar. É tatuar no peito! Além do que, perceber na fala das pessoas: “O meu líder, a minha empresa, o produto/serviço da minha empresa”. O que é meu, me pertence, eu cuido.

Maurício Chiesa Carvalho
Administrador, Executivo de RH, psicanalista, consultor, docente e escritor. Conselheiro da Academia Europeia de Alta Gestão e um dos RHs mais Admirados do Brasil de 2021. Linkedin mauríciochiesacarvalho