Dia 31 de outubro marca a maior festa popular nos Estados Unidos, o Dia das Bruxas, que já está sendo incorporada no Brasil também
Telma Elorza
O LONDRINENSE
Todo ano, nessa época, há uma briga nas redes sociais entre aqueles que querem comemorar em paz e se divertir com o Halloween – no caso, Dia das Bruxas – e àqueles que dizem que é uma festa importada e que, por princípios, deveríamos comemorar o Dia do Saci. Até uma lei foi criada, em 2013, para oficializar 31 de outubro como Dia do Saci.
Foi uma tentativa do Congresso de ajudar a valorizar o folclore nacional contra “festas importadas”. A Lei n.° 2.479, de 2003, diz que: “A data escolhida, 31 de outubro, dia em que se festeja o Halloween, ‘Dia das Bruxas’, nos Estados Unidos, parece-nos pertinente. A comemoração do Halloween no Brasil – como tantas outras celebrações da cultura norte-americana de forte apelo comercial – tem atraído cada vez maior número de jovens e crianças. Criar, na mesma data, o ‘Dia do Saci’ é, portanto, uma forma de se oferecer à juventude brasileira a alternativa de festejar as manifestações de sua própria cultura.”
Bom, na minha modesta opinião, então também não deveríamos comemorar a Páscoa e o Natal, que também são práticas importadas. Ou Coelhinho da Páscoa e Papai Noel são brasileiríssimos? Enfim.
Independentemente da briga de quem está certo ou quem está errado, o Halloween tem suas origens no Reino Unido e não nos Estados Unidos. O nome deriva da expressão “All Hallows’ Eve”, onde “Hallow” é um termo antigo para “santo”, e “eve” é o mesmo que “véspera”. O termo designava, até o século 16, a noite anterior ao Dia de Todos os Santos, celebrado em 1º de novembro.
Historiadores apontam um antigo festival pagão celta como a origem do Halloween, o Samhain – um termo que significa fim do verão – e marcava o encerramento das colheitas antes do inverno. O festival durava três dias e começava em 31 de outubro, com muita fogueira acesa, muita comida e bebida. Enfim, uma festa de agricultores para comemorar e agradecer a fartura. E as abóboras gordas e iluminadas, que ainda hoje decoram as casas, remetem justamente à essa fartura da colheita.
Só que, lá pelo século 8, o papa Gregório III mudou a data do Dia de Todos os Santos – que era 13 de maio, data do festival romano dos mortos – para 1 de novembro, data do Samhain. Como em outras datas – inclusive o Natal – , a Igreja Católica se apropriou de festivais pagãos para “cristianizar” a festas. Com a nova data, a celebração cristã dos santos e o Samhain acabaram misturando as tradições. No cristianismo, a véspera de todos os santos acabou virando um dia maligno, onde as bruxas e demônios estariam soltos no mundo.
O que não contavam é que a tradição de diversão continuasse pelo mundo afora, com fantasias de criaturas de todos os tipos para personificar essa mistura de crenças.
Quem é o Saci
Há quem diga que a lenda do Saci surgiu no sul do Brasil, em meados do século 17, onde as histórias populares narravam as travessuras de um pequeno índio que assustava os animais e destruía plantações. Porém, quando a lenda chegou ao norte do país, as características do personagem mudaram. Passou a ser negro, usar um gorro vermelho e a fumar um cachimbo (por influência da cultura africana na região). A lenda também descreve o Saci como tendo apenas uma perna, pois a outra teria perdido em uma luta de capoeira.
O mito ficou conhecido graças aos livros de Monteiro Lobato, com destaque para “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”, que teve sua adaptação para a TV e tornou as histórias do Saci conhecidas em todos os cantos do Brasil.
Se vai comemorar um ou outro, não importa. O importante, hoje, é se divertir.
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