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Adolescentes do Flores do Campo transformam realidade em arte em nova exposição fotográfica

Mostra será realizada em imóvel reformado e convertido em centro cultural e comunitário, além de sede do grupo de fotografia e da associação de moradores

O LONDRINENSE com assessoria

O Coletivo FotoFlores – formado por adolescentes com idades entre 10 e 18 anos moradores do Residencial Flores do Campo, na região norte de Londrina – inaugura no sábado (5), a partir das 13h, a segunda exposição fotográfica do grupo, intitulada “Coletivo FotoFlores – Movimento em Construção”. A exibição, resultado de mais de cinco anos de aprendizado e experimentações no campo da fotografia documental, celebra os 8 anos da Ocupação e será feita em um dos prédios ocupados situado no fim da via principal da comunidade.

O espaço ganhou cara nova depois que integrantes do Coletivo e apoiadores somaram forças em mais de quatro semanas de mutirões de limpeza e reforma. Com as melhorias, o espaço será inaugurado como centro cultural e comunitário e irá abrigar a sede do Coletivo e da associação de moradores, fundada em 2023.

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A mostra, cuja curadoria e expografia têm coparticipação da Divisão de Artes Plásticas (DaP) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), será exibida até o dia 19 de outubro na Ocupação, sempre das 13h às 18h. Os textos de apoio são todos em português e espanhol, já que, atualmente, mais da metade das pessoas que habitam a área é composta de imigrantes venezuelanos e de outros países latinos.

Durante a exposição, serão apresentadas 84 fotos em tamanhos variados, impressas em alta qualidade em papel algodão. Também serão comercializados cartazes, pôsteres, fotografias, cartões postais e outros itens. Os valores arrecadados serão revertidos para financiar as atividades futuras do FotoFlores.

Além de, literal e simbolicamente, transportar o espectador para o cotidiano íntimo da Ocupação, explorando as nuances visuais, sonoras, táteis e olfativas próprias do local, a exibição evoca uma proposta político-social comprometida com o exercício da cidadania.

“Nosso propósito é prestigiar a história da Ocupação Flores do Campo, toda a luta, e contribuir com o desenvolvimento do bairro; valorizar os moradores enquanto sujeitos criadores e combater as narrativas estigmatizantes que anunciam o Flores somente como lugar de violência e privações”, explica o fotógrafo e advogado Gabriel Melhado, cofundador do Coletivo e coordenador das atividades.

Ele destaca que, ao estimular que o público londrinense e de cidades vizinhas se desloque até o Flores do Campo, e ao possibilitar que os jovens fotógrafos também circulem – como protagonistas­ – pelos outros espaços que receberão a mostra, a iniciativa busca romper o isolamento geográfico e político do bairro, fomentando o intercâmbio de saberes e experiências.

O Coletivo FotoFlores, formado por adolescentes da Ocupação Flores do Campo, abrem sua segunda exposição fotográfica, chamada Movimento em Construção, neste sábado.
Todas as fotos desta matéria estarão na exposição

“Desejamos também promover maior integração entre a própria comunidade, que abriga imigrantes de várias nacionalidades, e criar um espaço de convivência e integração entre a periferia e o centro”, conta Melhado, referindo-se à inauguração do centro cultural.

O membro do grupo Carlos Flores, de 16 anos, natural de Maturín, no nordeste da Venezuela, está ansioso para a estreia da exposição. Orgulhoso da força-tarefa que transformou o lugar, ele diz ter encontrado no FotoFlores uma segunda família. “Desde que entrei no coletivo, deixei de ficar só no celular, ocupei um tempo que era perdido. Passei a fotografar as crianças na rua, os meninos andando de bike. Melhorou a minha vida e, hoje, tenho os integrantes do grupo como meus irmãos”, avalia.

Formação 

Apresentar ao público a produção fotográfica do coletivo é o ponto alto de um processo iniciado ainda no começo do ano. Entre março e setembro, além de passeios fotográficos e encontros semanais de prática e aperfeiçoamento, os adolescentes participaram de oficinas formativas com profissionais das áreas de design, produção, curadoria, expografia, comunicação e assessoria de imprensa, que integram a equipe.

O objetivo era que eles se apropriassem dos conhecimentos envolvidos nas etapas produtivas da realização de uma exposição fotográfica, estimulando a autonomia e a capacitação dos jovens.

Programação

Além da exibição das fotos, a exposição no Flores do Campo contará com a realização de uma sessão de cinema promovida pelo Coletivo de Cinema Negro de Londrina (COCINE). A projeção do filme está programada para o dia 17 de outubro, às 19h.

Em 19 de outubro, encerramento da mostra no bairro, uma festa coproduzida pelos coletivos Quizomba e FotoFlores, das 13h às 18h, promete animar os moradores e visitantes. Dedicada à difusão de manifestações artísticas populares e de matriz africana, a celebração contará com diversas atrações.

Entre os dias 26 de outubro e 3 de novembro, a exposição poderá ser visitada no Canto do Marl (Movimento dos Artistas de Rua de Londrina), que funciona na avenida Duque de Caxias, nº 3241, na área central da cidade.  Já de 9 de novembro a 13 de dezembro será a vez da DaP/UEL, situada na rua Pernambuco, nº 540, também no Centro, receber as fotografias.

Coletivo 

Fundado em abril de 2019 como ambiente de experimentação fotográfica, de criação de vínculos e raízes, laços de amizade e autoconhecimento, o FotoFlores organizou em dezembro do mesmo ano, num barracão à época utilizado como espaço de encontro da comunidade, a primeira exposição do grupo.

Desde que foi criado, dezenas de jovens das mais diversas faixas etárias já passaram pelo coletivo. Alguns permanecem desde o início, outros se aproximam, experimentam, se afastam e voltam – como um corpo vivo que se expande e retrai, sempre em movimento.

Em 2024, o FotoFlores conta com patrocínio da Secretaria de Cultura de Londrina, por meio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PROMIC). No perfil do Instagram @coletivofotoflores é possível acompanhar a produção do grupo.

Flores do Campo 

Ocupado no dia 2 de outubro de 2016 por centenas de famílias de baixa renda na luta por moradia, depois que a construtora responsável abandonou o canteiro de obras, o Residencial Flores do Campo foi projetado para abrigar 1.218 unidades habitacionais entre casas e apartamentos através do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal.

Segundo a Companhia de Habitação (COHAB) de Londrina, em dezembro de 2023 o bairro servia de moradia para aproximadamente 380 famílias, cerca de 1200 pessoas. De acordo com lideranças locais, no entanto, atualmente esse número é maior. Além de brasileiros, venezuelanos, peruanos, chilenos e haitianos vivem no local. A falta de equipamentos públicos e as ações da polícia na área são alvo constante de queixas dos moradores. 

Serviço  

Exposição “Coletivo FotoFlores – Movimento em Construção”

De 5 a 19 de outubro, das 13h às 18h

No centro cultural e comunitário sede do Coletivo FotoFlores e da associação de moradores do bairro 

O Residencial Flores do Campo fica continuação da avenida Saul Elkind, no sentido Ibiporã, logo após a rotatória com a Angelina Ricci Vezozzo, nas proximidades da empresa Bemis.

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