Por Telma Elorza
“Hoje, com 15 anos, eu sei que sou gay, porque só me interesso e sinto atração física por meninos. Desde que me conheço por gente, saiba que não era igual aos meninos da minha idade. Sempre gostei de brincar de bonecas e com as meninas, fugia de brincadeiras violentas dos colegas da escola, era chamado de maricas, mas preferia cantar e dançar, meu sonho era ser bailarino. Apanhei muito do meu pai para mudar meu jeito. Nunca conseguiu, ele até desistiu de me bater. Mas percebo que ele e minha mãe se afastaram emocionalmente de mim. Sinto a rejeição dos dois, o comportamento deles comigo é totalmente diferente do que oferecem aos meus irmãos. Mas gostaria de mudar meu relacionamento com meus pais, que eles me aceitassem como sou. Será que é possível?”
Menino, que situação terrível você vive. Porém, saiba que não é o único. Em pleno século 21, ainda há pessoas que acreditam que a homossexualidade é pecado e não algo que nasce com a pessoa. Ninguém escolhe ser gay e é isso que as pessoas precisam entender
Para um jovem gay de 15 anos que sente a rejeição dos pais desde a infância, a situação é ainda mais complexa. Crescer sem apoio familiar afeta profundamente a autoestima e pode gerar muita tristeza e incerteza. No entanto, há maneiras de buscar apoio, autoconhecimento e até a possibilidade de construir uma relação mais positiva com os pais. Confira algumas sugestões de como agir.
Primeiro, saiba que a rejeição que você sente não é culpa sua. Muitos pais reagem de forma negativa à sexualidade dos filhos por ignorância, preconceitos ou medo do que não entendem. Então, antes de tentar mudar essa situação, é importante entender que sua orientação sexual é válida, inerente a você e você tem o direito de ser quem é. Este reconhecimento é o primeiro passo para lidar com a situação com mais confiança.
Sentir apoio é essencial, e ele pode vir de muitos lugares fora de casa. Procure se conectar com amigos, professores ou familiares mais compreensivos, que possam lhe acolher e oferecer um espaço seguro. Existem também grupos de apoio LGBTQIA+ para jovens, tanto on-line (como a Casa1, em São Paulo, e o Mães pela Diversidade) quanto presenciais em algumas cidades, onde você pode conversar com quem já passou por desafios semelhantes e aprender com suas experiências.
Pai, sou gay e quero seu amor
Se você sente que pode ter uma conversa sobre isso com seus pais, escolha um momento calmo, longe de pressões e brigas. Comece falando sobre o que você sente, sem acusar ou cobrar, mas explicando como a rejeição deles o afeta. Tente falar do quanto o apoio deles é importante para sua felicidade e bem-estar. Embora possa ser difícil, abrir esse diálogo pode ser o primeiro passo para que eles entendam a importância de o aceitar como você é.
Se os seus pais tiverem abertura, tente incentivá-los a aprender sobre temas LGBTQIA+. Às vezes, a rejeição vem da falta de entendimento ou de um medo infundado. Você pode compartilhar conteúdos que explicam questões sobre sexualidade e identidade, como vídeos, filmes e textos, que ajudam a quebrar preconceitos e abrir a mente para novas ideias. Esse contato pode ser transformador para algumas famílias.
A terapia é um recurso valioso, tanto para você quanto para seus pais, se eles estiverem abertos. Conversar com um profissional pode ajudá-lo a lidar com as emoções e a construir resiliência, além de fornecer orientações sobre como fortalecer sua autoestima. Existem psicólogos e organizações especializados em atender jovens LGBTQIA+, que oferecem um suporte especialmente pensado para esses casos.
É normal querer ver uma mudança imediata, mas as pessoas têm seu próprio ritmo para processar novas informações e lidar com o que não conhecem. Paciência é importante, mas isso não significa que você deva aceitar desrespeito ou maus-tratos. Mantenha sempre a perspectiva de que o apoio e a aceitação são essenciais, e que é saudável se afastar, caso a situação esteja afetando sua saúde mental.
Mesmo que a situação familiar continue complicada, trabalhe para construir um relacionamento de aceitação consigo mesmo. O valor de quem você é não depende da aceitação dos seus pais, e seu direito de ser feliz e amado começa por se valorizar como pessoa. Lembre-se de que a comunidade LGBTQIA+ é cheia de histórias de superação, e que você pode encontrar apoio e inspiração ao seu redor.
A rejeição familiar pode ser muito dolorosa, mas com apoio, autocuidado e paciência, é possível fortalecer-se e, quem sabe, abrir espaço para que seus pais mudem. Lembre-se: você não está sozinho e merece respeito e amor exatamente como é.
Espero ter ajudado.
Tem dúvidas sobre relacionamentos? Mande um e-mail para telma@olondrinense.com.br

Quem é a Tia Telma
Telma Elorza é jornalista, divorciada e adora dar pitaco na vida dos outros. Mas sempre com autorização.
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