Por Telma Elorza
“Tenho 18 anos e me assumi lésbica recentemente. Há anos, no entanto, sou apaixonada pela minha amiga e vizinha. Só que ela nunca deu sinais que sente atração por mim. Não aguento mais e queria me declarar para ela. Mas, ao mesmo tempo, tenho medo de perder a amizade e nos afastarmos, se ela me rejeitar. O que faço?”
A dúvida sempre cruel das pessoas – sejam heteros ou homossexuais – que se apaixonam pelos amigos: vou perder a amizade se for pra cima? A resposta é: independente da orientação sexual, vai. Porque, se não for recíproco, vai criar um constrangimento entre eles. O objeto da paixão vai se sentir incomodado de saber que tem alguém ao lado que o ama e, por não corresponder, vai se sentir culpado; assim como o apaixonado vai se sentir magoado e o afastamento será inevitável.
Se for recíproco, ótimo, mas mesmo assim vai perder aquele(a) amigo(a) porque o relacionamento de amizade muda quando há um namoro. Não é mais o(a) amigo(a), é o(a) namorado(a). Aquela amizade sincera, com trocas de segredos, em geral, muda. Raros são os casos onde os namorados ainda se mantém os melhores amigos. E se o relacionamento não der certo, terminar, dificilmente continuarão amigos.
Mas a pergunta que a leitora não respondeu é: se assumiu lésbica também para a amiga e vizinha ou só para si? Vai ser uma surpresa para ela? Porque se elas estiverem num verdadeiro relacionamento de amizade, a vizinha deve saber da sua orientação sexual (veja, eu não uso o termo OPÇÂO, porque não é uma opção, a pessoa já nasce homossexual). Se não, talvez sejam mais colegas que amigas. E o caso muda de figura.
No caso da leitora ter não ter se assumido para o mundo todo, incluindo a vizinha, talvez seja o caso de fazê-lo. Não precisa publicar nas redes sociais, mas talvez seja interessante ter uma conversa franca com a família imediata. Não é fácil, eu sei. Há muito preconceito idiota ainda por aí e as reações, na maioria das vezes, são negativas, mesmo de quem deveria acolher. Mas com 18 anos e já se auto aceitando que é lésbica – o processo de auto conhecimento, afirmação e aceitação leva anos, geralmente -, me parece que teve uma educação mais liberal e, portanto, talvez a conversa não seja tão difícil. O mesmo deve ser feito com a pessoa do seu interesse. Converse com ela, veja a reação e aí, a partir disso, decida se fala ou não da sua paixão.
No caso dela e do mundo já saberem de sua orientação sexual, o melhor mesmo, antes de tomar qualquer atitude, é avaliar o que é mais importante para a leitora: a amizade ou a paixão? Se teme perder a amizade mais que uma possível namorada, talvez seja o caso de ficar quieta e manter as coisas como estão.
Mas se acha que vai morrer de amores se ela não for sua, avalie a possibilidades antes de prosseguir. O primeiro deles é a orientação sexual da amiga. Alguma vez, ela se disse homossexual? Ou que gostaria de ter experiências homossexuais? Se sim, vá em frente. Se não, há outros indícios que devem ser analisados.
Na maioria das vezes, a gente percebe quando alguém está interessado em nós. Pode não parecer, mas há todo tipo de sinais que mostram que a pessoa seria receptiva. O maior deles é o toque. Pessoas interessadas gostam de tocar o pretendente a todo momento. Arrumar o cabelo da pessoa, por exemplo. Estar sempre se esbarrando, colocando a mão no braço, nas costas. As conversas pé de ouvido. E por aí vai. Se ela estiver dando esses sinais, é o caso de chamar para conversar e expor seus sentimentos. Se, no entanto, não detectar nada do tipo, talvez seja melhor ficar quieta e não prosseguir. Melhor manter a amizade.
Quem é a Tia Telma
Telma Elorza é jornalista, divorciada e adora dar pitaco na vida dos outros. Mas sempre com autorização.
Arte: Mirella Fontana