Tarsila do Amaral em Paris

A Metrópole, 1958 © Photo Marcelo Spatafora © Tarsila do Amaral Licenciamento e Empreendimentos S.A - 72 dpi

Por Chantal Manoncourt

O Museu de Luxemburgo dedica uma exposição às obras de Tarsila do Amaral, intitulada “Tarsila do Amaral. Pintando o Brasil Moderno”. Esta retrospetiva explora esta rica herança, entre as influências indígenas, o modernismo e o movimento antropofágico.

O Museu de Luxemburgo está, até fevereiro de 2025, com a exposição Tarsila do Amaral. Pintando o Brasil Moderno. São 150 obras de uma artista que deixou uma rica herança cultural
Rio de Janeiro © Ema Klabin House Museum Archive, photo Patricia de Filippi, Sergio Zacchi, Gabriel Villas-Boas

Esta exposição, que reúne mais de 150 obras e documentos, convida você a mergulhar no mundo desta artista, nascida em 1886 e falecida em 1973. Verdadeira pioneira e figura emblemática do modernismo brasileiro, Tarsila do Amaral soube criar um estilo original e colorido, às vezes estranho e confuso, refletindo um Brasil em plena transformação.

Paris/São Paulo

Em 1920, Tarsila do Amaral fixou residência em Paris até 1922, reproduzindo a trajetória típica dos pintores acadêmicos brasileiros, mas esta estadia esteve longe de representar um choque cultural para a jovem artista que cresceu na cultura francesa do século XIX desde a infância. Embora matriculada na tradicional Academia Julian, ela prospera na atmosfera agitada (inquieta) da cena vanguardista da capital.

Durante sua ausência, o movimento fundador do modernismo brasileiro, a Semana de Arte Moderna de 1922, aconteceu em São Paulo. Ela então apressou-se em retornar ao seu país para se juntar ao “O grupo dos Cinco” – Tarsila do Amaral, Anita Malfatti, Oswald e Mário de Andrade, Menotti del Picchia –, radicado em São Paulo e pilar do futuro movimento modernista. Em 1923, foi convidada para o salon das artistas franceses e aproveitou a estada parisiense para fazer amizade com Jean Cocteau, Fernand Léger, Constantin Brancusi e Robert Delaunay.

 A invenção da paisagem brasileira

 “Você não vai acreditar… mas foi no Brasil que tomei contato com a arte moderna”, escreve Tarsila que encontra cada vez mais inspiração nas terras de seu país de origem.

A partir de 1924, ela partiu para redescobrir São Paulo, uma metrópole dinâmica, depois o Rio de Janeiro com sua paisagem exuberante, finalmente Minas Gerais, rica em vestígios coloniais e barrocos. Esta viagem, às portas do Brasil profundo, dá-lhe a conhecer assuntos populares com descrições idílicas de favelas e cenas de carnaval associadas a cores vivas no meio de uma

Torre Eiffel!

Tarsila criará uma série que batizará com o nome da árvore que deu origem ao nome do país, pau brasil. É também o termo escolhido pelo poeta Oswald de Andrade para nomear um primeiro manifesto modernista no qual declarava que uma arte brasileira autônoma só seria possível através da integração harmoniosa de fontes ameríndias, africanas e europeias: o Manifesto Pau-Brasil (1924).

Urutu, 1928 © Gilberto Chateaubriand MAM Rio de Janeiro, Photo Romulo Fialdini and Valentino Fialdini

Canibal Brasil

Em 1928, a figura de Abaporu, que significa na língua tupi-guarani: “Homem que come outro homem”, deu origem ao movimento antropofágico.

© Photo Romulo Fialdini

Depois de ter esculpido em Paris um universo iconográfico marcadamente brasileiro, influenciado pelo cubismo e pelo primitivismo, Tarsila teve papel determinante na fundação desse movimento nascido em São Paulo, em 1928. Movimento este, que viria da prática indígena do canibalismo simbolizando o “devorar o outro” para assimilar suas qualidades, corporifica a forma como os brasileiros se apropriaram e reinterpretaram as culturas estrangeiras e coloniais.

Trabalhadores e novas paisagens

No final de 1929, Tarsila sofreu as consequências da quebra da bolsa de Nova York. Com seus imóveis hipotecados, ela deve se acostumar a um estilo de vida muito mais modesto do que aquele que conhecia até então. Uma viagem à URSS marca o conteúdo e o estilo de suas novas pinturas que seguem os preceitos do realismo social encontrados em Operários e Trabalhadores. Assim Tarsila continua a explorar o mundo do trabalho com olhar crítico em ambiente rural ou industrial. Na década de 1950, ela revisitou e atualizou os motivos de suas composições anteriores, como evidenciado pela paisagem urbana da Metropole de São Paulo, com seus arranha-céus cada vez mais altos, azul-acinzentados, com vista para casas antigas e vegetação tropical.

Tarsila do Amaral não parou de pintar até sua morte, em 1973. No final da vida, seu trabalho foi reconhecido por inúmeras instituições internacionais: participou da primeira bienal de São Paulo em 1951, representou o Brasil na Bienal de Veneza de 1964… Em França, os seus trabalhos foram recentemente apresentados nas exposições “Pionnières” (2022) e “Le Paris de la modernité”, no início de 2024. Apesar de tudo, sua obra permanece pouco conhecida do grande público e mereceu uma grande retrospectiva em Paris, reafirmando assim os laços culturais entre a França e o Brasil.

Serviço: Tarsila do Amaral. Peindre le Brésil Moderne. Musée du Luxembourg 19 rue de Vaugirard 75006 Paris até 2 de fevereiro 2025.

© Tarsila do Amaral Licenciamento e Empreendimentos S.A

Foto principal: A Metrópole, 1958 © Photo Marcelo Spatafora

 Chantal Manoncourt

Todo o fascínio egípcio está exposto em duas exposições que acontecem em Paris. A primeira delas leva até o Egito dos Faraós

Parisiense, arqueóloga e jornalista, apaixonada pelo Brasil, já escreveu vários livros sobre turismo brasileiro.

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