Artistas viajantes: uma exposição feminista na Bretanha

112_Bo©musée du quai Branly_Claude Germain© Boullard-Devé Marie Antoinette

 Por Chantal Manoncourt

O museu Pont-Aven, na Bretanha, oferece uma exposição original – Artistas Viajantes – reunindo o trabalho dessas primeiras feministas, pioneiras que viajaram pela África e pela Ásia entre a Belle Époque e a Segunda Guerra Mundial.

Na década de 1880, um novo contexto, o dos primeiros movimentos feministas, encorajava as mulheres a afirmarem-se fora do espaço doméstico e promovia a imagem de uma “nova mulher” como protagonista do seu destino. A ação da União das Mulheres Pintoras e Escultoras, fundada em 1881, concretizou-se em 1900 com a abertura na Escola de Belas Artes de dois ateliês, um de pintura, outro de escultura, reservados à mulher. A sua formação acadêmica, quer seja realizada nas Belas-Artes quer em academias privadas, permite às artistas mulheres adquirir um estatuto profissional e obter bolsas de viagem, comissões para companhias de navegação ou para exposições universais e coloniais.

 Um historiador da arte escreveu que a história da arte foi pensada, escrita, transmitida por homens e quando se nasce mulher, ser artista, ter acesso a ela, produzir, continuar a ser é uma luta permanente por mais exaustivo que seja. O momento agora parece propício para revisitar e olhar de forma diferente as criações de quem teve a coragem de desafiar as regras para satisfazer a sua vocação.

Artistas viajantes 1880-1944

 A exposição Artistas viajantes 1880-1944 ilustra assim a emancipação da mulher, a sua liberdade de criar e de viajar. Elas optam por acompanhar seus maridos, professores, engenheiros ou arquitetos, para desenvolver seu próprio itinerário artístico, mas algumas viajam sozinhas e embarcam em Marselha para Marrocos ou Dakar. O olhar dessas artistas femininas é, sem dúvida, diferente do dos homens.

A presença de numerosos retratos indica a procura de proximidade com as populações encontradas, em particular as mulheres no seu quotidiano, às quais têm mais facilidade de acesso, longe de um orientalismo fantasiado com estas pinturas de mulheres em haréns, rodeadas de dóceis criados. Quanto ao soberbo friso de Personagens da Indochina, surpreende e informa sobre o exotismo dos trajes, o detalhe dos bordados e a originalidade das joias.

 A exposição também se concentra em artistas raros que não pertencem à cultura ocidental. A jovem República Chinesa, fundada em 1912, busca renovar a educação artística tradicional e incentivar a das mulheres. O método de ensino da Escola de Belas Artes de Paris parece capaz de modernizar a decadente pintura chinesa.

A criação, em 1921, do Instituto Franco-Chinês de Lyon permite a jovens artistas chineses, entre os quais várias mulheres, confrontarem-se com as técnicas artísticas ocidentais. É o caso de Pan Yuliang, que ingressou na Escola de Belas Artes de Paris, em 1923, produzindo muitos nus femininos. Ela expôs em Paris e depois voltou para a China para ensinar em Xangai e Nanjing. O visitante maravilhado e depois conquistado deixa-se atrair para este apelo de uma distância que faz inveja a algumas das ideias de viagem a estas terras exóticas.

Serviço: Artistas viajantes 1880-1944, até 5 de novembro de 2023 no Museu Pont-Aven, Place Julia 29330 Pont-Aven

Fotos: © Xavier Nicostrate, Alain Le Prince Roubaix, Mirela Popa, Hassan El Mansourii Rabat, musée Cernuschi, musée du quai Branly

Chantal Manoncourt

Parisiense, arqueóloga e jornalista, apaixonada pelo Brasil, já escreveu vários livros sobre turismo brasileiro.

Leia todas as colunas do Conexão Europa

(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.

LEIA TAMBÉM

https://olondrinense.com.br/mulher-tira-esse-cropped/

Compartilhe:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Anuncie no O Londrinēnse

Mais lidos da semana

Anuncie no O Londrinēnse

plugins premium WordPress