Arquitetura insólita na França

Palais Idéal - Hauterives ©L.Pascale-Drome-Attractivite (1)

Por Chantal Manoncourt

Artistas pouco conhecidos, construtores de sonhos ou visionários, uma irmandade de criadores extraordinários pontilharam a paisagem francesa com construções maravilhosas de uma arquitetura insólita que dão asas à imaginação.

Um sonho de pedra

Onde estamos? O visitante poderia de repente pensar, incrédulo, contemplando diante de si a extravagante construção da aldeia de Hauterives. Na Ásia? Na Oceânia ou em outro planeta? É verdade que o contraste é marcante com as suaves colinas circundantes. Chamado de Palácio Ideal pelo seu brilhante inventor e construtor Ferdinand Cheval (1836-1924), mais conhecido como Palácio do Carteiro Cheval, no norte dos Alpes, na porta de entrada do sonho e da imaginação. Uma história que lembra um conto.

Ao viajar pelo campo entregando  correspondência, este homem simples e reservado descobre uma pedra de forma estranha que parece esculpida pela natureza. A partir daí, ele trouxe em seu carrinho de mão todo tipo de seixos e fragmentos de pedras que excitavam sua imaginação.

A França esconde tesouros, uma  arquitetuira insólita e inusitada, espalhada por todo país. Conheça algumas dessas preciosidades

 

Aos 43 anos realizou o sonho e o projeto, iniciado em 1879, duraria mais de trinta anos. Com uma simples espátula, ele construiu principalmente à noite, à luz da lua ou de velas, e aos poucos foram aparecendo torres, escadas, cavernas e animais onde curiosamente estão incrustados, um templo Khmer, um chalé suíço, um santuário hindu, um castelo feudal, uma mesquita. Esta obra surreal e ingênua, uma fantástica mistura cultural que reflete a vontade extravagante do artista de reunir todas as arquiteturas do planeta, foi classificada como monumento histórico por André Malraux, em 1969, então Ministro da Cultura.

Um universo extravagante

Em Chartres, a casa Picassiette é um belo exemplo. Restos de porcelana, louças quebradas e pedaços de vidro colorido estão na origem da incrível decoração da casa de Raymond Isidore (1900-1964), que foi varredor de cemitério. À noite, depois do trabalho, durante as caminhadas, ele recolhia cacos de vidro, pedaços de porcelana e faiança ou objetos quebrados para decorar sua casa. Muito religioso, ilustrou as paredes de inúmeras catedrais e criou inúmeras cenas religiosas. No interior, os pisos, tetos, paredes, móveis desaparecem sob os mosaicos coloridos.

 

Durante trinta anos, este artista original incrustou o seu pátio e jardim com milhares de fragmentos para oferecer uma extraordinária policromia onde paisagens, flores, pessoas e animais se misturam num verdadeiro Éden. Uma forma deste homem modesto esquecer o seu trabalho, que viveu como uma terrível humilhação: “Fui feito varredor de cemitério como alguém atirado entre os mortos”. Decidiu assim engrandecer a sua vida construindo um palácio multicolorido para abrigar os seus sonhos de um príncipe místico.

 

Um palácio exótico

Uma mudança de cenário garantida também no sul da Bretanha, em Cossé-le-Vivien, onde se destaca uma residência muito curiosa criada nos anos sessenta por Robert Tatin (1902-1983).  Esculpindo criaturas surpreendentes inspiradas na arte chinesa ou asteca, construiu um estranho palácio com obras monumentais com nomes evocativos, o Dragão, o Refúgio das Borboletas ou mesmo o Beco dos Gigantes, forrado com dezanove estátuas, personagens que Tatin admirava: Picasso, Joana d’Arc, Jules Verne… Este lugar mágico, transformado em museu, reflete o incrível talento de um artista que foi ao mesmo tempo pintor, escultor, ceramista que quis “rumar às estrelas”.

 

Rochas insólitas 

Como uma Ilha de Páscoa bretã, em torno de Saint-Malo, mais de 300 cabeças carrancudas de corsários e pescadores contrabandistas espalham-se por 500 m2, olhando com orgulho para o Oceano Atlântico. Foi um simples padre caipira, o Abade Fouré, que, no final do século XIX, de 1894 a 1907, imortalizou nas rochas à beira-mar a terrível saga da família Rothéneuf, uma tribo de piratas de pai para filho desde o século XVI. Temos a impressão de que as ferramentas do artista apenas seguiam a morfologia da pedra, especificando o contorno de um rosto ou de um nariz já esculpido pela fantasia da natureza, dos ventos, da maresia e das ondas.

 


Palais du Facteur Cheval, 8 rue du Palais, 26390 Hauterives, a 546 km de Paris

Maison Picassiette, 22 rue du Repos 28085 Chartres, a 90 km de Paris

Museu Robert Tatin, La Frénouse, 53230 Cossé-le-Vivien, a 300 km de Paris

Rochers de Rothéneuf, a 5 km de Saint-Malo, 35400 e 320 km de Paris

Fotos: © L.Pascale-Drome-Attractivité; Studio Martino

Chantal Manoncourt

Todo o fascínio egípcio está exposto em duas exposições que acontecem em Paris. A primeira delas leva até o Egito dos Faraós

Parisiense, arqueóloga e jornalista, apaixonada pelo Brasil, já escreveu vários livros sobre turismo brasileiro.

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