Por Chantal Manoncourt
Da campanha do Egito de Bonaparte à decifração dos hieróglifos, a França sucumbiu no século XIX a uma verdadeira paixão pela antiguidade egípcia.
O Oriente sempre fascinou o Ocidente. Quem nunca sonhou lendo os Contos das Mil e Uma Noites? À sua expedição militar (1798-1801), Bonaparte associou uma missão científica e cultural. Assim, 160 estudiosos, entre historiadores, designers, pintores, botânicos, orientalistas e engenheiros, são responsáveis por estudar e descrever o país. Todo esse trabalho inédito, mesmo do ponto de vista etnológico e sociológico, lançou as bases da egiptologia e marcou a história da ciência. Os estudiosos de Bonaparte até revelaram o Egito para o mundo e para si mesmo, porque, na época, os egípcios não se interessavam por seu passado faraônico e até rejeitavam um passado que consideravam pagão.
A publicação da obra Description de l’Egypte, encomendada por Napoleão Bonaparte, depois a decifração de hieróglifos em 1822, por Jean-François Champollion, inflamou a população, que era apaixonada pela civilização egípcia e deu origem a egiptomania, ilustrada por inúmeras reproduções de fontes, paredes esculpidas, pinturas, joias…
A comemoração do bicentenário desta descoberta deu origem a inúmeras manifestações culturais, a começar pelo restauro do Obelisco. Oferecido ao rei da França em 1830, pelo vice-rei do Egito, é o monumento histórico mais antigo de Paris. Esculpida há 3.300 anos durante o reinado de Ramsés II, tem 23 m de altura, pesa 222 toneladas e sua pequena pirâmide de bronze dourado mede 3,60 m. A sua restauração custou 1 milhão de euros.
A exposição “Faraó das Duas Terras”, apresentada no Museu do Louvre, contou a epopeia africana desses novos reis do sul. É possível admirar objetos muito bonitos, típicos do estilo artístico deste período, como a magnífica estátua do rei Taharqa fazendo uma oferenda ao deus falcão. Outra exposição fascinante, dedicada a Champollion e à decifração de hieróglifos, está atualmente em exibição no Museu Louvre-Lens. Abundantemente ilustrado, revela como o cientista conseguiu desvendar o mistério dessa linguagem congelada em pedra para a eternidade.
Finalmente, para visitar a pirâmide de Quéops sem ir ao Cairo, o Institut du Monde Arabe em Paris propôs O Horizonte de Quéops, uma verdadeira expedição de realidade virtual imersiva que mergulha o visitante no coração e no topo da pirâmide para uma incrível viagem até embarcar no barco solar do faraó. Irreal e mágico… O Egito e seus tesouros continuam a fascinar e acender a imaginação de todos.
A exposição Champollion, O Caminho dos Hieróglifos é apresentada até 16 de janeiro de 2023 e O Horizonte de Quéops, a partir de 3 de novembro no Centre Confluence em Lyon
Fotos: ©Musée du Louvre, RMN, Gettyimages, Louvre Lens/Laurent Lamacz, Excurio by Emissive
Chantal Manoncourt
Parisiense, arqueóloga e jornalista, apaixonada pelo Brasil, já escreveu vários livros sobre turismo brasileiro
1 comentário
Sempre um prazer ler as crônicas de Chantal Manoncourt que sabe nos fazer viajar e sonhar sem deixar a nossa casa. Bravo