Por Fábio Luporini
Quando me deparo com jovens que, tão jovens, enfrentam problemas de saúde mental, fico pensando em que ponto nossa sociedade está falhando. Afinal, com tantos recursos tecnológicos, tanto avanço e desenvolvimento social e na área da saúde, ainda estamos deixando uma geração inteira sofrer quando, na realidade, era possível evitar ou tratar os conflitos que levam à depressão, suicídios e outras situações mentais.
Dados apontem que a geração Z, nascida entre 1995 e 2010 é a mais “estressada”. Sete em cada dez jovens nessa faixa etária já sentiu sintomas de depressão. E isso é preocupante demais. Uma idade que quase coincide com a do cantor e compositor canadense Justin Bieber. Semana passada ele esteve no Brasil para fazer um show no Rock in Rio. E sua presença ora era confirmada ora era descartada, justamente por conta da instabilidade emocional que o jovem sentia. Aliás, no início do show, ele compartilhou isso com o público e pediu uma oração.
Gosto do Justin Bieber. E acho que essa atitude só ajuda a trazer ao debate assunto tão importante. No Brasil, por exemplo, 37% dessa geração Z diz que sofreu depressão em algum momento da vida. Portanto, uma referência mundial e artística como Bieber pode contribuir para entendermos onde a sociedade está falhando. Será na presença familiar? Ou no suporte dado a esses jovens pelas instituições sociais, como a própria família, a escola, a Igreja e o Estado?
O sociólogo Émile Durkheim, que estudou o suicídio, diz que quando isso ocorre com frequência é porque existe uma anomia social, ou seja, algo que está fora de ordem. E que precisa ser tratado. Muitas vezes, o plano espiritual é o local onde se encontra refúgio e conforto quando há sintomas de doença mental. Entretanto, nós não podemos transferir para o plano espiritual, qualquer que seja, a responsabilidade por uma questão humana e terrena.
Então, Justin, continue sendo uma referência à sua geração (embora você tenha nascido um ano antes do início oficial da geração Z) e torne-se um porta-voz mundial dessas questões. Torço para que o cantor e compositor consiga resolver consigo essas questões, a despeito da pressão sobre humana que há nele. Quem está doente, na verdade, é a sociedade, o que deixa seus indivíduos doentes também. É a sociedade que precisa ser tratada.
Fábio Luporini
Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.
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