Por Fábio Luporini
Quando adolescente, uma das passagens bíblicas que mais marcou minha participação nos grupos de jovens era a que dizia sobre fé: uma certeza daquilo que não se vê (Hebreus 11). De fato, a fé é uma crença inabalável, uma confiança depositada de maneira incondicional a algum valor, ideia, ideologia ou pessoa, aos quais crê-se verdadeira e absolutamente. Entretanto, é preciso ponderar e equilibrar esse tipo de fé, senão, corre-se o risco de se tornar uma pessoa completamente cega.
Vamos dar alguns exemplos? O namorado ou namorada que acredita cegamente no amor do outro, nem sempre consegue enxergar quando um relacionamento é tóxico. Sob o pretexto da paixão ou do amor, acredita-se que o que a pessoa faz é em razão desse tipo de sentimento, quando, na verdade, diz muito mais sobre ciúmes e posse do que sobre amor. Então, nesse caso, depositar a fé em um relacionamento amoroso passa a ser uma cilada, uma errônea ideia de que se está abrindo mão da vida em nome de uma paixão.
Da mesma maneira, depositar a fé inabalável e inquestionável em um político é um erro mais comum do que se pode imaginar. O político normalmente é contratado para trabalhar pela população, não para ser defendido por ela. Por isso, é ridículo cegamente não questionar as ações dos agentes públicos que deveriam prestar contas sobre seus feitos e serviços à população. Assim, criamos verdadeiros monstros que estabelecem privilégios, benefícios e sigilos em seus atos. Daí explica-se não quererem largar o osso, não?
O mesmo vale para um jogador de futebol, para um astro ou artista alçado ao estrelato. Colocá-los num pedestal inatingível é burrice já que, como seres humanos, estão sujeitos a falharem, decepcionarem e frustrarem nossas expectativas. Por isso mesmo é que a fé cai melhor em questões sobrenaturais, em explicações misteriosas e inexplicáveis. Afinal, a fé não pode justificar o que é injustificável.
Fábio Luporini
Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.
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