A democracia está sendo distorcida. E manipulada. Mais que isso, direcionada. Muito por conta da tecnologia, dos algoritmos e de tudo o que as redes sociais possibilitam. Estão ascendendo ao poder, no mundo todo, grupos ou ideologias que não necessariamente representam a pluralidade e diversidade social. Mas, que, infelizmente, usurpam discursos aparentemente gerais em nome de uma parcela da população.
Esse fenômeno não é novo. Ao contrário, vem se estabelecendo na última década. Alguns dizem, por exemplo, que os sistemas democráticos vigentes favorecem a participação das pessoas em vez do conhecimento que se tem acerca do corpo político e da própria realidade. O que, dessa forma, permite que as pessoas façam escolhas irracionais. Dizendo assim, até parece que flertamos com regimes autoritários ou totalitários. Talvez o sejam, completamente distorcidos.
Entretanto, vamos à fonte da democracia, o berço deste regime, que é a Grécia Antiga. Já naquela época os grandes filósofos se debruçavam sobre essas questões. Entre eles, Platão, para quem a sociedade deveria ser uma sofocracia, ou seja, governada pelos mais sábios. No caso, os filósofos. É que, segundo ele, são os filósofos aqueles que têm sabedoria para decidir as coisas, independentemente dos interesses particulares ou individuais. Os governo dos mais sábios seria uma realidade factível porque, para Platão, as pessoas seriam preparadas para tal, da mesma forma que seriam preparadas para serem comerciantes ou guerreiros.
E hoje, isso daria certo? Alguns especialistas defendem a epistocracia, um sistema de tomada de decisões em que a pessoa que tem direito a voto é (ou são) aquela que tem conhecimento real e gera sobre as questões da sociedade a serem decididas. Até aí, tudo bem. Mas, quem é que define quem tem conhecimento suficiente para poder governar? É aí que reside o problema. Vivemos numa época em que todo mundo acha que é especialista em tudo. E opina sobre tudo. É a era dos doutores do Facebook.
Para que sistemas assim pudessem dar certo, seria necessário criar critérios muito bem elaborados a fim de evitar que qualquer um se auto proclame conhecedor de tudo.
Foto: Pixabay
Fábio Luporini

Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.
Respostas de 2
A possibilidade de opinar trazida pelo advento das redes sociais, abrangente e com poder de alcance, que antes não existia, é uma conquista da comunicação social. Há opiniões incríveis de internautas, bem embasadas, fundamentadas ou no mínimo coerentes. E, há aquelas totalmente sem nexo, enviesadas, tendenciosas, idiotas, preconceituosas, desrespeitosas. Trouxe a oportunidade do debate e de informações instantâneas.
Não vivenciamos uma cidadania plena, logo não vivenciamos uma democracia plena. Os partidos políticos são responsáveis por essa democracia distorcida, com sua habitual demagogia. As elites também são responsáveis porque concentram poder e riqueza e a mídia, por sua vez, não contribui muito para o fortalecimento da democracia. A mídia estabelecida deveria exercer esse papel na construção de uma democracia plena. As mídias independentes não possuem o alcance desejável.
Sem dúvida, democracia, comprovou-se ser o melhor regime político.