Entre os dias finais de 2020 e os primeiros de 2021, passo pelos stories do Instagram e vejo uma profusão de pessoas na praia, viajando para outros lugares, desfrutando das tão merecidas férias. Seria uma virada como outra qualquer, daquelas que a gente pensa que tudo fique diferente tão logo o relógio deixe a meia-noite do ano velho para os minutos iniciais do ano novo. Entretanto, um detalhe parece que passou despercebido a tanta gente: a pandemia do coronavírus, que, no Brasil, segue a todo vapor junto da incompetência do desgoverno.
Desse jeito, de que forma poderemos viver, efetivamente, o feliz ano novo desejado entre todos? Nós sempre esperamos algo novo e diferente. Mas, continuamos a fazer as mesmas coisas que antes. Veja: desejamos o fim de uma pandemia, mas, celebramos e festejamos como se ela não existisse, como se não matasse. Resgatemos o pensamento de Epicuro (341 a.C. – 270 a.C.), filósofo grego recorrente por aqui. Para ele, a felicidade se encontra no prazer das coisas e isso não significa muito. Basta remover os desejos excessivos, não-naturais, satisfazendo aqueles que fazem parte da essência humana: comer, beber, morar, etc.
O que se vê, todavia, é uma ostentação fora do comum. As pessoas não querem comer, beber, morar. Elas querem ostentar. E aí, fica quase que impossível satisfazer os votos de feliz ano novo se colocamos a felicidade em bens que estão além da nossa capacidade ou necessidade. Em situações e coisas que não são, de fato, necessárias para a nossa felicidade. Eu sempre digo que o carro tem uma função: levar e trazer. Se ele a cumpre, já faz todo o sentido lógico do mundo. Mas, as pessoas querem um carro com design assim, com câmbio daquele jeito, de tal cor, com teto solar… e aí vão fazendo crescer a lista de desejos não naturais.
Obviamente que não há problema em querer ter um carro de luxo. Não é essa a questão. O grande problema, por sua vez, é não nos contentarmos ou não conseguirmos ser felizes com o básico, como pressupõe Epicuro. E nesse ponto a filosofia é fundamental, porque nos ensina a moderar e equilibrar as coisas, a própria vida. Então, neste início de 2021, desejo a você mais filosofia!
Fábio Luporini

Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.
Foto:Suleyman Seykan no Pexels