Enfia no cu é uma expressão pejorativa do português informal composta pelo verbo enfiar e pelo objeto direto “no cu”. Este último é variável. Pode ser também “no rabo”. E é uma instrução a alguém que introduza algo em seu ânus: um fato, uma ideia, um argumento ou qualquer objeto. No caso do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), que levou a sério a recomendação, foram quase R$ 33 mil ou cerca de 30 salários mínimos. Mais que isso: o nobre senador da República (sentiu a ironia?) enfiou no cu cada um dos votos que recebeu para ser eleito. Enfiou no cu a representatividade do povo brasileiro, a dignidade do eleitor, a honra, a ética e a moral.
Para continuar a utilizar expressões informalmente aceitas e compreendidas pela população, podemos classificar tudo isso como “é de cagar, né?” ou como “é de cair o cu da bunda!”. Um tapa na cara da sociedade de uma classe que vive esfregando merda na cara do povo e arrotando a arrogância de se livrar de tudo tão facilmente. Com a ajuda da estrutura do Estado, paga pelo contribuinte, e com subterfúgios e mecanismos de perpetuação do poder. E da corrupção. É que, com o senador de licença por 121 dias, quem assume a vaga é o suplente. No caso, o próprio filho, Pedro.
Um detalhe a mais na republiqueta tupiniquim em que o próprio presidente do país se vale da estrutura, órgãos e instituições públicas para safar o filho de acusações de corrupção e outras coisas mais. Nada muito diferente do que acontece nos rincões do Brasil. Vide em Londrina, onde exemplo não falta. O candidato a prefeito Boca Aberta (Emerson Petriv), tendo a candidatura indeferida pela Justiça Eleitoral, já havia escolhido o próprio filho para ser vice, pensando justamente em casos como esse. A classe política brasileira (não apenas) confunde os limites éticos entre a esfera pública e o âmbito privado. Muito em função das raízes históricas, patriarcais e autoritárias brasileiras. Já passou da hora de mudar!
Fábio Luporini

Sou jornalista formado pela Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina.
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