Por Marcelo Minka
Imagine-se em 2014, no aconchego do seu lar, inverno gelado lá fora, e você debaixo das cobertas lendo um bom livro enquanto degusta um chazinho pra aquecer ainda mais a alma. O livro em questão é de autoria da romancista canadense Emily St. John Mandel, Station Eleven, sucesso mundial traduzido para 33 idiomas e, agora, maravilhosamente adaptado para o streaming HBO em uma série limitada.
E mais uma vez a HBO acerta em cheio tanto na produção impecável quanto no momento exato para o lançamento. Station Eleven gira em torno de uma pandemia fictícia de gripe suína que devastou o mundo, matando noventa e nove por cento dos seres humaninhos. Aí já percebemos a arte imitando a vida, a autora escreve de maneira profética e com detalhes assustadores o que estamos experienciando no nosso cotidiano, de maneira amenizada, é claro, porque temos vacina!
Confesso que, se eu tivesse lido o livro antes de 2020, estaria tremendo de medo, afinal, cepas inusitadas aparecem a todo momento em nossas vidas. A trama, do livro e da série, conta a história pós pandêmica em cenário apocalíptico, acompanhando uma companhia de teatro Shakespeareana itinerante denominada Sinfonia Viajante. A companhia se movimenta pela região dos Grandes Lagos da América do Norte, interpretando as peças sanguinárias de Shakespeare para pequenos grupos de sobreviventes que se uniram em acampamentos. Dentro da história, a arte também imita a vida.
A excelente e inusitada direção da série ficou por conta de Hiro Murai, famoso por dirigir vídeo clips de artistas pops famosos. Murai trabalha sua direção intercalando e misturando passado e futuro, conseguindo em alguns episódios, rasgar nossos corações. No casting: Mackenzie Davis (O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio – 2019), Gael Garcia Bernal (Amores Perros – 2000), Daniel Zovatto (Corrente do Mal – 2014) e muitos outros em interpretações excelentes.
A produção consegue arrastar para a série o profundo questionamento do livro, “o que nos torna humanos?” Então surge o teatro shakespeareano mostrando a importância da arte num mundo já devastado. É o que diz constantemente o Sinfonia Viajante: SOBREVIVER É INSUFICIENTE, mesmo num mundo apocalíptico.
Marcelo Minka
Graduado em licenciatura em Artes Visuais, especialista em Mídias Interativas e mestre em Comunicação com concentração em Comunicação Visual. Atua como docente em disciplinas de Artes Visuais, Semiótica Visual, Antropologia Visual e Estética Visual. Cinéfilo nas horas vagas.
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