Heartstopper, trama de sensibilidade

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Por Marcelo Minka

E o mundo continua a mil por hora. Netflix divulga cancelamentos recorrentes e preocupantes, com números de assinantes despencando, mas finalmente emplaca uma nova produção para abaixar a poeira toda, conseguindo atingir seu público e novos assinantes.

Heartstopper é uma expressão com vários significados em português, algo como rolha de coração, de parar o coração, de cortar o coração, sentir-se contagiado, ficar sem palavras, etc. Esta é a nova série da Netflix que estreou a poucos dias e já chamou a atenção após conseguir 100% de aprovação dos fãs e 98% de aprovação dos críticos no famoso site de reviews de séries e filmes Rotten Tomatoes.

O roteiro de Heartstopper é um spin-off que nasceu do romance Solitaire, primeiro romance de Alice Oseman, escritora e ilustradora inglesa. Na trama simples, mas muito bem elaborada e ambientada no ensino médio inglês, o personagem Charlie Spring, gay assumido, se envolve com o um jogador de rúgbi, vivendo o primeiro amor de suas vidas. Enquanto isso, personagens secundários se destacam na trama, mostrando diversidade de gênero. Vou abrir parênteses aqui (soa muito estranho, muito anos 90, a expressão que usei “gay assumido”, nunca ouvi a expressão “hetero assumido”, mas me foge uma expressão melhor). Fechei parênteses.

Impecavelmente transportada para a tela da TV, o romance é sim um coming of age, aquela fase de transição que passamos entre término de infância e início de saber o que são boletos, uma fase cheia de medos, conflitos e descobertas, principalmente as sexuais. E é claro que isso é um clichê e a série toda é cheia de clichês, assim como nossas vidas. Mas os clichês de Heartstopper caem como uma luva, cheios de sensibilidade até os ossos, encantando e aquecendo nossos corações (clichê, clichê, deliciosamente clichê).

A escritora Oseman, que escreveu o sucesso Solitaire aos 17, DE-ZE-SSE-TE anos de idade, participa como roteirista e produtora da série com oito episódios. Vou novamente abrir parênteses aqui (e eu suando para escrever este texto com 53 anos de idade). A transposição da escritora do texto para as telas é tão bem feita que tudo fica perfeito. E quando terminamos de assistir o último capítulo, cai a ficha da simplicidade de tudo: o nerd gay do colégio que sofre bullying e se apaixona pelo popular jogador de rugby. Mesmo dentro da própria Netflix encontramos dezenas de produções tratando deste tema, mas a abordagem da autora é única, simples, terna e sensível.

Heartstopper pode ser resumida em uma única palavra: emoção. Não deixe de assistir.

Marcelo Minka

Graduado em licenciatura em Artes Visuais, especialista em Mídias Interativas e mestre em Comunicação com concentração em Comunicação Visual. Atua como docente em disciplinas de Artes Visuais, Semiótica Visual, Antropologia Visual e Estética Visual. Cinéfilo nas horas vagas.

Foto: Divulgação

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