Vamos começar o texto entendendo o título deste filme. A escritora americana Nancy Springer, ganhadora do prêmio Tiptree pelo romance Larque on the Wing, escreveu até o momento seis livros para a série literária intitulada Os Mistérios de Enola Holmes. Como você já deve ter percebido, ela se inspirou no icônico personagem de Arthur Conan Doyle, o detetive Sherlock Holmes.
O filme, disponível no streaming Netflix, é dirigido por Harry Bradbeer, responsável por diversos episódios da incrível série Fleabag. Só isso já é o suficiente pra ver o filme. Outro motivo é a presença de Millie Bobby Brown, a Eleven de Stranger Things, esbanjando toda a sua capacidade dramática no papel de Enola Holmes, levando, praticamente sozinha, todo o filme nas costas.
A trama toda é uma aventura sobre amadurecimento e autoconhecimento. O roteiro, escrito por Jack Thorne (Extraordinário – 2017), adapta a Enola dos livros de Springer para a tela com exuberância. Mas o mesmo não acontece com outros dois personagens. Enola tem dois irmãos, Sherlock Holmes (interpretado pelo Superman Henry Cavill) e Mycroft, interpretado por San Caflin (Vidas à Deriva – 2018). Ficamos com a sensação de que os dois personagens são empurrados para algumas cenas desnecessariamente, funcionando apenas como vasos de margaridas, como enfeites. Provavelmente pela exigência dos produtores em ter atores hollywoodianos em cena. Mas isso não quebra o encanto do filme.
Pessoas como eu, acima dos 50 anos, temos que ter em mente que, tanto o livro quanto o filme têm como público alvo os jovens. Portanto, vamos encontrar pelo caminho discussões sobre igualdade de gêneros, emancipação feminina, independência, mas tudo com excesso de didatismo. Tudo fica um pouco menos elegante.
A direção de arte é de Michael Carlin, com figurinos e cenários de época de alta qualidade, construindo uma Londres antiga com exuberância.
Provavelmente o filme vai se transformar em uma franquia e seria perfeito se a produção esquecesse um pouco a família Holmes e focasse mais em Enola. Bom para quem gosta do gênero.
Marcelo Minka
Graduado em licenciatura em Artes Visuais, especialista em Mídias Interativas e mestre em Comunicação com concentração em Comunicação Visual. Atua como docente em disciplinas de Artes Visuais, Semiótica Visual, Antropologia Visual e Estética Visual. Cinéfilo nas horas vagas.
Foto: Divulgação