Por Marcelo Minka
O texto mais lógico a ser escrito esta semana seria sobre a aguardada e polêmica produção da Marvel ‘Dr. Estranho no Multiverso da Loucura’, mas, por dois motivos, escreverei sobre outra produção; primeiro, porque todas as salas que estão exibindo o filme já estão lotadas no horário que o proletário pode assistir, e segundo, não tem como não escrever sobre a sensacional sexta temporada de Better Call Saul.
Como já sabemos, série é um spin off de Breaking Bad mas, ao contrário dos outros spin off, deixa de ser um subproduto e cria vida própria. Atraso provocado pela pandemia, depois de dois anos que o último episódio da quinta temporada foi ao ar, o inesquecível Something Unforgivable, Better Call Saul estreou sua sexta e última temporada no streaming Netflix, que serão exibidos em dois blocos, sete capítulos e seis capítulos, e eu odeio isso porque, confesso, esqueço o que aconteceu no primeiro bloco. É claro que tive que rever algumas coisas da quinta temporada, e mesmo de Breaking Bad, pra encarar a trama complexa.
Criada por Vince Gilligan e Peter Gould, mesmo criadores de Breaking Bad, a série volta com a mesma potência deleuziana e imageticamente perfeita. Assim como o cinema, que raramente apresenta algo verdadeiramente cinematográfico, a TV também raramente apresenta algo que valha a pena. E Better Call Saul vale mais que a pena, é cinematográfico. Quer seja no roteiro, à altura de um Stanley Kubrick, quer seja no posicionamento de câmera de um Orson Welles.
Na trama intensa, tudo grita, de uma flor azul no deserto a um caco de vidro sujo de sangue, tudo significa, tudo é pista visual para acompanharmos a trama com olhos arregalados. Logo nas primeiras imagens do primeiro episódio, somos remetidos a Cidadão Kane através de um impecável plano-sequência com muitos detalhes, mostrando toda a intimidade e opulência da mansão que Saul Goodman ganhou com sua parceria com o cartel, mas que a polícia apreendeu após o final de Breaking Bad. Ou seja, imagens que mostram tudo o que está em jogo.
Bob Odenkirk continua impecável na pele de Saul Goodman/Jimmy McGill/Gene Takavic, personagem(s) que adoramos e odiamos ao mesmo tempo. Uma única coisa que me incomoda na série é que, quando começo a assistir, não consigo parar, e lá vem mais uma noite mal dormida. Agora é torcer para a série ganhar um final merecidamente espetacular, como Breaking Bad. Lembrando que, já dizia Deleuze, todo poder é triste.

Marcelo Minka
Graduado em licenciatura em Artes Visuais, especialista em Mídias Interativas e mestre em Comunicação com concentração em Comunicação Visual. Atua como docente em disciplinas de Artes Visuais, Semiótica Visual, Antropologia Visual e Estética Visual. Cinéfilo nas horas vagas.
Foto: Divulgação