Movimentação pelo retorno de aulas presenciais começou a ser orquestrado por pais que acreditam que as crianças estão sendo prejudicadas
Telma Elorza
O LONDRINENSE
Um grupo de pais está se mobilizando para fazer uma petição para reabertura das escolas em Londrina e no Paraná. A petição, que está on-line neste link, será entregue ao prefeito Marcelo Belinati (PP) e ao governador do Estado, Carlos Massa Ratinho Júnior. O LONDRINENSE recebeu o documento de um pai que foi convidado a participar.
Em Londrina, Belinati anunciou nesta terça-feira (28), em live no Facebook, que vai editar novo decreto, prorrogando o fechamento das escolas. “A própria decisão da Justiça (liminar concedida pelo Tribunal de Justiça) diz que as escolas têm que ficar fechadas. Além disso, vamos fazer um decreto protegendo a saúde e a vida das crianças e da população da cidade. Se uma criança está contaminada, ela espalha para os outros colegas e eles espalham em casa”, disse. As aulas presenciais estão suspensas, em Londrina, desde o dia 23 de março. No Estado, desde o dia 20. No decreto estadual, não há previsão de uma data de retorno. Os decretos abrangem também a rede particular de ensino.
Segundo a empresária Sirleny Kemmer, uma das organizadoras da petição, o ensino à distância está desmotivando as crianças a estudar. “Nas escolas, eles tem limites, disciplinas, horários, calendário de provas, até a forma de sentar para estudar é estabelecida. Sozinha, aqui, eu não consigo motivar minha filha e muito menos supervisionar o estudo”, afirmou. Segundo ela, sua filha ficou em segundo lugar num campeonato de lógica e gosta de estudar. “Mas vejo seu desânimo. Ela está tendo seu futuro prejudicado”, disse.
A justificativa da petição é que as crianças estariam sendo privadas “do intercâmbio de ideias” e que estão se viciando em videogames por causa do tédio do isolamento. “Nossas crianças estão sozinhas em casa, separadas dos amigos, dos colegas de escola, dos professores e dos funcionários. Separadas das risadas, da interação rápida entre perguntas e respostas, da resolução dos problemas através do intercâmbio de ideias, das pequenas surpresas diárias, e da comunicação corporal. As crianças em casa poderiam ter mais tempo para buscar conhecimento na internet. Mas quanto mais tempo ficam isoladas, menos disposição apresentam para o aprendizado. E para superar o tédio do isolamento estão se viciando com jogos de videogame e filmes de pouco valor intelectual”, apontou o texto.
Em outro ponto, a petição registrou que o ensino à distância não está cumprindo seu papel. “O ensino à distância/on-line parecia poder suprir a lacuna deixada pela ausência das aulas presenciais, mas infelizmente não está. E se essa quarentena se prolongar pode mesmo provocar o inverso, fazer com que nossas crianças não tenham mais interesse no aprendizado on-line. E até mesmo provoque uma rejeição por esse sistema de ensino à distância”, trouxe o texto.
Além disso, o documento ainda minimiza a letalidade do coronavírus e a pandemia que fez vários países do mundo a suspenderem as aulas presenciais. “Fomos todos pegos de surpresa pela Pandemia, mas essa situação felizmente mudou. Já se passaram semanas e conhecemos um pouco mais este Sars-Cov-2. Estudos dos EUA, Alemanha e Suécia indicam que o virus Sars Cov 2 tem uma taxa de letalidade de 0,37% ou inferior. A Suécia não entrou em quarentena, o país somente tomou medidas de distanciamento, mas o ensino presencial não parou. As aulas na Alemanha retornarão dia 04/05/2020 para o ensino médio, e 11/05/2020 para o ensino infantil. “
“Eu morei na Alemanha, na África, nos Estados Unidos. Pesquiso muito todas as informações de lá e vejo que, aqui, no Brasil, não recebemos informações confiáveis. Cadê as estatísticas que mostram a letalidade do vírus? As UTIs estão vazias. Não é esse horror todo que estamos vendo na TV”, afirmou Sirleny. Segundo ela, em Londrina não há taxa de letalidade identificada. “Pois para isso é necessário testar um número grande de pessoas. A taxa de letalidade identificada na Alemanha é de 0,37%”, justificou. Além disso, segundo ela, é preciso fazer um comparativo entre as mortes por outras doenças e pelo Covid-19. “Façamos um levantamento diário de quantas mortes temos em Londrina por acidentes, por ataques cardíacos, por Covid-19. Eu sou engenheira e penso em números. Preciso que me comprovem, por números, o perigo dessa pandemia”, afirmou. E sugeriu uma experiência-piloto com reabertura de uma escola que tenha condições de manter as medidas de proteção. “Aí poderemos ver se funciona ou não”, explicou.
A secretária municipal de Educação, Maria Tereza Paschoal de Moraes, disse que o Município entende todas essas situações, principalmente no caso de mães que não tem onde deixar os filhos. “Mas, antes de ser uma crise de educação, é uma crise de saúde pública. Então, quem define se será possível e quando será possível esse retorno não somos nós mas Comitê Especial de Saúde Pública (Coesp), que foi criado para isso. Essa petição deve ser encaminhada ao comitê”, afirmou. Segundo ela, a rede municipal de ensino não tem previsão de retorno. “Estamos trabalhando com atividades remotas, entregando kits aos pais até dia 15 de maio podendo ser prorrogado, porque entendemos que o movimento do Coesp é não liberar as aulas presenciais nesse momento”, justificou.
Foto: Arquivo/N.Com
Respostas de 6
Sou professora e entendo perfeitamente o que essa pandemia tem causado para bilhões de pessoas em todos os continentes . Comparar o Brasil com Alemanha e Suécia é algo sem propósito. Mas vamos lá. Se fossemos parecidos com a Alemanha e tivessemos fazendo nossa tarefa de casa notificando e fazendo contas epidemiológicas mesmo que os números fossem baixos, eles representam nomes, endereços, planos de vida. Para quem gosta de estudar números existe uma conta prática: se a morte acontecer em um único lugar, para aquela família, representa 100%. Quanto aos prejuízos que tanto preocupa alguns pais, quero compartilhar uma experiência estatística que vivi na pandemia do H1N1 e que só agora pude escrever a conclusão. Uma das primeiras mortes da região foi da mãe de alunos meus. Para eles e para a comunidade escolar que acompanhou as crianças por um tempo, o prejuízo com a morte da mãe foi muito maior do que se tivessem tido a oportunidade de viverem a quarentena.
Espero que esse número , 0.35% não
seja incalculável para quem ainda não entendeu que vida é muito mais do que estatística, seja pela violência, por outras causas e pela nossa falta de paciência. Ah, antes de terminar tenho contato com colegas professores de vários países. As poucas salas abertas ainda estão vazias .
Concordo. Que o teste seja feito na escola que os filhos dela estudam! É lamentável ver como os pais terceirizaram a criação o “controle” do filhos! Os pais estão morrendo de preguiça e tem coragem de expor seus filhos a um grave risco em nome de seu próprio conforto e bem estar. Onde chegamos?
Eu não concordo com o retorno às aulas. Espero que isso só ocorra quando tivermos certeza que será seguro. Prefiro que meus filhos fiquem seguros em casa , mesmo sendo um momento difícil
Não concordo com retorno às aulas em hipótese alguma neste momento. Absurdo isso. Quero meus filhos seguros dentro de casa. Esses pais que estão mobilizando isso devem estar cansados de cuidar dos próprios filhos
Sem um remédio adequado ou uma vacina, como pai de aluno sou absolutamente contra a volta a escola presencial. Ele está estudando EAD com o nosso apoio e estamos satisfeitos. A segurança dele em primeiro lugar. Ele perde o ano letivo, mas neste momento ele não volta.
Preferem ver os filhos doentes do que os filhos em casa…