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Vino Nobile di Montepulciano: o vinho dos nobres

Por Edmilson Palermo Soares

A garrafa mais nobre da Toscana, Itália, é Vino Nobile di Montepulciano. Se você não conhece, deveria provar. Mas não confunda este vinho com o Montepulciano d’Abruzzo, que é feito com a uva Montepulciano (neste caso, a uva chama Montepulciano e não a cidade de produção) na região de Abruzzo.

Assim como os icônicos Chianti e Brunello, juntamente com o Vino Nobile de Montalpuciano, são as três grandes áreas que expressam a elegância da uva Sangiove na Toscana.

O Nobile é feito com uvas cultivadas em torno da cidade de Montepulciano, no sul da Toscana. A cidade medieval está situada em uma colina na província de Siena, numa área colinosa chamada Val D’Orcia, no vale do Rio Orcia.

Até algum tempo atrás, o Vino Nobile di Montepulciano havia sido relegado a segundo plano pela ascensão dos renomados Brunello, os Super Tuscan e os Chianti. Nas últimas décadas, através da modernização dos equipamentos, das técnicas das vinícolas e a renovação das vinhas foi possível confirmar a qualidade do Vino Nobile.

A área de produção compreende as colinas entre 250 e 600 metros acima do nível do mar no município de Montepulciano, na província de Siena.

A viticultura desta região remonta aos tempos etruscos. Tito Lívio, em seus contos, escreveu que os gauleses vieram para a Itália atraídos pelo vinho daquelas colinas que os  convenceu a cruzar os Alpes. Em “Dizionario Geografico Fisico Storico della Toscana“, datado de 789, citado por Emanuelle Repetti , o clérigo Arnipert oferece à Igreja de San Silvestro em Lanciniano, terras agrícolas e um vinhedo localizado no Castello di Policiano; outro documento de 1350, fixa as condições de comercialização e de exportação de um vinho produzido na zona de Montepulciano.

Até algum tempo atrás, o Vino Nobile di Montepulciano havia sido relegado a segundo plano. Mas, nas últimas décadas, voltou a despontatr como vinho de qualidade
Montepulciano, na Toscana – Foto: Pexels

Vino Nobile: reverenciado pelo papa

Durante o século XV, o vinho local era um dos favoritos da aristocracia de Siena e, no século XVI, era reverenciado pelo Papa Paulo III, que falava das excelentes qualidades do vinho. Em 1685, o Vino Nobile di Montepulciano também é citado pelo poeta Francesco Redi, que, além de elogiar a obra de “Baco na Toscana” – Montepulciano é o rei de todos os vinhos! – escreveu uma ode ao conde Federico Veterani dedicada exclusivamente ao louvor das qualidades deste vinho.

O seu esplendor se deu na época do Renascimento, no século XVI, sob o poder da família Médici, quando passou por um processo de renovação urbana, confirmando sua importância. O favorito entre os influentes reis, papas e presidentes italianos, o vinho foi celebrado ao longo da história como o vinho dos nobres. Thomas Jefferson, Presidente americano e um dos arquitetos da Declaração da Independência, era um apaixonado colecionador de vinhos. O estadista comprava 123 garrafas por ano de Nobile, certificando-se de que vinham de Montepulciano e eram produzidas com Sangiovese, até o pedido recorde de 473 garrafas feito em 1806.

A onda de inovação do vinho que se alastrou pela Toscana nas últimas duas décadas trouxe resultados positivos para Montepulciano, com menor produção e maior cuidado. Os vinhos são armazenados em barris de madeira seguindo o costume tradicional e o rendimento máximo para Vino Nobile di Montepulciano é de 56 hl / ha.

Importante recordar que no mesmo território, além do Vino Nobile di Montalcino DOCG, há ainda a produção de outros vinhos que fazem parte do mesmo consórcio de produtores:

  • Vino Nobile di Montepulciano DOCG
  • Vino Nobile di Montepulciano DOCG Riserva
  • Rosso di Montepulciano DOC
  • Vin Santo di Montepulciano DOC

O Vino di Montepulciano é feito de uma mistura de uvas. Nas versões normal e Riserva (Reserva), é produzida através de um blend de pelo menos 70% de uvas Sangiovese, pertencentes principalmente ao biótipo conhecido como Prugnolo gentile e no máx. 30% de variedades de uvas pretas e brancas (máx. 5%), excluindo variedades de uvas aromáticas, com exceção de Malvasia Bianca Lunga e autorizadas para cultivo na região da Toscana. Fica à critério do enólogo definir se produz um vinho com 100% da referida casta (há um mínimo e não um máximo), ou se opta por um blend, sempre respeitando a porcentagem mínima, assemelhando-se sua composição do Chianti.

Entre as vinhas complementares, foram identificadas ao longo do tempo várias castas de uva preta, tanto autóctones (Canaiolo nero, Mammolo) como internacionais, capazes de aumentar o potencial do território e da videira de base.

O Vino Nobile é um dos vinhos tintos mais famosos da Toscana. Embora muitas vezes caia nas sombras dos vizinhos Chianti, Brunello ou Super Tuscans,  Nobile foi o primeiro vinho DOCG a aparecer no mercado italiano.

Em julho de 1966, foi emitido o Decreto que reconheceu a Denominazione di Origine Controllata – DOC “Vino Nobile di Montepulciano”, mas o reconhecimento maior veio com a aprovação da Denominazione di Origine Controllata e Garantita – DOCG, em 1980.

Para receber o selo DOCG, o tinto deve ser produzido na área da comuna de Montepulciano, excluindo a região de Valdichiana, em vinhedos entre 250 e 600 metros acima do nível do mar, com produção máxima de 8 toneladas por hectare. Tanto a vinificação quanto o período de envelhecimento têm que ocorrer nos limites de Montepulciano e, sem dúvida, os melhores tendem a ser aqueles que estagiam por períodos de 5 a 10 anos em adega.

O Vino Nobile di Montepulciano deve ser submetido a um período de maturação de pelo menos dois anos, a partir de 1 de janeiro do ano seguinte à colheita. Essa maturação pode ocorrer, a critério do produtor:

  • por 24 meses em madeira (barril)
  • por pelo menos 18 meses em madeira mais os meses restantes em outro recipiente
  • por 12 meses no mínimo em madeira mais 6 meses no mínimo em garrafa mais os meses restantes em outro recipiente

Nestes dois últimos casos, o início do envelhecimento em madeira não pode ser prolongado para além do dia 30 de abril do ano seguinte à colheita.

Nobile é muito versátil; pode ser apreciado sozinho, compartilhado com amigos, mas sempre acompanhado com comida. A Sangiovese (Prugnolo Gentile) gosta de pratos com toque de acidez e boa dose de gordura.

Experimente harmonizar com pizzas, massas à base de molho de tomate, ragu com polenta, carré de cordeiro, carne de cabrito e risotos com linguiça.

O que está esperando para conhecer este vinho?

Edmilson Palermo Soares

Enófilo, sócio proprietário da Confraria da Taverna, loja de vinhos e espumantes que traz novas experiências no mundo do vinho, estudioso e entusiasta, com conhecimento prático provando vinhos de mais de 20 países e diversas uvas desconhecidas do público em geral. Me siga nas redes sociais: no Instagram @contaverna, Facebook Confraria da Taverna e Linkedin

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Foto principal: Freepik

(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.

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