Por Ângela Diana
Nos idos de 1992 (eu comecei no atelier da Leticia Marquez em 1986 e fiquei até 1993), estava passando por uma das piores crises emocionais da minha vida… Resumindo: Na época tinha os tais “salões de arte”, que eram o “indicador” de você ser “bom ou não” (ao menos, era isso que nos anos 80 imperava como “lenda urbana” no mundo das artes!). E eu não consegui ter uma obra escolhida em salão nenhum!
Imagina se sentir ainda principiante, cheia de sonhos, daqueles que todos os artistas principiantes tem, sem vender nada, ser recusada várias vezes, com minha mãe dando duro para pagar as aulas de arte e materiais e NADA! Eu me sentia á beira do precipício com a vida pisando nos meus dedos!
Tantas perguntas…. Será que é esse meu caminho, será isso, será aquilo, será acolá… Até que fui fazer minha primeira expo individual na Secretaria de Cultura. Na época, dois artistas faziam paralelamente, um na sala de cima e outro na de baixo. O artista que iria fazer comigo era o Zé Gonçalves ,seria a primeira individual dele também.
Começamos a trocar figurinha e foi muito bacana, pois inseguranças na primeira individual são quase certo! Acontece que anteciparam a expo, e eu tive 15 dias para pintar 15 telas! Varei madrugadas… garrafas de café, Jesus and the Mary Chain tocando no toca-fitas ( anos 80, gente!) e eu lá! Na copa de casa!

Numa dessas vezes, minha irmã foi dormir e deu boa noite (na minha cabeça ainda era madrugada). De repente, ela abriu a porta do corredor e falou: você ainda tá ai? Era de manhã e eu não tinha me tocado… Ela confiscou a garrafa de café! Terminei em menos de duas semanas, estava exausta, vazia, com alergia e não conseguia mais dormir direito.
Quando a noite da abertura chegou, foi um fiasco, a meu ver! Nada do que eu tinha pensado, muitos amigos e amigas não puderam ir e, no meio da noite, foi a primeira vez que eu me conscientizei que meu pai jamais poderia ver uma expo minha (ele morreu, vítima de um acidente de transito, em 1986)…
Cheguei em casa e tive altas crises de choro… e resolvi NUNCA MAIS PINTAR!
Alguns dias depois, o Zé Gonçalves me ligou e falou de um salão de artes em Santos , São Paulo… Não me animei nadinha! Mas ele insistiu e eu fiz a inscrição….E o que aconteceu fica para coluna da semana que vem!
Só um toque! Se você que é artista, teve ou tem essas inseguranças, saiba que é normal, mas não deixe que isso o defina, muitas coisas mudam…

Ângela Diana
Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos.
Foto: Acervo pessoal
2 Comentários
Vamos aguardar a próxima edição o continuar do seu princípio no Mundo das Artes.♥️
ANSIOSA estou para ler a continuidade dessa história linda que eu conheço em detalhes!!