Por Márcia Huçulak
A Olimpíada de Paris terminou neste domingo, mas a lembrança dos momentos que nos proporcionaram Rebeca Andrade, Beatriz Souza, Duda e Ana Patrícia com a conquista das três medalhas de ouro, para ficar nos melhores exemplos, ainda fazem o coração bater mais forte. Elas são ícones de uma edição dos Jogos Olímpicos muito especial para as mulheres, especialmente as brasileiras.
Maior evento esportivo do planeta, os Jogos Olímpicos só agora tiveram paridade de gênero entre os competidores: 50% de mulheres, 50% de homens. É histórico, mas demorou.
A primeira Olimpíada foi disputada em 1896 sem mulheres na disputa. A evolução prosseguiu muito tímida até pouco tempo atrás. Num período em que os movimentos feministas já eram mais atuantes, Los Angeles registrou, em 1984, apenas 23% de mulheres entre os competidores. Em Londres (2012) a diferença diminuiu para 44%, em 2020 Tóquio registrou 48%.
A Olimpíada da paridade
Finalmente, em Paris, a igualdade.
Pela primeira vez na história também, o Brasil enviou uma comitiva majoritariamente feminina. Dos 276 atletas, 55% eram mulheres.
Até sexta-feira (08/08), das 18 medalhas do Brasil, dez foram obtidas por mulheres. A conta inclui os três únicos ouros até então, de Rebeca (ginástica), Beatriz (judô), Duda e Ana Patricia (vôlei de praia), histórias de vida que são um capítulo a parte na competição.
(Escrevo antes do fim das competições, havia medalhas em disputa no fim de semana. As meninas do futebol pelo ouro e do vôlei de quadra pelo bronze.)
Esse histórico “numérico” nos dá a visão do quão demorado foi o processo de paridade de gênero num evento de projeção mundial. Mostra também como distorções podem ser corrigidas se a sociedade se organizar. A paridade chegou num contexto histórico de incremento da luta pelos direitos e de valorização das mulheres em várias partes do mundo.
Paris deixou claro mais uma vez: com igualdade de condições, nós, mulheres, fazemos a sociedade avançar melhor. Vale para o esporte, vale para todas as áreas.
Os Jogos Olímpicos representam um momento muito especial para a maioria dos países participantes. O ranking de medalhas, no entanto, conta apenas uma parte (a mais vistosa, é verdade) de tudo o que ele pode dizer sobre um país.
Competição entre atletas de alto rendimento, as Olimpíadas só recebem os melhores competidores de cada modalidade. Para subir no pódio, é preciso ser excepcionalmente bom – e, muitas vezes, o pódio só chega sob os auspícios da boa sorte (muitos favoritos antes dos jogos ficam pelo caminho).
Produzir e dar condições competitivas a atletas excepcionais é um trabalho de anos, senão de décadas, que precisa ser desenvolvido permanentemente.
Promover e estimular nos país condições para que crianças e jovens desenvolvam habilidades esportivas, não só para conquista de medalhas, é uma estratégia de desenvolvimento humano.
Ajuda na diminuição das desigualdades na área social, de saúde e até econômica.
Vem daí a necessidade de políticas públicas consistentes, envolvimento de empresas privadas e do terceiro setor, parcerias e estímulos.
Bem executados, esses programas resultam em medalhas nas principais competições, o que sempre é motivo de orgulho para um país.
Ajuda principalmente a construir uma nação saudável e próspera, comunidades mais fortes e unidas.
Para ficar novamente só nos exemplos dourados, Rebeca e Beatriz começaram no esporte por meio de programas sociais em suas comunidades. O talento foi percebido e tiveram oportunidades para chegar aonde chegaram. Ana Patrícia, da dupla com Duda, foi alvo constante de bullying na infância. Essas jovens são exemplos de superação, resiliência e determinação.
Os movimentos precisos que levaram Rebeca, Beatriz, Ana Patricia e Duda ao topo nos enchem e orgulho e lembram do potencial que temos como país – e do potencial das mulheres.
Todas elas ao subirem ao pódio se emocionaram derramando lágrimas. Podemos perceber a emoção da superação, dos anos de treinamento e da disciplina. Quem assistiu se emocionou e vibrou junto com elas.
Que os exemplos dessas conquistas sejam prenúncio de um novo tempo em que o fato de ser mulher não seja motivo de diferenças de oportunidades.
O país agradece, enquanto aplaude emocionado.
Márcia Huçulak
Como secretária de Saúde de Curitiba (2017/2022), liderou o enfrentamento da pandemia de covid-19 na capital – trabalho reconhecido nacionalmente. Formada em Enfermagem pela PUC-PR, tem mestrado em Planejamento de Saúde pela Universidade de Londres (Inglaterra) e especialização em Saúde Pública pela Fiocruz. Elegeu-se deputada estadual em 2022 pelo PSD, sendo a mulher mais bem votada do estado e a mais votada (entre homens e mulheres) de Curitiba. Encontre a Márcia Huçulak nas redes: site
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