Por Ana Paula Barcellos
Sou cria dos anos 1980, obviamente cresci no auge do sucesso da boneca Barbie, a boneca mais fashionista do mundo. Ainda me lembro perfeitamente das propagandas e de tudo o que existia relacionado à boneca que era “tudo o que você quer ser”. Tinha seis anos quando ganhei a minha primeira boneca.

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E adorava tudo relacionado à Barbie. A casa, o carro, o estilo de vida. Mas detestava as roupinhas, achava a maioria feia – e era mesmo. Nem toda roupa adaptada para a boneca ficava bonita e ainda não existia no Brasil uma variedade grande de modelos. E era tudo MUITO rosa.
As crianças mais sortudas, que tinham alguém que costurasse, conseguia roupinhas personalizadas. Foi assim que consegui um vestido de noivas e um outro modelo mais bonito, de outra cor.
Eu nunca gostei muito de cor de rosa. Gostava da cor como faziam as meninas gostarem naquela época: obrigada, convencida. Tenho uma foto da época da pré-escola em que seguro um lápis cor de rosa, como todas as outras meninas.
Me lembro de conversar sobre isso com a Brenda, uma amiga querida da minha mãe e dela ter dito que também não gostava, preferia amarelo. E do trauma que ela tinha porque foi com a mãe comprar uma blusa, queria a de cor amarela mas foi obrigada a levar a rosa, que era mais de menina.
Ditadura do rosa
Eu já gostava de preto. Tinha um vestido preto e branco que eu amava! Outro grande favorito era um amarelo de mangas longas costurado pela minha mãe e um listrado branco com vermelho, que tinha um laço. Gostava de usar sapato preto com meia branca.
Quando conto isso, dizem que eu era uma criança atípica, com gostos diferentes. Mas, na verdade, talvez eu fosse apenas uma criança com mais liberdade para escolher o que gostava, para dizer o que pensava. Talvez, se as meninas ainda não fossem entupidas de rosa desde antes de nascer (isso já melhorou, mas ainda rola muito), houvesse muito menos gente no mundo que tem essa cor como sua “preferida”. O grande marketing do rosa, assim como o marketing da Barbie, é ainda ter a mulher como alvo.

Também fiquei saudosista com o lançamento do filme, mas confesso que me sinto dividida: parte minha se lembra das casinhas montadas com as amigas, a outra parte lembra de como era cruel lidar com tanta imposição relacionada ao padrão de beleza que ela defendia como único possível: loira de cabelo liso e olhos claros. As crianças que tinham esse perfil recebiam muito mais atenção na escola, nos cursos, nas festinhas. Todo mundo festejava quem era “linda” porque tinha o cabelo loiro e liso igual à Barbie e os olhos azuis ou verdes.
Em relação ao rosa, a ditadura também existia: na hora de escolher qualquer coisa com cor num grupo de meninas, essa sempre vencia e era a cor escolhida porque a maioria queria tudo cor de rosa. São muitas as lembranças que ainda guardo coloridas contra a minha vontade.
Talvez por isso ainda hoje não me sinta atraída por ela, muito menos por peças de roupa ou acessórios que sejam dessa cor. Fui conferir no guarda-roupa e as únicas peças que tenho são uma blusa rosa chá (pra mim o único tom de rosa possível) e uma blusa vermelha com um pequeno detalhe em pink. Não tenho mais nada. E você, já teve rosa como sua cor de roupa preferida? Preferida de verdade? Já pensou na razão pela qual essa era a sua cor favorita?

Ana Paula Barcellos
Viciada em botas, sacoleira e brecholenta, trabalha com criação de joias artesanais e pesquisa de tendências. Tem foto da Suzy Menkes na estante e escreve essa coluna usando pijama velho, deitada no sofá enquanto toma café com chocolate. Me siga no Instagram @yo.anap e @experienciasdecabide
Foto principal: Divulgação
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