“Estou pensando em fazer uma cirurgia plástica íntima para ficar com a pepeca parecida as das atrizes pornôs, redondinha, com lábios pequenos e rosadinha. Parece que são mais atrativas para os homens. O que você acha?”
Acho que a amiga tem bosta na cabeça e disse isso a ela. Onde já se viu pensar em fazer cirurgia para melhorar o que é já perfeito? Nossas pepecas são belas do jeito que são – cada um do seu jeito mesmo – , sem precisar correr riscos desnecessários para tentar agradar um homem. O pior é que, como ela, milhares de mulheres estão se arriscando em cirurgias do tipo.
O Brasil é recordista mundial em plásticas íntimas. Só em 2016 – único ano em que consegui achar dados concretos -, 25 mil brasileiras buscaram corrigir as “imperfeições” vaginais, segundo a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética. De lá para cá deve ter aumentado o número de cirurgias assustadoramente. A maior parte não tem nenhum problema grave, querem apenas para deixar as Ritas mais “bonitas”, diminuindo lábios, “preenchendo” depressões ou fazendo lipo ali, vê se pode. Algumas, veja bem, mexem até no clítoris (ou clitóris, tanto faz), correndo o risco de perder toda a sensibilidade local. Outras reconstituem o hímen, querendo ser “virgens” de novo. Enganam quem?
Pra que, por que, meu Deus?
Porque os vídeos pornôs trazem apenas pepecas lisinhas, redondinhas, sem pelos, lábios vaginais pequenos, guardadinhos, rosinhas. Como se todas as mulheres no mundo fossem iguais e tivessem pepecas iguais. Toda uma geração de meninos/homens está sendo condicionada a acreditar que as pepecas precisam ser como as das atrizes pornôs, assim como todo homem como H maiúsculo tem um pênis enorme. E se decepcionam quando percebem que vão ficar na média do brasileiro (13 a 17 centímetros ereto) e que as pepecas da vida real podem ser diferentes daquelas que passaram anos vendo nos vídeos. E ficam com nojinho. Ah, tenha santa paciência.
Aí as mulheres, doidas que somos, acreditam que são as culpadas por aquele cara rejeitar sua pepeca. Que o problema está em nós, não neles. Que precisam parecer com atrizes pornôs para segurar seu homem. E correm atrás de cirurgias, pondo em risco uma região perfeita.
Bem, eu vou contar um segredinho. Não, minha filha, não precisa nada disso para conquistar alguém. Sua pepeca pode ter pelos – ou não, mas só se você gostar, nunca por causa de homem -, pode ser grande, pode ser pequena, pode ser gordinha, pode ser magrinha. Pode ter pequenos lábios grandes, pode ter pequenos lábios pequenos. Pode ser clarinha, se você tiver pele clara. Pode ser escura, se tiver a pele morena. O que importa é que esteja saudável e funcional, ou seja, lhe dando prazer. Porque homem que é homem gosta de pepeca, seja qual forma tenha. Se o seu não gosta do jeito da sua, não troque de pepeca. Troque de homem.
Foto: The Great Vulva Wall – artista Jamie McCartney
Telma Elorza

Jornalista profissional, palpiteira e galhofeira. Adora dar pitaco na vida dos outros enquanto vai levando a sua na flauta.
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