Por Telma Elorza
“Nasci como homem, tenho 20 anos, mas desde pequeno – 5 anos- senti atração por roupas femininas, vestia a roupa da minha mãe e sempre desejei ser uma menina para poder andar sempre assim vestida e pintada, ir à praia, etc. Houve um dia que ganhei coragem para ir até minha mãe e dizer o que sentia. Acho que minha mãe compreendeu, mas eu pedi para nunca contar a ninguém, principalmente ao meu pai, pois ele é muito exagerado com estas coisas. Um dia, mãe perguntou o que eu sentia em relação àquele assunto e me sugeriu ir num especialista. Mas eu fui burro e disse que já não tinha nada em relação àquele assunto. Os anos foram passando e eu sempre a me vestir como mulher. O problema é que só gosto de mulher, mas por vezes coloco em dúvida, pois não sei o que sou. Já namorei uma menina e só me vejo ficando com meninas. Neste momento, também estou com lingerie, estou sozinho no quarto, muito satisfeito, mas sempre a tentar perceber o que está passando comigo, porque sou homem, mas sempre quis ser como uma menina e, por vezes, fico perguntando a razão de fazer isso. Se eu me tornar uma menina vai ser mais difícil desaparecer com os traços masculinos. Tenho muita dúvida. O que será que sou?”
Recebi esse relato em forma de comentário nesta coluna. Ele era extenso, dava alguns detalhes a mais, mas, em síntese, o que vemos aqui é um questionamento muito comum para a adolescência e início da vida adulta: a sua própria identidade, de gênero e sexual. Sim, é mais comum do que se pensa, mas poucos vem à público pedir ajuda.
Como expliquei naquela coluna, vestir-se com roupas femininas não torna ninguém gay. O Crossdressing é apenas um fetiche de quem gosta de se vestir com roupas do sexo oposto e não tem nada a ver com sexualidade. Ou seja, a pessoa não é homossexual nem transexual por usar peças femininas. O crossdresser não quer mudar seu corpo, tomar hormônios, por silicone, se tornar uma mulher efetivamente.
Porém, no caso do leitor, ele diz que se sempre desejou ser menina, desde pequeno, e fica confuso por sentir atração por mulheres. Bom, nesse caso, me parece que ele é uma mulher trans no corpo de um homem e confunde gênero com sexualidade. O gênero não tem nada a ver com sexualidade. Mulheres trans (pessoas nascidas no gênero masculino e que se submeteram à transição de gênero e se tornaram mulheres) podem ser heteros (se relacionando sexualmente com homens), homossexuais (se relacionando com mulheres) ou bissexuais (se relacionando com os dois gêneros). Assim como homens trans (pessoas nascidas como gênero feminino e que fizeram a transição) podem ser heteros (se relacionando sexualmente com mulheres), homo (se relacionando com homens) ou bissexuais. Os travestis (pessoas que fazem modificações corporais, porém não chegam a operar os órgãos sexuais) também. O que precisamos é aceitar e respeitar é que cada pessoa, independente de gênero, tem sua própria sexualidade.
Na minha opinião, o jovem leitor deveria ter aceitado a sugestão da mãe de consultar um especialista. Um psicólogo, principalmente os especialistas em identidade sexual. Mas nunca é tarde para ir atrás. Sugiro que converse novamente com sua mãe e peça ajuda. Ela já se mostrou disposta a aceitá-lo e ajudá-lo. Muitas pessoas trans não têm esse apoio familiar e transição acaba se tornando ainda mais difícil. Pedindo ou não ajuda para a mãe, no entanto, a consulta com o especialista é fundamental para que o leitor consiga se identificar de uma forma adequada. Até porque, para realmente fazer a transição, se for o caso, será preciso passar por avaliações psicológicas,
E se decidir que é, sim, uma mulher no corpo de homem, é possível até fazer a transição pelo SUS. Esse site pode ajudar com informações. Assim como é interessante ler a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.
No entanto, somente depois dessa conversa com o especialista, é que você pode descobrir o que você é, sem traumas, sem cobranças próprias para seguir de um jeito ou de outro. Você pode ser um crossdresser, uma pessoa trans ou o que quiser. A gente tem o direito de construir nossa própria identidade, mesmo que a sociedade não entenda.
Tem dúvidas? Mande sua pergunta para telma@olondrinense.com.br
Quem é Tia Telma?
Jornalista, divorciada, xereta por natureza e que sempre se interessou muito por sexo. Com a vida, aprendeu várias coisas, mas a principal é que sexo é uma coisa natural e deve ser sempre prazeroso.
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