Por Renato Munhoz
Desde que a cultura capitalista implantou o modo de vida que tem em sua base o consumo exacerbado e voltado para a manutenção do lucro, inaugurou-se uma forma de pensar, onde o consumo passa do necessário para os desejos relacionados ao ter.
Além do ter, o sistema enxerga nessa visão a possibilidade de aumento significativo de produção, aumentando consequentemente a necessidade de matéria-prima e, como resultado final, maior exploração da natureza em prol da manutenção de um modo de vida que foi se tornando devastador.
Após o século XIX, com o advento da tecnologia, este modelo de pensamento e de vida, ganha proporções inenarráveis, onde as consequências dos desejos tomam forma da expropriação do ambiente, deixando um rastro que tem como consequência não apenas a destruição do ambiente pela retirada, mas a geração de resíduos causados sobretudo pela cultura do descartável. Em um período onde não se discutia formas de organização de tratamento e de destinação correta. A natureza também acabou sendo o grande depósito para os inservíveis e os restos não utilizados pelos chamados humanos.
A necessidade de energia a ser gerada, por exemplo, para que todas estas tecnologias funcionem, acaba inaugurando formas de extração de energia da própria natureza. Mais uma vez o meio ambiente será responsável por contribuir para um modo de vida, criado pelos humanos, que se amplia assustadoramente. Para isso, como exemplo as usinas hidrelétricas e termoelétricas, que impactam significativamente na vida natural, serão as responsáveis pela geração de praticamente toda energia necessária para manutenção deste modo de vida.
Sem falar no advento da cultura de expropriação dos territórios para produção de “alimentos”. O aumento da população, o consumo e as escolhas do sistema em vigência, ampliam a cada dia o “fosso” que existe entre o ecossistema e as necessidades humanas.
Para além de toda visão catastrófica, existe uma visão de esperança sobre o ambiente. Há um esforço sendo feito a partir das organizações internacionais como a ONU, através das Conferências do Clima. A COP 26 deste ano tem apontado diversos gritos de alerta. O secretário-geral, António Guterres, apontou em seu discurso de que “a humanidade está cavando sua própria cova” se insistir neste modelo de desenvolvimento que tem jogado anualmente dezenas de toneladas de gases na atmosfera, derivados dos combustíveis fósseis.
Assim como as descobertas tecnológicas é necessário um empenho, onde haja reconhecimento das diversas descobertas para utilização de novas matrizes energéticas. Não apenas isso e concomitante, é preciso repensar o modo de vida sobre o Globo. É o que tem se chamado de Consumo Consciente. Antes de comprar, repensar; antes de jogar, reutilizar; antes de retirar, reciclar.
O Consumo Consciente tem sido a chave para diversos caminhos novos. Em relação ao ambiente como um todo, mas sobretudo em relação a um modo de vida que impacta diretamente em cada um e cada uma de nós. Um exemplo disso é a busca crescente pela alimentação saudável. A produção orgânica cresce a cada dia. Há cerca de 15 mil propriedades hoje Brasil com esta certificação, derivadas praticamente da pequena agricultura, a chamada agricultura familiar, de baixo impacto ambiental e muitas vezes produzindo dentro da cultura de preservação do ambiente.
A nova forma de pensar o consumo, tem trazido resultados importantes: o fortalecimento das cooperativas de reciclagem, de alimentos e de serviços especificamente voltadas para este novo mercado. É uma sucessão de resultados. Que começa na escolha ou desejo pela nova forma de consumo. E passa pela formação de uma nova geração capaz de sentir tudo o que está acontecendo a sua volta e se posicionar, como é o caso da jovem Greta Thunberg, ativista jovem que tem sido uma voz forte na defesa do clima e do planeta. Esta nova geração é que será capaz de trazer à tona os gritos da natureza e produzir em suas ações a capacidade de construir uma forma de vida que leva em conta a cooperação com o planeta e não apenas sua exploração.
Renato Munhoz
Professor, teólogo historiador. Pós Graduando em Educação Ambiental e Sustentabilidade. Coordenador de Projetos do COPATI (Consórcio para Proteção Ambiental do Rio Tibagi).