Por professor Renato Munhoz
Dalai Lama, grande mestre budista, em um dos seus vários ensinamentos sobre a compaixão, apresenta a ideia de que o motor para qualquer mudança de atitude, tendo como foco o alcance de uma vida de compaixão, está no sentir. Quando faz sentido, quando nos move, quando nos provoca, tendemos a agir com mais assiduidade e, consequentemente, irmos ao encontro de uma vida que faça mais sentido no cuidado com as relações humanas e no ambiente em que vivemos.
Pensando nisso e vendo as últimas notícias sobre as questões ambientais e indígenas, sobretudo da comunidade Yanomami, no Estado de Roraima, fiquei me perguntando o que as pessoas sentiam ao ver crianças em completo estado de sofrimento, mortas pela fome e pela ganância de grupos de garimpeiros, que devastaram a vida dos indígenas, suas roças e florestas.
Não dá para assistir a isso sem sentir o mínimo de compaixão, imaginei eu na minha pequenez. Mas infelizmente não deixou de haver relatos de indiferença e até mesmo de menosprezo por esta triste realidade.
Você deve estar se perguntando: o que isso tudo tem a ver com Sustentabilidade?
Por várias letras e vezes, aqui mesmo neste precioso espaço, tratei das questões da sustentabilidade ligadas diretamente as questões humanas. É um erro pensar o cuidado e a preservação ambiental, sem um sentir antagônico. Que tem a ver com a possibilidade de nos provocarmos a repensarmos nossas ações.
Não existe meio ambiente sem ser humano, ele é parte integrante, não apenas como cumpridor de papel no desenvolvimento, mas sobretudo na dimensão do cuidado. E isso só será possível se o mesmo for capaz de se comover diante dos sofrimentos vividos por todos os entes do meio. Inclusive ele próprio.
Dalai Lama nos provocou a ideia da compaixão não como dó, ou como algo que sentimos e depois se esvazia. Mas dar sentido, toda vez que uma árvore cai em uma aldeia Yanomami, por exemplo, ali é realizado um ritual de entrega daquele ser sagrado: a árvore. As mulheres, nesta aldeia, são a terra fértil. Que trazem a vida e cuidam da roça para que toda comunidade viva bem. Nos ensinou Davi Krenak, grande lutador deste povo: as crianças são as sementes que trarão a certeza da presença de “Omami”, que é o deus que criou tudo e que é capaz de fazer este povo viver.
Está aí uma das chaves de compreensão sustentável, capazes de fazer a mudança de comportamento acontecer. Entender a natureza e o ser humano como elemento sagrado, criado e regido por um ser superior. E tudo o que fizermos a ele, estamos quebrando um código precioso de preservação. Para os cristãos, o próprio Jesus ensinou na Bíblia no livro de Mateus: “toda vez que fizer alguma coisa boa a um dos meus pequeninos é a mim que estais fazendo”. O contrário também vale. Ferir a obra do criador é, segundo a sabedoria ancestral indígena, ferir o próprio criador.
“Sustentabilidade sem compromisso ambiental é jardinagem”, já nos disse Chico Mendes, um dos maiores preservacionistas dos últimos tempos.
Sustentabilidade com compaixão, com sentido, com humanidade e humanismo. Talvez este seja o único caminho inevitável para a virada de chave sustentável neste século e nos próximos.
Professor Renato Munhoz
Teólogo e Historiador. Especialista em Educação Ambiental e Sustentabilidade.
Foto: http://www.terrabrasileira.com.br/indigena/ritos/650paje.html