Por Telma Elorza
“Fui casada e feliz por 21 anos, até que meu marido morreu em um acidente há quase dois anos. Nesse tempo sem ele, me vi sem rumo, sem direção. Nossos filhos já estão encaminhados e não precisam mais de mim. Perdi totalmente a vontade de viver. Não aceito convites de amigos, não me arrumo mais e a casa só cuido o suficiente pra não virar uma pocilga. Às vezes penso que sou desnecessária no mundo e que Deus faria melhor em me levar. Não tenho coragem de falar nada disso pra ninguém, mas já pensei em acabar com tudo”.
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O e-mail da leitora foi bem longo, um desabafo tão denso que eu me emocionei. Já respondi a ela -também por e-mail – para procurar ajuda no CVV (ou pelo fone 188) porque ela precisa de ajuda especializada. E eu não sei se sou a pessoa indicada para isso. Mas, mesmo assim, sabendo das minhas falhas, vou tentar ajudar um pouco.
Na minha opinião, a leitora baseou toda sua felicidade no casamento, no cuidar da casa, do marido e dos filhos. Ela não chegou a falar se trabalha ou trabalhava, enquanto foi casada, mas deduzi que não. Ou seja: sua vida – por mais interessante que fosse para ela – não supriu seu lado independente, não a fortaleceu emocionalmente para enfrentar a vida sozinha. E quando a gente depende exclusivamente de uma única coisa para ser feliz, a perda dela leva ao desespero. O desespero, o estresse profundo que isso causa, pode ser o gatilho para uma depressão em pessoas com predisposição, que provavelmente é genética. Aliás, aconselho também a procurar um psquiatra porque há remédios que ajudam com a depressão.
Ou seja, ela nunca enfrentou um estresse grande antes, porque resumiu sua vida a ser esposa e mãe e, neste aspecto, tudo ia maravilhosamente bem.
Vontade de viver restaurada
Tenho várias amigas que perderam trágica e repentinamente seus maridos. Mas todas conseguiram sobreviver bem aos primeiros tempos sem ele (os mais difíceis) e, hoje, têm uma vida plena e feliz. ou seja, mantiveram ou restauraram a vontade de viver. Uma delas casou de novo (embora me confessou que ainda é apaixonada pelo ex). Mas por que disso? Porque todas estavam preparadas para lidar com perdas e danos. São mulheres que desenvolveram outros interesses na vida, seja carreira, hobbies, amizades, para além do casamento. Uma delas transformou o hobby em trabalho, depois que ficou viúva. E diz ela que isso a salvou.
Embora as mulheres, ao longo dos séculos, tenham sido criadas para serem esposas e mães (uma educação que sempre deixou claro que a mulher sem um marido não é nada na sociedade), a minha geração quebrou paradigmas e não fez disso o único objetivo. Casamos? Casamos, sim, mas mantivemos uma vida profissional, um interesse além de ser donas de casa. As novas gerações, inclusive, estão aprendendo que o casamento não deve ser item obrigatório na sua vida. Palmas para elas.
Assim, o que eu posso dizer para minha leitora é: se não tem objetivos agora, procure um. Se dê uma razão para continuar lutando. Você é mais que uma esposa e mãe. Você é uma mulher. Pode se tornar completa de novo, buscando motivos para acordar todas as manhãs em outras coisas.
Acho impossível que você não tenha sonhos, tipo fazer aquela faculdade que desistiu por causa do casamento. Ou, se não desistiu e se formou, porque não buscar um curso complementar, uma especialização ou até outra faculdade? Não tenha medo de se abrir para coisas novas. Isso pode ajudá-la maravilhosamente e sua dor irá ficando menor a cada dia.
Busque também ajuda dos amigos. Não se isole. Neste período é quando você mais precisa estar cercada de pessoas que lhe querem bem. Fale com seus filhos, peça opinião para seus novos projetos. Eles vão ficar felizes de ver a mãe reagindo. Mas, acima de tudo, se convença que você tem muitas coisas boas para viver ainda e que não vale a pena ter pensamentos negativos, porque só atrasa sua nova felicidade.
Espero ter ajudado
Tem dúvidas sobre relacionamento? Mande um e-mail para telma@olondrinense.com.br
Quem é a Tia Telma
Telma Elorza é jornalista, divorciada e adora dar pitaco na vida dos outros. Mas sempre com autorização.
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Arte: Mirella Fontana
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