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Programas de prevenção ao bullying também fazem parte das estratégias de prevenção às drogas

Por Alessandra Diehl (*)

O bullying, termo em inglês que surgiu inicialmente no contexto escolar, utilizado quando um ou mais estudantes são intimidados, vitimizados e/ou expostos de forma repetida ao longo do tempo a ações negativas por um ou mais estudantes representando a expressão mais comum de violência no contexto de pares durante os anos escolares. As ações negativas ocorrem quando um indivíduo (o perpetrador), por exemplo, intencionalmente inflige ou tenta infligir dano ou desconforto a outro (a vítima) por questões das mais diversas, ligadas, em geral, a raça, peso, uso de óculos, orientação sexual, expressão de gênero, ter ou não atributos de beleza considerados por aquela determinada cultura, ter ou não a “inteligência”, ter ou não determinada habilidade esportiva e, até mesmo, por pertencer a alguma religião diferente da grande maioria daquela determinada escola.

Três critérios definem comportamento agressivo como bullying: 1) repetição, 2) intencionalidade e 3) desequilíbrio de poder. Dadas essas características, o bullying é frequentemente definido como o abuso sistemático de poder pelos pares. As ações negativas podem ser verbais (por exemplo, ameaças, insultos, insultos), físicas (por exemplo, bater, chutar, empurrar, empurrar ou beliscar) e relacionais / sociais (por exemplo, exclusão social, disseminação de boatos) e podem incluir as mais formas recentes de ataques na Internet e uso de novas tecnologias (também conhecido como cyberbullying). Doxing é uma nova terminologia de uma forma de cyberbullying em que informações pessoais sobre os outros são procuradas e liberadas, violando assim sua privacidade e facilitando ainda mais o assédio. A prevalência de cyberbullying varia de 6,5% a 35,4% na população geral.

Como o bullying afeta todo o ambiente educacional e tem impacto importante sobre o direito de crianças e/ou adolescentes de terem uma educação adequada já existem fortes evidências que o fenômeno nas escolas tornou-se um importante e complexo problema de saúde pública global, uma vez que pode estar associado a sintomas depressivos moderados a graves, uso de substâncias, ideação e tentativas de suicídio. O estudo de 2006 da UNESCO sobre a violência contra as crianças informou que 20-65% dos alunos são afetados por bullying verbal e é a forma mais prevalente de violência na escola.

Na Itália, por exemplo, o bullying envolve uma percentagem significativa de crianças em idade escolar, uma vez que duas em cada dez crianças entre os 11 e os 17 anos relatam terem sido vítimas de bullying duas ou mais vezes durante o último mês que a pesquisa foi realizada. No Brasil, o relato de assédio moral por alunos do 9º ano nas capitais brasileiras passou de 5,4% em 2009, para 7,2% em 2012, ficando em 7,4% em 2015. A análise descritiva para o Brasil mostrou variação por idade, uma vez que os adolescentes com 13 anos sofreram mais bullying do que os de 14, 15 e 16 anos. Houve um aumento de 37% na prevalência de bullying entre 2009 e 2015 nas capitais brasileiras.

O bullying ultrapassa as barreiras socioeconômicas, ocorrendo tanto em escolas privadas quanto em escolas públicas. O bullying portanto, é um fenômeno que ocorre em toda a sociedade, que se manifesta na maioria das escolas, independentemente das características sociais, culturais e econômicas de seus alunos.

Um das questões mais importantes que os professores precisam entender sobre a prevenção ao bulliyng no ambiente escolar é que chamar um especialista ou especialistas de fora no contexto escolar para conversar com os alunos e dar “aulas breves e pontuais sobre bulliyng” para os mesmos são intervenções pouco ou nada custo-efetivas para o objetivo pretendindo. Já aprendemos isto com as estrtaégias de prevenção de drogas em ambiente escolar. Pode parecer que a escola está fazendo algo. Mas de fato não está!

Em prevenção, devemos sempre estar atentos que algumas atividades propostas podem parecer bem intencionadas, mas podem ter efeitos colaterais não desejáveis. Gasta-se muita energia e não se realiza algo que têm evidências científicas prévias já comprovadas. Assim, é importante que os professores entendam que a prevenção ao bullying compreende um continum de tarefas, organização, planejamento de forma continuada e, sobretudo, como envolvimento de todo o contexto escolar: professores, alunos, pais e outros funcionários (da limpeza, da portaria, da cantina etc.).

Um bom começo é descobrir, através de uma pesquisa na própria escola, qual é a prevalência de bullying na mesma e qual é o tipo de bullying mais frequente. Identificar fatores de proteção presentes em escolas localizadas em bairros com alta violência estrutural é fundamental para evitar a perpetuação da violência e do consumo de substâncias. Daí seguir pela discussão dos dados coletados com o questionário pré-intervenção e para desenvolver e planejar atividades eficazes para aumentar a conscientização sobre o bullying e promover ações preventivas no contexto de sua escola.

Abordagens participativas do planejamento (por exemplo, interpretação de papéis, planejamento de projetos orientado por objetivos) tem sido implementados em alguns programas para estruturar as atividades afim de atingir os alunos. Em particular, os professores podem organizar essas iniciativas com seus alunos durante as atividades curriculares da escola, usando pelo menos um dos três métodos e geral sugeridos: aprendizagem cooperativa, educação entre pares e / ou representação de papéis.

É importante considerar que as ações educativas possam ser realizadas numa perspectiva problematizadora, horizontalizada e interdisciplinar, a fim de proporcionar às vítimas um espaço concreto de confiança interpessoal, uma vez que as maiores dificuldades em lidar com as vítimas do bullying são refletidas pelo ciclo de silêncio e medo. Neste contexto, é importante considerar que o trabalho de prevenção e minimização das situações de bullying escolar deve estar ancorado no conceito de promoção da saúde e atenção integral, que deve considerar a violência como um fenômeno sociocultural, que afeta toda a sociedade, as instituições, os grupos minoritários, e os sujeitos vulneráveis ou não. Além disto, que o fenômeno deve ser abordado e estudado de forma holística, considerando todos os aspectos envolvidos nesse problema.

Assim, professores, parem de convidar profissionais de fora da escola para dar uma palestra para aos seus alunos sobre o tema. Faça muito melhor que isto! Convide estes profissionais para ajudarem a todos na escola a arregaçar as mangas para de fato encarar este problema com bastante seriedade da qual ele merece. 

(*) Psiquiatra em Londrina e atual presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas

Foto: Pexels

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