Pesquisa mostra que o consumo excessivo de álcool pode aumentar entre adolescentes apenas dois anos após o primeiro episódio de experimentação, e isso é muito preocupante! Pais e professores precisam mudar o contexto social que faz uma constante glamourização da bebida de álcool em nossa sociedade.
Por Alessandra Diehl
As pesquisas anuais nos Estados Unidos da América (EUA) entre escolares da 8ª a 12ª série, que ocorrem desde 1975, conhecidas como “Monitoring the future” nos trouxe, em 2023, dados reveladores. O tempo médio de escalada desde o consumo da primeira dose de bebida alcoólica até o consumo num padrão de alta intensidade (oito ou mais doses em uma única ocasião para mulheres; 10 ou mais doses seguidas para homens) ocorre dentro de apenas dois anos após a primeira experimentação de bebida de álcool nesta faixa etária. E os adolescentes que iniciaram o consumo intenso de álcool em idades mais jovens ou que tiveram uma escalada mais rápida para o consumo intenso de álcool estão em maior risco de desenvolver dependência e tantos outros problemas de saúde.
As descobertas, publicadas na JAMA Pediatrics, em artigo liderado pelo grupo da Dra. Megan Patrick, também indicam que ter um histórico familiar de problemas com álcool e não frequentar uma faculdade por pelos menos quatro anos aos 20 anos esteve associado ao início mais precoce do consumo intenso de álcool.
Os pesquisadores acompanharam uma amostra nacional de adolescentes do estudo que, como alunos do 12º ano em 2018, relataram uso de álcool nos últimos 30 dias. Este grupo de 451 participantes foi pesquisado novamente em 2020, aos 20 anos, como parte do Estudo da Vida Diária de Jovens Adultos. A análise concentrou-se no nível de início de qualquer uso de álcool, primeiro consumo excessivo de álcool (4+ bebidas para mulheres e 5+ bebidas para homens) e primeiro consumo de alta intensidade. Os entrevistados divulgaram taxas atuais de consumo e frequência de consumo de álcool em alta intensidade, bem como informações pessoais, incluindo sexo, raça/etnia, histórico familiar de problemas com álcool e status universitário.
A atenção ao consumo excessivo (binge) de álcool muitas vezes tende a se concentrar no consumo de álcool na faculdade, onde as festas, baladas, open bar e outros eventos de socialização universitária costumam promover mais comumente esse comportamento de beber.
Mas o fato de haver consumo excessivo de álcool já no ensino médio sugere que se formos esperar até a chegada da universidade para uma intervenção pode ser tarde demais para algumas pessoas, porque infelizmente esses padrões de consumo já começaram para muitas delas visto que o consumo excessivo de álcool está associado a resultados negativos agudos.
A identificação dos fatores associados ao início do consumo excessivo de álcool na adolescência e como ela está associada aos resultados na idade adulta jovem podem nos informar ações de prevenção que alcancem estes jovens antes dos problemas aparecerem.
Prevenção com os adolescentes
Já sabemos que o uso de álcool antes dos 18 anos tem associações significativas com sintomas de alcoolismo na meia-idade. A divulgação dos esforços de prevenção e intervenção na adolescência e no início da idade adulta pode ser importante para reduzir o consumo perigoso de álcool na meia-idade.
A variabilidade em ambientes e contextos sociais influenciam sobremaneira o consumo de bebidas alcoólicas em jovens adultos. Festas com open bar, preços baixos, beber com grandes grupos e estranhos, usar vaping, ter normais sociais que não observam ou não respeitam a idade legal para beber aumentam a probabilidade do consumo de bebidas alcoólicas em um padrão de alta intensidade.
No final de ano, por exemplo, é comum vermos muitas formaturas de ensino médio regada a muita bebida alcoólica. Os pais e professores certamente estão dando uma mensagem muito equivocada se, nas festas de formatura, servem bebidas de álcool.
Especialmente se estas festas são open bar, ou seja, eventos onde é paga uma taxa fixa pelo consumo ilimitado de álcool. Nesses eventos, a intoxicação alcoólica é frequente entre os participantes. Dados de 5.213 alunos da 8ª série em três cidades brasileiras mostrou que a média de idade foi de 13,23 anos e 17,1% dos estudantes relataram ter participado de eventos open bar no último ano. A proibição da venda de álcool a menores deve ser devidamente aplicada.
A legislação para restringir promoções e publicidade de bebidas alcoólicas no Brasil precisa ser implementada e monitorada de forma eficaz. E os pais e professores precisam mudar o contexto social que faz uma constante glamourização da bebida de álcool em nossa sociedade.

Alessandra Diehl
Psiquiatra, presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Drogas (ABEAD) e membro da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPsiq). @dra.alessandradiehl
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