Por Alessandra Diehl e Rogério Bosso (*)
Por ser uma doença considerada crônica, podemos considerar a depressão como sendo um fenômeno neuropsiquiátrico e crônico. Isso se justifica por termos robustas evidências científicas que mostram alterações químicas a nível cerebral das pessoas que são acometidas com esta condição, em especial com relação aos neurotransmissores responsáveis pela transmissão de impulsos nervosos entre as células, tais como a noradrenalina e a serotonina. Isto significa dizer que depressão não é “frescura”, não é “coisa de rico” ou “falta de fé” ou tantas outras inverdades e distorções que somente reforçam estigma e afastam as pessoas que precisam de ajuda a buscarem tratamento.
Mas quais são os principais sintomas da depressão?
A depressão é caracterizada pelo humor depressivo ou irritabilidade; desânimo, com necessidade de maior esforço para fazer as coisas; incapacidade ou importante diminuição da capacidade de prazer nas atividades que anteriormente eram consideradas agradáveis; apatia; falta de vontade e indecisão; sentimentos de medo, desesperança e vazio; ideias frequentes de culpa e inutilidade; pode haver desejo de morrer ou tentativas de suicídio; dificuldade acentuada de concentração; diminuição do desempenho sexual; perda ou aumento do peso e do apetite; insônia ou aumento do sono. Na pandemia de COVID-19, em todo o mundo, foi relatado o aumento de 25% na prevalência da depressão. Esse dado foi divulgado pelo resumo científico no dia 02 de março de 2022 pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Mulheres, profissionais da saúde e jovens estão sofrendo mais com a depressão
O resumo apresentado pela OMS tem base em uma revisão abrangente das evidências científicas sobre o impacto da COVID-19 não apenas na saúde mental, como também nos serviços de saúde mental. O resumo inclui também estimativas do último estudo Global Burden of Disease. Além de apresentar o dado alarmante, o resumo destacou, também, qual público foi mais afetado com a depressão. Com base nessas evidências, as mulheres foram afetadas de forma mais grave pela depressão, em comparação com os homens; os jovens foram o público que trouxe maior probabilidade de apresentar comportamentos de automutilação e suicidas. Um alerta foi dado, durante a pandemia, para altos níveis de depressão em trabalhadores de saúde na América Latina. A exaustão foi um gatilho que ganhou destaque entre os profissionais de saúde para o pensamento suicida.
O que explica o aumento da depressão?
Um dado já bastante anunciado e que não ficou de fora nesta explicação foi o estresse sem precedentes que vivenciar o isolamento social, com consciência de seu motivo, gerou. Somados a esse motivo aparecem as restrições de oferta de trabalho e desemprego, a solidão, o medo de se contrair COVID, a vivência da morte de entes queridos e preocupações financeiras.
O aumento das taxas de depressão ocorreu concomitante às interrupções nos serviços de saúde, o que ocasionaram enormes lacunas no atendimento às pessoas que desencadearam quadros depressivos. Os serviços de saúde mental foram os mais afetados porque foram os que mais limitaram acesso entre todos os serviços, segundo os Estados Membros da OMS. Aos poucos, apenas no final de 2021, é que houve uma pequena melhora na oferta dos serviços de saúde mental, ou seja, alguns serviços de saúde mental que haviam sido interrompidos, voltaram a funcionar e atender seus pacientes.
Fato é que bem antes da pandemia os serviços de saúde mental não ofereciam acesso a contento a toda demanda que já buscava tratamento na rede pública por depressão e por outros problemas ligados a saúde mental. Mesmo com esse retorno dos serviços de saúde mental, atualmente, muitas pessoas ainda não recebem tratamento para o transtorno mental pré-existentes e recém-desenvolvidos, como a depressão. Os atendimentos on-line, serviram como suporte nesse momento delicado, o que nos aponta uma necessidade urgente da disponibilidade de ferramentas digitais confiáveis, de fácil acesso e intervenções baseadas em evidências para essa prática. Assim como, a urgente necessidade de ampliar espaços de cuidados e tratamento para prevenção de transtornos mentais.
(*) Alessandra Diehl – É psiquiatra em Londrina e atual presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (ABEAD). Rogério Bosso – É psicólogo em Campinas e coordenador do curso de Psicologia da Faculdade Anhanguera de Campinas – Taquaral.
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