Por Wilson Moreira (*)
Ataques individuais de fúria têm ocorrido com frequência cada vez maior em nossa sociedade. Ataques em escolas, cinemas, bares e até em igrejas. Com armas de fogo, armas brancas e mesmo sem armas as agressões se amontoam pelos noticiários. Vivemos com medo.
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O que está havendo em nossa sociedade? Quais as respostas estamos dando a esses problemas?
E preciso antes de responder a essas questões uma análise mais profunda. Por que viver em paz é cada vez mais difícil? O que a convivência nos exige no dia a dia? O que a comunidade espera de nós, enquanto pessoas? O que estamos aprendendo que é “ser bem sucedido” na vida?
Pois bem, para questões complexas, respostas mais complexas ainda. A vida em sociedade e o modo que temos vivido têm sido superficial e em busca de felicidade efêmera. A busca de fama, status e poder está em evidência e tornou-se necessidade para ser feliz. Confirma isso o fato da profissão de “youtuber” estar entre as mais desejadas pelos adolescentes. Ficou fácil, de certa maneira, amealhar uns trocados criando um canal pra falar do seu dia a dia ou discursar sobre qualquer bobagem que passe pela sua cabeça. Há quem ganhe muito com isso. Os espaços de fala foram ampliados, no entanto, deu margem ao lado obscuro do ser humano pela verborragia do preconceito e desrespeito com o outro e os extremistas observaram um caminho livre.
As ideias extremistas são extremamente sedutoras, pois são simples e de fácil compreensão, demandando pouca ou nenhuma elaboração mental mais profunda. Dizer que na sociedade há o bem e o mal é muito cômodo. Me falam que eu preciso combater o mal e depois me dizem o que é o mal e que eu preciso lutar contra ele. Criam inimigos e o transformam no culpado de todos os males e alimentam todos os dias, de todas as formas o ódio contra eles. A receita é criar o inimigo e lutar com a própria vida contra ele. Assim o extremismo ganha corpo e se agiganta fomentando o ódio na sociedade para destruir o pretenso mal que ameaça nossa vida.
Medo nos paralisa
Estamos cheios de medo e a saída que nos apresentam é combater o ódio com ódio. O medo dos dois lados nos paralisa. Os extremistas vivem pelo medo dos monstros que eles próprios criaram para manter suas ideias. Do outro lado estamos todos inseguros. As soluções que nos apresentam é armar as pessoas para se defenderem; polícia nas escolas, revistas em clientes de bares e aumento de todo aparato de segurança para proteger a vida. Nenhum lugar é seguro. Abrimos mão de liberdade pela segurança, o contrato social em seu sentido primordial que não conseguimos avançar.
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Ao longo da história da humanidade os crimes sempre existiram e continuarão a existir. Cabe a nós construirmos mecanismo de combate e controle. No entanto nenhum mecanismo autoritário será eficiente ou eficaz. A democracia é o ideal a ser perseguido sempre. Tolerância, convivência pacífica entre diferentes e busca da paz. Nenhuma teoria simples do bem contra o mal pode ser positiva. Por isso, educação, ciência e cultura precisam ser levados a sério, do contrário o medo nos levará a todos; os “bons” e os “maus”. A luta do bem contra o mal e as teorias simplistas têm nos levado ao precipício como humanidade. Viver é difícil, pensar é difícil, mas é preciso coragem para vencer o medo e para viver.
(*) Policial penal, cientista social e poeta em Londrina
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