Por Alessandra Diehl
Nesta “semana das mulheres”, gostaria de refletir um pouco essa palavrinha chamada etarismo que passamos a ouvir mais e mais nas redes sociais, principalmente quando uma mulher dita “madura” ou “mais velha” recebe comentários sobre sua aparência, sobre seu corpo, sobre sua pele com rugas, sobre o uso de roupas supostamente inadequadas para a sua idade, sobre estarem saindo com um carinha bem mais novo que ela ou sobre a cor de seu cabelo branco, apenas para citar alguns exemplos. Sim, tudo isso se chama etarismo, o nome que se dá ao preconceito contra pessoas com base em sua idade.
Mulheres mais velhas sofrem continuamente discriminação pela sua idade, principalmente num país como o nosso que ensina continuamente que o jovem que é desejavel. Isto está incorporado no fato dos corpos envelhecidos das mulheres serem culturalmente desvalorizados em sociedades ao redor do mundo que privilegiam a juventude e a hipersexualização de mulheres mais jovens e vistas como mais saudáveis.
Todas nós, mulheres, estamos sujeitas a disparidades de saúde ao longo da vida, devido a múltiplos fatores, tais como raça, nível socioeconômico, orientação sexual. Além do sexismo, o preconceito de idade e outras formas de discriminação estrutural e maus-tratos os quais têm sido associados a maiores riscos de violência sexual e traumas, bem como a problemas resultantes de problemas físicos, saúde mental e bem-estar geral.
Etarismo: exclusão social extrema
As mulheres mais velhas enfrentam frequentemente o dilema de tentar mascarar os sinais de envelhecimento ou envelhecer “autenticamente”, mas deparam-se com o estigma, o preconceito e a discriminação acrescidos de julgamentos e invisibilização. Isto ocorre principalmente com as mulheres da quarta idade que “não conseguem” envelhecer “com sucesso” e acabam ficando sujeitas a uma exclusão social extrema.
O argumento apresentado é que as experiências de não reconhecimento das mulheres mais velhas são fontes profundas de injustiça social. Muitas mulheres idosas falam que experimentam uma perda de visibilidade à medida que envelhecem. Esta é uma questão importante, uma vez que o reconhecimento (estatuto cultural e a visibilidade) é essencial para a justiça social.
São vários os espaços que isso acontece. Muitas mulheres desta faixa etária sentem-se malvistas como objetos de indesejabilidade sexual; “ignoradas” nos espaços de consumo, sociais e públicos; ou ainda, são relegadas ao papel de ser “avó”, isto é, vistas apenas através das lentes da suposta avó velhinha que deveria estar fazendo tricô ou ser tratada com condescendência e erroneamente consideradas incompetentes ou inaptas ao mercado de trabalho a vivência de sua sexualidade devido a sua idade.
Mulheres mais velhas também tem prazer! Isso mesmo! Não significa que ser mais velha necessariamente há uma sentença de não ter orgasmo, desejos e prazeres.
Por isso, vamos celebrar o dia de todas as mulheres! Vamos celebrar as mulheres de todas as idades e sobretudo respeitar e visibilizar os corpos de mulheres mais velhas e deixá-las envelhecer como bem elas quiserem! Chega de silenciamentos.
Alessandra Diehl
Psiquiatra, membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Drogas (ABEAD) e membro da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPsiq). @dra.alessandradiehl
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Foto: Freepik
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