Por Alessandra Diehl e Rogério Bosso (*)
Nos últimos anos, o Brasil tem enfrentado mudanças notáveis em seu panorama matrimonial, conforme indicado pelos dados mais recentes do IBGE. Observa-se uma tendência de queda na taxa de casamentos, com apenas um modesto aumento de 4% registrado em 2022, contrastando com a média anual de 1.076.280 casamentos entre 2015 e 2019. Paralelamente, há um expressivo aumento no número de pessoas solteiras, que atingiu a marca de 81 milhões, ultrapassando aqueles que optam pelo casamento como forma de união, somando 63 milhões. Essa transformação tem levantado questões sobre um conceito emergente: a agamia. Derivada do grego “ágamos”, que significa “sem casamento”, a agamia representa uma nova abordagem nas relações interpessoais, caracterizada pela escolha consciente de permanecer solteiro ou não comprometido.

Quais fatores contribuem para a agamia?
Diversos fatores contribuem para a ascensão da agamia. Mudanças nos valores e prioridades da sociedade brasileira têm promovido uma reavaliação do papel do casamento na vida moderna. O foco crescente na realização pessoal, carreira e liberdade individual tem levado muitos a questionar a necessidade de uma parceria para uma vida satisfatória. Além disso, o aumento da expectativa de vida e a crescente aceitação social da solteirice têm desmistificado a ideia de que o casamento é a única fonte de felicidade e realização. Cada vez mais, as pessoas encontram satisfação e plenitude em relações não convencionais, como amizades íntimas, parcerias não românticas e até mesmo a jornada de autoconhecimento solitária.
Agamia seria uma nova “modinha”?
Contudo, a agamia não está isenta de críticas e desafios. Enquanto alguns veem a escolha de permanecer solteiro como um ato de liberdade e autonomia, outros questionam sua sustentabilidade emocional e social a longo prazo. A falta de apoio institucional e políticas voltadas para as necessidades dos solteiros, como moradia acessível e proteção legal, são frequentemente apontadas como obstáculos significativos para aqueles que optam por esse estilo de vida.
Diante desse cenário, fica claro que a agamia não é apenas uma moda passageira, mas sim um reflexo das complexidades e transformações da sociedade contemporânea. À medida que mais brasileiros adotam essa forma de viver, torna-se essencial a criação de espaços de diálogo e políticas inclusivas que reconheçam e respeitem a diversidade de escolhas nas relações humanas.
(*) Alessandra Diehl é psiquiatra, doutora em Sexualidade Humana, membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Drogas (ABEAD) e membro da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPsiq). @dra.alessandradiehl
Rogério Bosso é psicólogo, especialista em Dependência Química e Saúde Mental. Coordenador do curso de Psicologia do Unisal Campinas
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