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Sobreviver à separação é necessário e deixar o outro ir sem amarras é fundamental. Temos visto muitos casos em que as pessoas não se conformam com fins de relacionamentos e causam tragédias

Aceitar a separação e seguir

Por Wilson Moreira (*)

O divórcio ou a separação é um momento difícil. O centro em torno do qual nossa vida foi definida é subitamente dilacerado. É como se alguém nos desse um quebra-cabeça, sem a metade das peças, e ainda esperasse que montássemos um todo coerente. Algo incomodou ou marcou profundamente a relação e o divórcio restou como único caminho, entretanto a afeição permanece pelos momentos vividos juntos.

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Na atualidade, cada vez mais as pessoas estão buscando relações em que possam ser elas mesmas, sem se sentir limitadas ou pressionadas a se moldarem a um modelo pré-determinado. Isso significa que, quando uma relação não é mais satisfatória, as pessoas estão mais dispostas a terminá-la.

Além disso, outra tendência é a valorização da busca por uma vida mais satisfatória. Com o acesso a informações e possibilidades cada vez maiores, as pessoas estão buscando uma vida que faça sentido para elas, em vez de se conformarem com o que é considerado “adequado” ou “esperado”. Isso significa que, quando uma relação não traz mais felicidade ou realização, as pessoas estão mais dispostas a seguir em frente e buscar novos caminhos.

Separação é um purgatório

Mesmo quando se opta por seguir novos caminhos é difícil seguir após o divórcio, pois o casamento subsiste num tempo contínuo que envolve passado e futuro num presente sem limite. Pode-se pensar no passado, mas sempre em termos de presente; “olhe como éramos antes, veja como somos agora.” O divórcio muda o futuro, roubando-o de sua perspectiva, também muda o passado. De repente fotos, objetos e lembranças ganham significados diferentes. A separação é um purgatório, não estamos aqui nem lá. Já não temos noção do lugar para onde estamos indo, e muito menos de onde estivemos.

A separação é um porão inundado de dor, onde passamos meses mergulhados, lutando para não nos afogar, até descobrirmos que não se pode fugir da realidade da perda. Precisamos imergir nessa perda, nadar nela e absorvê-la para suportar os períodos de insegurança e autocensura. A tudo isso devemos sobreviver, além de nos desprendermos de uma vez por todas, da vida que pensávamos ter e do futuro que ela envolvia, para que possamos vislumbrar a chance que o mundo nos oferece que o sofrimento venha um dia a ser substituído pela doçura e novas esperanças.

Toda separação ou divórcio deve ser vivido também pela perspectiva do outro. Aquele outro a quem num certo momento confiamos e nos entregamos. O respeito ao outro e sua individualidade precisam de toda forma ser levado em conta, apesar de todo sofrimento. É preciso se conformar ao fim de uma relação que, por qualquer motivo deu errada, e seguir, permitindo que o outro também siga. Nada justifica não aceitar o fim quando o outro não quer mais. Se for preciso busque ajuda profissional: Terapia é uma ferramenta importante para lidar com as questões emocionais que surgem da separação.

Casos podem virar tragédias

Sobreviver à separação é necessário e deixar o outro ir sem amarras é fundamental. Temos visto muitos casos em que as pessoas não se conformam com fins de relacionamentos e causam tragédias. Destroem vidas alheias e as próprias pelo sentimento doentio de posse. Não pode haver mais espaço para essas condutas na sociedade. Evoluímos muito como seres humanos e precisamos evoluir ainda mais no respeito e na solidariedade, apesar de todos os nossos sofrimentos pessoais. É preciso deixar ir em paz para seguir em paz novos caminhos.

(*) Wilson Moreira é policial penal, cientista social e poeta em Londrina

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