Por Suzi Bonfim
Calor, frio, chuva, vento, geada, seca, enchente e baixa umidade do ar, tudo acontecendo no Brasil, no mesmo dia. Em 2023, estas variações climática estão ainda mais frequentes e distribuídas pelos quatro cantos do país com muita intensidade. São reflexos do El Niño no mundo inteiro e que sentimos aqui em proporções menores se comparadas a outros países.
Não quero me ater a questões técnicas ou parecer muito simplista, mas cada vez que sinto o calor ou o frio, de uma hora pra outra, me pergunto o que, individualmente, o ser humano faz para tentar amenizar a reação da natureza contra as agressões ao meio ambiente, ao ambiente inteiro, literalmente.
Falo de mim e de você, dos pequenos gestos dentro de casa para separar o lixo orgânico do seco e do que pode ser reciclado. Alguma vez você parou pra pensar o que acontece com a embalagem que você joga no mesmo lixo onde estão os restos de comida? O volume que o lixo seco representa no total do que você joga fora? Faça a coleta seletiva e vai se surpreender.
Sempre ouço: aqui não tem coleta de lixo reciclado. Realmente, é uma pena, que a taxa de reciclagem no Brasil seja reduzida. As estimativas em relação ao tipo de material variam, mas, em geral, a taxa de reciclagem fica em torno de 3% a 10% dos resíduos sólidos produzidos. Uma das exceções é para a reciclagem de latas de alumínio, com taxas em torno de 98%. No entanto, materiais como plástico e papel têm taxas de reciclagem mais baixas.
É possível ampliar o índice de coleta de resíduo sólidos?
Ações bem sucedidas e acessíveis de coleta seletiva envolvendo os setores público, privado e a sociedade dão resultados. Eu relato, tenho duas, em especial, que me dão esta certeza, mas apenas uma sobrevive e se mantém há três décadas.
Uma experiência foi em Cuiabá, MT, entre o final dos anos 1990 e meados dos anos 2000. Um mecanismo simples atraia a população para reciclar garrafas pet e latas de alumínio. Era uma parceria entre a empresa de energia elétrica do estado (hoje privatizada); uma empresa de coleta de material reciclado e uma rede de supermercados que recebia as garrafas e latas de alumínio e convertia em créditos para os clientes.
LEIA TAMBÉM
A empresa de material reciclado repassava aos condomínios uma espécie da sacolão onde as garrafas pet eram depositadas e quando estavam cheios, eram recolhidos e emitidos os créditos, que poderiam ser usados para abater o valor na conta de luz ou na aquisição de produtos do supermercado.
Como síndica, por dois anos, no condomínio, vi dezenas desses sacolões cheios com que era recolhido depois da festas nos quiosques. Com o crédito em troca do material reciclável, o condomínio comprava café para os funcionários da administração e limpeza.
Mudou o governante, a ação acabou, ninguém reclamou e, agora, resta a mão de obra das cooperativas de catadores de material reciclagem que, mal ou bem, preenchem a lacuna no processo de separação e coleta a cargo do Poder Público municipal.
A ação mais eficaz que eu conheço envolvendo a administração pública e a sociedade existe há 34 anos, em Curitiba, na capital do Paraná. Era repórter na TV Iguaçu (SBT) na época, quando a campanha da prefeitura foi lançada para dar início à coleta de resíduos sólidos separada do comum e do orgânico.
Tenho a propaganda da campanha, como aquelas do Bombril e Choquito, marcada na memória. Primeiro, a população passou pelo aprendizado de como e o que deveria ser separado com um jingle e identidade visual focado na palavra: SE-PA-RE .
Depois disso, nos bairros que teriam este processo de coleta implantado, os moradores receberam datas e horários da programação da coleta seletiva. Isso foi em outubro de 1989.
Falta educação, investimento e infraestrutura
Não tenho informações sobre o mesmo de coleta em outros municípios no estado do Paraná, onde vivo hoje e não vejo nas cidades por onde ando medidas tão eficazes quanto esta para evitar que o resíduo sólido – plástico, madeira, ferro, vidro – vá parar nos aterros sanitários misturado ao lixo comum.
Não sou tão eficiente quanto gostaria na separação do resíduos que podem ir para a reciclagem. Mas, tenho em casa onde colocar o sólido, orgânico e rejeitos, separado. É um processo de aprendizado e atenção com o mundo em que a gente vive.
Os desafios da reciclagem como a infraestrutura inadequada, falta de investimentos, baixa conscientização da população, falta de coleta seletiva em muitas áreas e dificuldades na gestão de resíduos só serão vencidos quando houver um triplo esforço para educar a população, implantar os processos e mostrar os resultados na prática na geração de emprego e renda e menor impacto no meio ambiente.
Suzi Bonfim
Jornalista, formada na UEL, por quase 30 anos morou em Cuiabá -MT. De volta a Londrina-PR, vive a fase R de reencontros e renovação, respirando novos ares. Escreve sobre o que acredita por um mundo melhor. Instagram @suzi.bonfim
(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE
fotos: freepik