O vulcão Etna e seus vinhos DOC

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Por Edmilson Palermo Soares

Os gregos ocuparam a Sicília, entre 1800 e 500 A.C, trazendo com eles a viticultura e as técnicas de vinificação. Introduziram novas uvas, entre elas a “Grechetto” (conhecida como Grecanico), encontrada em algumas áreas da região do Etna.

Na Antiguidade, os vinhos sicilianos eram bastante conhecidos e sua principal característica era a doçura.

A relação do vinho com a Sicília sempre foi muito importante. Os primeiros habitantes da ilha eram os Sicels, adoravam o Deus do vinho Adrano. Os gregos oravam para Dionísio e os romanos para o Deus Baco.

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O Etna e seus vinhos de uvas autóctones são frequentemente citados na mitologia grega como meios encantadores de cura, relaxamento e diversão.

Após a queda do império Romano, a vitivinicultura permaneceu dormente e somente no Renascimento a produção de vinhos foi retomada com força.

Dentre as regiões que se destacam na produção de vinhos, encontra-se a que circunda o famoso e impressionante vulcão Etna. Ele é o maior vulcão ativo da Europa, com área duas vezes maior que a do Vesúvio, inspirando poetas e lendas mitológicas e é um dos principais destinos turísticos da Sicília e de toda a Itália.

Solo da região do Etna é ideal para cultivo

O solo vulcânico do Etna é rico e ideal para os mais diversos cultivos, incluindo de uvas. As terras ao redor do Etna tornaram-se uma das grandes regiões produtoras de vinho da Sicília. As vinícolas próximas ao vulcão têm uma produção predominantemente dedicada às uvas nativas.

No lado norte do vulcão, elas encontram sua expressão ideal, já que o clima é mais parecido com o do norte da Itália. Os verões são quentes e secos, os invernos são frios e rigorosos e as uvas são expostas a uma grande amplitude térmica nas temperaturas diurnas e noturnas.

Entre as regiões italianas que se destacam na produção de vinhos, a região do vulcão Etna se destaca. O solo do lugar é rico e ideal para diversos cultivos
Imagem gerada por IA Bing

Os vinhos do Etna são alguns dos mais exclusivos da Itália, ainda mais com a busca em ascensão de vinhos de terroir mais extremo e os vinhedos de alta altitude.

O vinho do Etna no início não era tinto ou branco, era simplesmente  vinho com todas as uvas misturadas.  Foi somente a partir de 1850 que Barone di Villagrande introduziu a vinificação separada das uvas vermelhas e brancas.

As variedades das uvas do Etna são a Nerello Mascalese, Nerello Cappuccio, Carricante, Catarratto e Minella Bianca.

A Nerello Mascalese é típica uva Etna Rosso, originária da Catânia. Seu cacho lembra o da Pinot Noir, que também apresenta pequenas frutas silvestres e uma casca roxa profunda com reflexos rosados ​​na maturação. Mantêm altos níveis de acidez, florescem em climas mais frios e são difíceis de cultivar. Apresenta peles mais grossas e pode produzir um vinho muito mais tânico com aroma e sabor distintos.

A Nerello Cappuccio é uma uva de mistura menor adicionando cor e fruta ao Etna Rosso. Quase foi extinta mas recuperou-se bem. Sua principal característica é a cor  rubi brilhante, levemente frutada. Uma uva para adicionar charme aos vinhos da região.

A Carricante, é a principal uva branca da região. É de fácil cultivo, porém, difícil de transformar em um bom vinho. Como Etna Bianco, é bem aromática e possui grande mineralidade.

Milena Bianca – Reprodução da internet

A Catarratto tem uma  elevada acidez que influencia no aroma fresco com notas olfativas de flores brancas. É uma das principais uvas do vinho Marsala (que falaremos em nosso próximo artigo).

A Minella Bianca é uma variedade rara e quase exclusiva das encostas do Etna. O nome Minella vem de peito pequeno, no dialeto siciliano, já que as bagas têm semelhança com a forma mamária.

A DOC de Etna foi estabelecida em 1968 e está situada nas encostas norte, leste e sul do vulcão sendo composta pelas seguintes comunidades: Biancavilla, S.Maria di Licodia, Paterno, Belpasso, Nicolosi, Pedara, Trecastagni, Viagrande, Aci S. Antonio, Acireale, S. Venerina, Giarre, Mascali, Zafferana, Milo, S. Alfio, Piedimonte, Linguaglossa, Castiglione, Randazzo.

Etna DOC Rosso/Rosato: compreende 80% de Nerello Mascalese, 20% de Nerello Cappuccio o Mantellato e até 10% de uvas não aromáticas, inclusive brancas.

Apresentam uma coloração vermelho rubi intensa e tons de romã. Possuem forte aroma frutado, com predominância de frutas vermelhas, cereja, licor de amêndoa, ervas e algo balsâmico ou mentolado também aparecem em seus aromas. O retrogosto remete ao alcaçuz e revela seu sabor seco, tânico, persistente e harmonioso, com um corpo forte. A refrescância no nível de acidez e os taninos elevados mostram o potencial para um bom envelhecimento, mesmo quando jovem. Seu bouquet remete a vinhos nobres e consagrados como o Borgonha e o Barollo. Com interessante combinação entre elegância e potência. Em geral, apresenta teor alcoólico mais elevado, refletindo o clima da região e seu perfil de ser uma uva de colheita tardia.

São ótimos para almoços e jantares leves, não sendo indicados para acompanhar pratos muito ricos, carnes assadas ou churrasqueadas. Experimente peito de pombo ao molho de vinho tinto, cogumelos selvagens e beringela ou, quem sabe, um linguini com tomate e amêijoas. Também harmoniza com queijos duros ou de cabra, salames e outros embutidos, azeitonas, pizzas.

Etna DOC Bianco deve ter o mínimo de 60% de Carricante e até 40% de Catarratto. Podem ser incluídas 15% de uvas não aromáticas como Minnella e Trebbiano.

Para Etna DOC Bianco Superiore, 80% de Carricante. Catarratto ou Minnella, até 20% e as uvas devem ser provenientes da área de Milo.

Difíceis de se definir, são na maioria aromáticos. Toranja, casca de limão, maçã, ervas e amêndoas são bem específicos em vinhos com a predominância da Carricante. A Catarratto desempenha um papel menor na mistura, acrescenta um toque floral aos vinhos que variam de magros e salínicos a concentrados e estruturados, com uma base de intensa mineralidade. Podem ainda apresentar notas de mel e textura cremosa, caso as uvas sejam colhidas posteriormente.

Harmonizam com pratos leves como peixe branco grelhado com limão, ceviche de pargo, salada de repolho de maçã e erva doce ou salada de atum e alcaparras.

Etna DOC Spumante tem 60% de Nerello Mascalese e até 40% de outras variedades Sicilianos não aromáticas aprovadas pela autoridade competente.

Fiquei com água na boca. E vocês?

Um brinde!

Edmilson Palermo Soares

Enófilo, sócio proprietário da Confraria da Taverna, loja de vinhos e espumantes que traz novas experiências no mundo do vinho, estudioso e entusiasta, com conhecimento prático provando vinhos de mais de 20 países e diversas uvas desconhecidas do público em geral.

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