Por Edmilson Palermo Soares
Quando falamos sobre a uva Malbec, a primeira coisa que vem a cabeça é a Argentina, mas a uva não é originária de lá.
Reza a lenda que um imigrante húngaro chamado Malbek descobriu a variedade em Cahors, sudoeste da França, a cerca de duzentos quilômetros de distância de Bordeaux. O nome da uva posteriormente foi adaptado para Malbec. A uva também é conhecida na região pelos nomes Côt e Auxerrois.
A uva Malbec chegou a Bordeaux, onde cresceu em popularidade, tornando-se uma das variedades tintas mais cultivadas na região e chegando a fazer parte do tradicional corte bordalês, junto com as uvas Cabernet Sauvignon, Merlot, Cabernet Franc e Carménère.
Durante a segunda metade do século XIX uma praga assolou os vinhedos de toda a Europa, a Filoxera. O pequeno inseto da espécie Daktulosphaira vitifoliae, originário da América do Norte, atravessou o Oceano Atlântico e foi detectado em vinhedos da França em 1853.
Em pouco tempo, a Filoxera espalhou-se por vinhedos de toda a Europa, destruindo as vinhas e levando a ruína a indústria vinícola francesa.
Estima-se que, em 1878, quinze anos após o início da epidemia, cerca de 40% de todos os vinhedos tenham sido perdidos. Variedades mais delicadas e suscetíveis à pragas, como é o caso da Malbec e da Carménère, foram algumas das mais afetadas.
A uva Malbec chegou à Argentina dez anos antes do início da epidemia de Filoxera. A variedade desembarcou no país no dia 17 de abril de 1853, pelas mãos do agrônomo francês Michel Aimé Pouget se adaptando excepcionalmente bem ao clima e terroir da Argentina.
A combinação de altas altitudes, dias quentes e noites frias, permitem que a variedade se desenvolva de forma saudável, dando origem a vinhos de excelente qualidade.
Uma grande geada em 1956, na França, fez com que os únicos vinhedos originais, aqueles plantados em pé-franco, fossem os argentinos. Os viticultores argentinos viram uma grande oportunidade de produzir vinhos Malbec de alta qualidade.

Em 1997, foi introduzido o primeiro Malbec argentino envelhecido em barris de carvalho pelo produtor Nicola Catena que logo tornou-se um grande sucesso mundial. Os vinhedos de Malbec na Argentina cresceram cerca de 173% em vinte anos, passando de dez mil hectares em 1990 para trinta mil hectares em 2010.
Hoje, a Malbec é praticamente sinônima com a Argentina, ocupando mais de quarenta mil hectares de vinhedos desde Salta à Patagônia, mas especialmente Mendoza, que concentra mais de 80% da produção de Malbec argentino.
A Argentina é a maior produtora de Malbec do mundo, com cerca de 75% de toda a produção mundial.
Depois, em número bem menor, está a França. Outros países que produzem vinhos Malbec são Chile, Itália, Espanha, África do Sul, Nova Zelândia, Austrália, Estados Unidos e algumas inciativas aqui, no Brasil.
Os vinhos produzidos com ela são muito versáteis, e podemos encontrar vinhos frutados, amadeirados, encorpados, complexos, marcantes, roses, espumantes leves e até branco. Sim branco! Uvas tintas podem produzir vinhos brancos (falaremos disso em outra ocasião).
Em Mendoza, o vinho tem coloração bem escura, com expressão mineral, frutas negras, especiarias doces ou floral.
As regiões de Salta e Catamarca produzem um vinho de personalidade marcante, com aromas de frutas vermelhas e negras maduras, pimenta e pimentão, taninos firmes, mas elegantes.
Os rótulos produzidos na região da Patagônia têm como características serem mais moderados, mais frescos, de aromas de frutas negras maduras e toque mineral marcante.
Na França, região de Cahors, os vinhos são de cor densa, frequentemente com maior acidez natural, com aromas de violetas, frutas negras, baunilha e especiarias. Misturados com a uva Tannat podem evoluir por mais de 15 anos em garrafa.
No Chile, os vinhos são mais encorpados, ácidos e com mais taninos que os argentinos. É comum encontrarmos rótulos produzidos com blends (mistura) com Cabernet Sauvignon, Carménère ou Syrah.
O tanino dos vinhos Malbec faz com que eles sejam companhias perfeitas para pratos à base de carne vermelha, principalmente as mais gordurosas, como costela e cordeiro.
Também são ideais para harmonizar com churrasco, massas com molho vermelho recheado, pizza calabresa ou risotos com linguiça ou carne seca.
Escolha a sua opção preferida, pegue um vinho Malbec, e vamos comemorar.
Um brinde a todos.
Edmilson Palermo Soares


Enófilo, sócio proprietário da Confraria da Taverna, loja de vinhos e espumantes que traz novas experiências no mundo do vinho, estudioso e entusiasta, com conhecimento prático provando vinhos de mais de 20 países e diversas uvas desconhecidas do público em geral. Me siga nas redes sociais: no Instagram @contaverna, Facebook Confraria da Taverna e Linkedin
Foto: Reprodução da internet